Iniciamos abril – ainda não oficialmente, mas já com essa sensação.
Hoje, o Boletim FOCUS mantém uma projeção de estabilidade segura, em linha com as manifestações de Galípolo e com a ata do COPOM, que não preveem grandes deteriorações no cenário macroeconômico de curto e médio prazo (2025 e 2026). Já 2027 merece uma observação mais complexa, enquanto 2028 ainda está no campo das incertezas, quase como um universo além de Nárnia.
A semana começa sob o impacto das imprevisíveis declarações de Trump, que, embora possam parecer voláteis, seguem um padrão coerente com os objetivos já expostos em sua campanha eleitoral.
Entre os pontos mais relevantes, destacam-se as colocações de Marcos Troyjo sobre dois fatores fundamentais: a força da economia americana e a necessidade de reposicionamento dos EUA no cenário econômico global, especialmente no financiamento monetário. O que ele chama de "Trumpulência" é um reflexo desse movimento.
O cenário é complexo, envolvendo desde aspectos geopolíticos até medidas tarifárias, mas o objetivo é simples. Scott Bessent, Secretário do Tesouro dos EUA e um dos mais habilidosos operadores do mercado, tem uma meta clara: equilibrar as contas públicas e garantir a "sustentabilidade" fiscal (termo que não aprecio particularmente). O foco imediato é reduzir o custo da dívida americana, atualmente entre 4,25% e 4,50%, (FED) um patamar insustentável quando somado ao déficit primário, que pode alcançar impressionantes US$ 2 trilhões. Para atingir esse equilíbrio, um cenário de quase recessão se torna inevitável – o que significaria queda no emprego, na atividade econômica e no consumo, inflado nos últimos anos pelos gastos massivos do governo Biden.
Nesse contexto, Elon Musk surge como um agente da “desintoxicação” do setor público, encarregado de um trabalho árduo para reduzir desperdícios. O processo de reestruturação do Estado está em andamento, mas, como todo "desmame", gera insegurança.
As tarifas impostas devem, sem dúvida, provocar recessão e aumento de custos. A questão é saber até que ponto essa estratégia não se tornará um remédio em dose excessiva – e, portanto, um veneno. Em 1930, políticas protecionistas semelhantes levaram o mundo a uma recessão monstruosa de mais de quatro anos.
Além disso, há promessas de cortes de impostos e, principalmente, a necessidade de reduzir custos internos, como os energéticos – o famoso “drill, baby, drill”. Soma-se a isso a pressão sobre Putin para resolver a questão da Ucrânia e o cenário ainda indefinido no Oriente Médio. Todo o restante é coadjuvante. O foco de Trump é reafirmar a liderança americana por meio do fortalecimento da produção e produtividade interna. Seu método é direto: ignora fóruns, conferências e acordos, partindo para a ação imediata. Resta observar e aguardar. A reação da China, Japão e Coreia já veio, em um comunicado de ação conjunta – e isso é positivo, pois permite a análise do cenário a partir de fatores e contrafatores concretos.
E o Brasil?
Tecnicamente, o país estará pouco exposto a impactos diretos e pode até se beneficiar da situação, já que tem déficit na balança comercial com os EUA e possui uma cesta de produtos competitivos no mercado global.
Mas, para aproveitar essa oportunidade, é essencial agir: sair das discussões políticas internas estéreis, corrigir a inversão de papéis entre Executivo, Legislativo e Judiciário e focar na solução dos problemas de gestão interna – a exemplo do que já ocorre no Banco Central.
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