Denis Lerrer Rosenfield - Loucura com método


      Se o PT sempre foi uma máquina produtora de versões, a prisão de seu Líder máximo apenas confirma este fato. Sempre atento à formação da opinião pública, é-lhe capital manter o seu protagonismo político. Sair de cena, significaria uma batida em retirada de difícil retorno.
      Acontece que Lula e vários de seus dirigentes foram condenados e, alguns, estão cumprindo penas em prisões. O comprometimento do partido com o crime tornou-se uma outra marca sua, com o mensalão e o petrolão sendo suas expressões mais visíveis. O partido da ética na política tornou-se o da criminalização da política, em uma equação em que salta aos olhos a contradição.
      Imagens contraditórias atormentam o partido. Como conviver com elas veio a ser uma questão maior. Várias alternativas fizeram-se presentes. Uma delas, a de uma verdadeira autocrítica e uma mudança de rumos propriamente socialdemocrata, foi das primeiras a ser descartada. Seu lugar foi ocupado por uma denegação de todos os crimes cometidos, acompanhada por um discurso de tipo revolucionário, em que abundam as radicalizações, com seus dirigentes abertamente defendendo o Foro de São Paulo em Cuba e a sanguinária ditadura de Maduro na Venezuela.
      O discurso do “golpe”, da “perseguição política” e contra a “direita e os conservadores” faz parte da estruturação desta narrativa. Lula preso tornou-se um ativo de preservação do próprio partido, em sua busca desenfreada por manter uma imagem pública palatável aos seus crentes e simpatizantes.
      Neste quadro, a prisão do ex-presidente é um fato propriamente político da maior importância. O aparente quebra-cabeças de seus advogados faz parte do jogo, visando a manter o apenado em cena. Não se trata de uma defesa jurídica, mas propriamente política. Os argumentos digamos “jurídicos” são apenas uma aparência que faz parte de uma lógica mais geral. Não se bate em juízes e promotores um dia sim e outro também se há verdadeira intenção de libertar o condenado. A estratégia seria outra.
      Alguns chegam a enxergar nestas atitudes aparentemente paradoxais uma espécie de “suicídio” do PT, vitimado que seria por suas contradições. Contudo, se adotarmos uma outra perspectiva, poderíamos ver a lógica do que surge como ilógico. E se o objetivo maior do partido fosse precisamente a sua própria conservação sob a ótica do longo prazo?
      Uma abordagem possível consistiria em considerar um posicionamento partidário voltado para o período pós-eleitoral, cujo relógio começaria a contar a partir do dia primeiro de janeiro de 2019.  Eis o cenário para qual o PT está se preparando.
      O partido já sabe que Lula não poderá ser candidato em 2018 por razões legais evidentes. A Lei da Ficha Limpa é clara a respeito. Até um estudante de primeiro ano de direito sabe disto. Não é necessária a contratação de nenhum grande advogado. Contudo, o discurso da “perseguição política” e de cerceamento de seus direitos eleitorais faz parte de um processo mais amplo de deslegitimação das próximas eleições. O partido está amealhando capital político.
      As chances de um poste escolhido no último momento são exíguas, apesar de alguns acreditarem ainda sinceramente nesta possibilidade. Em todo caso, tal crença contribui para que o partido continue coeso, algo que é da máxima relevância neste momento. Aparentemente, o PT está preocupado em ganhar esta eleição, quando na verdade visa a se posicionar enquanto oposição ao novo governo, dentro de um cenário institucional degradado. Cenário esse que lhe é de valia também em função do discurso revolucionário que está adotando. Regressa às suas origens.
      Neste cenário, não lhe interessa qualquer aliança que lhe dê substância eleitoral para outubro. Por exemplo, compor com o ex-governador Ciro Gomes não lhe convém, pela simples razão de que esse, eleito, seria por demais igual ao PT, vindo a aniquilar o próprio partido. O programa do candidato apresenta semelhanças profundas com o que foi defendido pelos governos Dilma e Lula II. Seria lógico apoiá-lo. Eleitoralmente faria sentido, partidariamente não. O fundamental para o partido reside em manter a sua hegemonia.
      Para o PT, faz muito mais sentido a eleição de Jair Bolsonaro. Isto por que sempre poderia dizer que o processo eleitoral não possui nenhuma legitimidade, na medida em que Lula não teria podido participar da eleição. Teria sido impedido graças a uma “perseguição política”, a um ato de “arbítrio” perpetrado por juízes e promotores apoiados pela “grande mídia”.
      Teria, ainda, do ponto de vista de sua narrativa, no interior de um quadro apresentado como institucionalmente degradado, o “benefício” de colocar-se como de oposição a um governo “militar”. Caso eleito, Bolsonaro não seria considerado como resultado de um processo constitucional, mas como produto de um conjunto de arbitrariedades da toga e dos meios de comunicação que teria propiciado a volta dos militares ao Poder.
      O comprometimento do partido com a verdade é nulo. Importa-lhe exclusivamente a sua versão, contanto que essa lhe seja útil na perspectiva da conquista do Poder. Não há nada ilógico no que o partido vem fazendo. A aparente desordem nas orientações partidárias segue também um método próprio de ordenação, tendo como eixo a estrutura partidária e a coesão de sua ideologia, por mais falsa e dissociada que seja da realidade.
      O PT nunca prezou tampouco a democracia. Essa lhe foi útil, sobretudo no período pós-regime militar, apresentando-se como uma nova alternativa de participação política. Discursos de uma suposta “democracia direta” abundaram naquele período.  Entretanto, o que importava para o partido era o uso que poderia fazer das instituições democráticas para a apropriar-se do Poder. Tratava-se do mero uso instrumental da democracia. Agora, o seu aviltamento veio a ser o seu complemento.

2 comentários:

  1. Solução mais adequada. Cassar o registro do PT. Basta aplicar a Lei.
    Tá bem. Eles logo registram outro.
    Só que perdem muito para se reorganizarem.
    Vale o mesmo para os outros partidos corruptos.

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  2. EXCELENTE TEXTO QUE DESMASCARA A FACÇÃO COMUNOFASCISTA FILIADA AO FORO DE SÃO PAULO PARA EVENTUAIS JUMENTOS AINDA ENCANTADOS (MORTADELAS)!

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