Artigo, Percival Puggina - Prisão de Lula será a viuvez política de FHC
Se desconsiderarmos os respectivos conceitos de democracia,
seremos obrigados a concluir que o conflito entre PT e PSDB é jogado para o
auditório. O dia 7 de março, por exemplo, veio com carimbo na mão para
certificar tal fato. No site da Folha, blog do Fernando Grostein Andrade, em
longa entrevista, Fernando Henrique Cardoso fala sobre tudo, inclusive, em dado
momento, sobre aquilo que é tema deste
artigo: a relação entre PT e PSDB:
Se tivéssemos mais capacidade de diálogo, teria sido
melhor. Não considerar como inimigo. Lembro que estava nos Estados Unidos.
Tinha recebido um prêmio. O Zé Dirceu deu uma declaração que era melhor eu
cuidar dos meus livros e meus netos. Por quê? Achavam com razão, que o
competidor era o PSDB, mas não precisava tirar o tapete. Disseram uma porção de
coisas e tal. Mas é a vida política. Se eu pudesse reviver a história eu
tentaria me aproximar não só do Lula, mas de forças políticas que eu achasse
progressistas em geral”.
FHC está reconhecendo que PT e PSDB são almas gêmeas
separadas pela ambição inerente ao jogo do poder. Ele vê os dois partidos como
“progressistas” oferecendo a mesma mercadoria sob diferentes trade marks. Muda
o rótulo e o modo de comercializar, mas o conteúdo é igual. E não está
enganado. Até os acionistas, os investidores, são basicamente os mesmos. Desde
todo sempre, quando a situação se complica para o PT, FHC chega com uma sacola
cheia de panos quentes. O grão-tucano está sempre pronto para lastimar as
dificuldades de Lula com a Justiça. Quando o PT aparece envolvido em rolos,
para FHC nada é grave, nada exige reação, tudo se resolve, basta ter calma e
beber caldo de galinha.
É isso que explica a falta de energia tucana nos
confrontos com o PT.
É isso que explica a entrevista de FHC ao camarada Mario
Sérgio Conti da Globo News, logo após a grande manifestação popular do dia 15
de março de 2015, quando afirmou aos olhos e ouvidos da nação que os gritos de
“Fora Dilma” expressavam uma irritação, mas não uma intenção real...
Sim, sim, sempre houve algo de petista e um pigarro
socialista fabiano na alma e na garganta do acadêmico que governou o Brasil
durante oito anos. Lá atrás, na Constituinte de 1988, a esquerda do PMDB, onde
sentavam FHC e seus companheiros, deixou o partido e fundou o PSDB exatamente
por estarem mais próximos e articulados com o PT do que com o PMDB nas
deliberações de plenário. Ao cabo de seus dois mandatos presidenciais, FHC
preparou com carinhos paternais a entrega da faixa presidencial para o
companheiro e amigo Lula.
Omitiu-se nas eleições subsequentes. Assumiu calado o
papel de último pau do galinheiro retórico petista. Ofereceu-se em holocausto
aos que o atacavam. Tirou o casaco, a gravata e abriu a camisa para o
assassinato de sua reputação. E segue, agora, lamentando o afastamento político
dos “progressistas”? Sim, a prisão de Lula será viuvez para FHC.
Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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