Existe um movimento bem articulado para conquistar a
legalização das drogas, hoje ilícitas, no Brasil. Ele se constitui num
verdadeiro Partido Pró-Drogas, que se manifesta de maneira planejada e utiliza
uma tática progressiva. O primeiro passo seria a descriminalização do uso,
depois a liberação da maconha, e, logo após, a legalização de todas as drogas,
deixando que o mercado regule seu uso. É uma cruzada que interessa a uma
pequena, mas influente, parcela da sociedade, e que conta com parte da grande
imprensa nacional. Essa parcela aglutina usuários que não querem correr riscos,
filósofos da liberdade individual acima de tudo e poderosos interesses
comerciais.
O argumento central, mas dissimulado, é o de que existe
uma molécula na droga, com efeito medicinal, e que por isso a droga é remédio e
deveria ser liberada. Nada mais falso.
No cigarro de maconha, existem mais de 400 substâncias
que causam danos à saúde. Uma delas, o THC, causa transtornos mentais agudos e
crônicos, desencadeia a esquizofrenia, incurável, e transtornos de humor como a
depressão, com risco maior de suicídio. É causa importante de interdição de
adultos jovens. Reduz reflexos, a memória, a inteligência e a capacidade de
trabalho. Seus usuários têm mais dificuldade de conseguir emprego e de chegar
ao curso superior. Quando conseguem, ficam entre os mais baixos salários
(conferir os estudos de Ferguson, D.M., 2013, e Ferguson D.M. & Broden,
J.M., 2008).
Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre mostrou
que a maconha é a droga mais envolvida em acidentes de trânsito com vítimas
fatais, o álcool ficou em segundo lugar. (Pechansky e colaboradores, 2010).
Além disso, a maconha causa dependência química, e quanto mais jovem o usuário,
maior o risco. A dependência química também é uma doença incurável, e no caso
da maconha, atinge 50% entre os que usam diariamente na adolescência (NIDA,
2010). Sem falar que a maconha usada hoje é uma variedade 10 a 20 vezes mais
potente que a maconha de 15 anos atrás. Segundo a UNDOC, órgão da ONU, 83% dos
dependentes de crack e heroína começaram nas drogas ilícitas com a maconha.
Estudos da Fundação Britânica de Pneumologia (2012) mostram que o cigarro da
maconha causa mais câncer de pulmão nos seus usuários que o de tabaco.
Um dos maiores psiquiatras brasileiros, Valentim Gentil
Filho, professor titular de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP
escreveu em artigo para a edição número 148 da Scientific American (de setembro
de 2014): "Um dos possíveis facilitadores dessa atitude liberalizante em
relação à cannabis é que seus efeitos agudos e transitórios sempre chamaram
mais a atenção que as ações permanentes e irreversíveis. Talvez por isso se
afirme que a maconha é menos prejudicial que o álcool e o tabaco. Na realidade,
a discussão sobre drogas ilícitas tenta transmitir uma mensagem de segurança
que as evidências absolutamente não justificam."
Assim, afirmar que fumar maconha pode ser tratamento é
uma manipulação absurda. Isso não impede, porém, que uma molécula da planta,
como o canabidiol, não possa ter efeito benéfico em alguma doença rara. Se
comprovado, ela deverá ser retirada da planta, isolada e utilizada para aquela
finalidade específica, como um comprimido ou líquido. É muito diferente de
fumar maconha "para se tratar".
Só para lembrar, a morfina é uma substância derivada da
papoula, a planta que produz a heroína. No entanto, é utilizada em casos
específicos de dor intensa. A bradicinina é uma substância com excelentes
resultados em hipertensão arterial e vem do veneno da jararaca. Mas ninguém
receita injeção de heroína para tratar dor, nem picada de jararaca para
"pressão alta"!
Uma coisa é usar determinada molécula de uma planta para
fins medicinais, outra coisa é usar isso como desculpa para se drogar. Usar
drogas nunca foi nem será tratamento para qualquer doença, muito pelo
contrário.
Quanto à exploração emocional do sofrimento alheio, para
empurrar de contrabando a legalização das drogas, mostra que o Partido
Pró-Drogas não tem nem terá limites éticos ou morais para conseguir seu
intento. Cabe ao restante da sociedade ficar alerta e contra-argumentar, quem
sabe também com um filme, mostrando a relação verdadeira e direta da maconha e
outras drogas com a destruição física e mental de milhões de brasileiros,
história que bem poderia ser contada por suas famílias devastadas pelo
sofrimento.
* Médico. Ex-secretário estadual da Saúde,ex-ministro do Desenvolvimento Social e deputado
federal (PMDB-RS)
Nada como a verdade para acabar com um mentira. São poucas as vozes corajosas. Parabéns ao Autor e ao Editor. A sociedade precisa de mais vozes corajosas.
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