Dagoberto Lima Godoy - A “pegadinha” da “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros”

O espírito cívico declarado pelos redatores da Carta lançada pela Faculdade de Direito de São Paulo não impediu que eles utilizassem uma das técnicas de manipulação mais características dos regimes autoritários, que de democracia nada tem. Misturar conceitos antagônicos como se coerentes fossem e sobre eles apoiar meias verdades e inverter significados: aí está o que tão bem fizeram e ensinaram figuras emblemáticas como Hitler, Stalin e Fidel Castro, entre outros, inclusive o carismático ex-presidiário que vem enganando tanto e por tanto tempo a brasileiras e brasileiros (quem sabe os visados destinatários da Carta).

De onde saíram as lorotas de que “nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo” e que “as urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis”, se na verdade processo e urnas estão reconhecidamente defasados em décadas, enquanto a tecnologia da informação (TI) evolui vertiginosamente?

Uma afirmação assim descaradamente falsa só pode ter como objetivo afastar a questão que de fato se impõe: por que tamanha resistência contra a adoção do voto escrito e auditável, já instituído por três leis brasileiras, depois derrogadas?  Para os redatores da Carta, insistir numa crítica com sólida base tecnológica – o software das urnas está defasado – seria “questionar a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito”! Invertem totalmente o sentido dos reclamos que se fazem justamente por aperfeiçoamentos necessários para garantir a lisura de eleições futuras. 

Não bastasse, a tal Carta taxa de “intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”, mas não deixa claro a quem imputa tais crimes. Aqui fica clara a manipulação (ou a pegadinha, em português do povo): primeiro, identificam o inimigo: aquele que critica as urnas eletrônicas sem voto impresso; depois, lançam novas acusações veladas, induzindo os incautos a ligá-las ao inimigo já apontado.  Que o poder da presidência, ameaçado e invadido pelo STF, seja visto como o invasor; que o agredido e quase morto seja apontado como agressor; que aquele que vem se mantendo fiel à Constituição, se torne suspeito de tramar golpes.

Assim, declarando-se “em vigilância cívica” e “independentemente da preferência eleitoral ou partidária”, embaralham as verdades e usam a conhecida técnica leninista: “Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é”. 

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* Cidadão brasileiro – CPF 0034456280-04

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