Artigo, Fábio Jacques - Jacaré não entra no céu

A santa inquisição canalheira vai acabar provando que a afirmação científica “jacaré não entra no céu porque tem a boca grande” é verdadeira.

A recente história do Brasil tem sobejos exemplos de gigantismo bucal de algumas pessoas, sendo o mais recente o bocagrandismo do Fabio Wajngarten.

Voltando rapidamente aos anos 1970 vemos a triste história de Wilson Simonal. Acuado por uma série de desmandos, Simonal disse, ou disseram que ele disse, que ele era informante dos militares e que já havia entregado o nome de vários colegas considerados subversivos. Ainda que tenha passado o resto da vida tentando provar que nunca havia sido informante, Simonal, por sua boca gigantesca, caiu em desgraça e, do pedestal mais alto em que reinava no showbusiness nacional, foi lançado no ostracismo do qual nunca mais se recuperou. Como cantor e showman Simonal até hoje foi insuperável. A boca grande o fulminou.

Um ano atrás, outro dono de uma boca megatérica, Sérgio Moro, crente que estava abafando porque seus falsos aduladores, loucos para lhe cortarem a cabeça, lhe diziam que ele era muito mais popular que o Bolsonaro, acreditou na falácia e a saiu do governo atirando contra aquele que nele confiara. De juiz de renome internacional, acabou blogueiro da desprezível revista Crusoé, onde eventualmente escreve textos que ninguém lê e que não provocam a menor repercussão, tornando-se um ser desprezado tanto por aqueles que um dia o aclamavam como herói quanto por aqueles que sempre quiseram ver a sua caveira. Hoje se presta ao papel de reverenciar aqueles que ele próprio condenou quando ainda lhe restava um pouco de bom senso e não demonstrava publicamente sua gigantesca abertura bucal.

E agora temos a deplorável figura do Fabio Wajngarten, que ninguém consegue imaginar o porquê de ter querido aparecer como um herói da vacina da Pfizer, cantar aos quatro ventos que teria liderado contra a incompetência do ministério da saúde, a negociação da compra dos imunizantes, e dar entrevista para uma ainda existente revista, a Veja que, ao que tudo indica, brevemente se tornará “Viram”.

Wajngarten mereceu ouvir do presidente da CPI Omar Aziz, a frase: “O senhor só está aqui por causa da entrevista [a VEJA].  Se não fosse isso, ninguém lembraria que você existia, não tem outra razão para estar aqui”. Deplorável.

Wajngarten sofreu ameaça de prisão com a qual eu concordo, não pelas besteiras e inconsistências de seu confuso depoimento, mas por sua crocodiliana boca. Faltou a presença na CPI do saudoso Chico Anysio para, travestido de Nazareno, gritar para o meu infeliz xará, “Calaaaaaaada”.

Pessoas há que só abrem a boca para dizer besteiras que acabam se voltando, qual bumerangue, contra elas próprias. Lastimável.

Já que fui obrigado a criar alguns neologismos para tornar mais compreensível o texto, e como já sei que serei criticado por um assíduo comentarista esquerdopata, vou agraciá-lo com mais uma sentença latina tanto a seu gosto:

“Quem vult deus perdere dementat prius” — “Deus primeiro enlouquece aquele a quem quer destruir”

E, finalmente, comentando a frase do Bolsonaro, tão exaltada na CPI de que, se você se transformar em um jacaré o problema será seu, considerada pelo caudilho alagoano como tendo sido decisiva para o genocídio das 425 mil vidas brasileiras, gostaria de acrescentar que, além de ser problema seu, será decisiva na hora de prestar contas ao Criador. Não esqueçam: boca grande não entra no céu.



Fabio Freitas Jacques. Engenheiro e consultor empresarial.


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