Artigo, Fábio Jacques - A fábula do cordeiro repaginada.
Mais uma vez revisito a fábula de Fedro, o lobo e o cordeiro.
O lobo vermelho, coiote, saía todas as manhãs para fazer a sua caçada.
Depois de gastar as patas por longos anos atrás de algum animalejo desprevenido na paisagem desértica, descobriu que todos os dias um cordeiro ia beber água no pequeno riacho que teimava em se manter perene naquele ambiente infernal.
Tendo decorado bem o texto da fábula, postou-se em um confortável local correnteza acima e largou o papo morfético para cima do pequeno ser lanudo. Como o borreguinho não soube se defender, acabou passando desta para a melhor por ação das vorazes e famélicas mandíbulas da maquiavélica criatura lupina.
Na manhã seguinte, voltando como um criminoso ao local do crime, descobriu o lobo que outro cordeiro bebia tranquilamente como se nada tivesse acontecido. Como a encenação ainda estava viva em sua memória, repetiu o ato e devorou mais um cordeirinho.
Com o passar dos dias, o lobo foi descobrindo que sempre algum borreguinho iria beber água e deixou de caçar passando apenas a se dirigir diretamente ao riacho apanhar mais um desprevenido pet.
A facilidade levou o lobo a baixar a guarda, chegando até a adquirir um livro de receitas de pratos de carne ovina, indo do cordeiro no espeto ao espinhaço de ovelha com aipim. Sua vida virou um paraíso e pensou até mesmo em transferir sua toca para as margens do córrego a fim de não precisar gastar muita energia em sua caminhada.
Um certo dia, já bem cevado e preguiçoso, resolveu deixar para pegar o cordeiro numa hora mais propícia, à tardinha, quando o sol causticante do deserto já resvalava a se esconder atrás das dunas arenosas, evitando o calor e a ação dos nocivos raios ultravioletas. Achou que seria mais fácil e menos trabalhosa a tarefa de capturar sua ingênua presa em um ambiente com temperatura mais amena, e ao atacar o cordeiro, descobriu, e esta foi sua última descoberta, que o cordeiro não se encontrava ali. A quela era a hora da onça beber água.
Como por um passe de mágica, predador se transforma em presa e, pelo que se sabe, seu espírito perambula, até hoje, em abomináveis paragens infernais sendo permanentemente fustigado pelo demônio felino que o devorou em uma só bocada.
Pode até ser uma besteira esta fábula, mas tem um grande fundo de verdade.
Depois de décadas se fartando com o dinheiro público retirado compulsoriamente do minguado salário da maioria da população brasileira, o velho papo de que “te devoro, mas é para o teu próprio bem” e “esta dentada no teu pescoço dói mais em mim do que em ti”, não tá mais colando. A mamata está, ainda que tardiamente, acabando.
CHEGOU A HORA DA ONÇA BEBER ÁGUA.
Fabio Freitas Jacques. Engenheiro e consultor empresarial.
Artigo, Renato Sant'Ana - A quem interessa a vulnerabilidade do país?
"Se não houver voto impresso, não haverá eleições em 2022", disse Bolsonaro, errando na forma e tropeçando no conteúdo, mas com muito acerto em advertir para a grande farsa de uma eleição não auditável.
É no mínimo estranho que haja quem se oponha a mudar o sistema, como se os computadores da Justiça Eleitoral fossem absolutamente seguros.
Os crimes a seguir referidos provam que, não sendo auditável (hoje não é!), nossa votação em modo eletrônico jamais poderá ser considerada transparente nem, muito menos, confiável.
Há poucos dias, em 28/04/2021, hackers atacaram o sistema de computação eletrônica do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, TJ-RS.
Por meio de um ransomware (software malicioso - malware - que bloqueia o acesso a arquivos ou sistemas de um computador) foram criptografados criminosamente conteúdos como textos, imagens, modelos de documentos jurídicos e processos, inclusive dados sigilosos.
Segundo o CISO Advisor (um website dedicado à segurança cibernética, segurança da informação e ciberdefesa), criminosos pediram o equivalente a US$ 5 milhões em criptomoedas para fornecer as chaves que podem decodificar (desbloqueando) o conteúdo criptografado.
Há poucos meses, em 03/11/2020, hackers invadiram os "servidores" do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e criptografaram todos os processos em tramitação na casa e outros documentos, além de bloquearem o acesso às caixas de email dos ministros daquela corte.
Em 19/03/21, foi preso pela Polícia Federal o responsável pelo vazamento de dados de 223 milhões de brasileiros (sic). Ele já tinha sido preso antes e usava tornozeleira eletrônica por haver realizado, com outros bandidos, ataques cibernéticos aos sistemas do Exército Brasileiro, Senado Federal e, notem bem, Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mundo afora, a lista de crimes dessa natureza é imensa. Sites presuntivamente os mais bem guardados - inclusive NASA e Governo dos Estados Unidos - já foram invadidos por hackers.
O que falta para admitirem que nenhum sistema é totalmente seguro? Por que seria o nosso sistema eletrônico de votação o único inexpugnável?
O ataque ao TJ-RS visava a extorquir dinheiro. Mas o potencial ofensivo do cibercrime é muitíssimo mais grave quando tem um Estado por trás.
Em 28/05/2020, o governo alemão convocou o embaixador russo, Sergei Netschajev, a explicar um ciberataque ao parlamento do país (Bundestag) e aos serviços de mensagens da chanceler Angela Merkel.
O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha informou existirem claros indícios de que o ciberataque (executado cinco anos antes) foi praticado por um elemento que pertencia, à época, ao serviço de inteligência militar russo (GRU).
Conforme o website CISO Advisor, em 07/04/2020, a A BlackBerry Research and Intelligence Team apurou a atuação de cinco grupos chineses que, durante uma década, sem serem detectados, vinham invadindo principalmente (mas não apenas) a plataforma Linux.
Acontece que o Linux roda em todos os 500 supercomputadores mais rápidos do mundo e em 90% de toda a infraestrutura de nuvem. Além disso, 96,3% dos 1 milhão de servidores espalhados no planeta também operam com ele. É de se imaginar o quanto os espiões chineses já bisbilhotaram.
Os investigadores da Blackberry viram indícios de que os espiões são civis contratados pelo governo chinês, os quais cumprem a rotina de compartilhar ferramentas, técnicas, infraestrutura e informações entre si e com seus colegas do governo.
Tem ainda a Coreia do Norte, que financia seus programas de mísseis nucleares com dinheiro do cibercrime, conforme descreve relatório da ONU revelado em 10/02/2021. Mas China e Rússia, dois regimes totalitários, é que são as duas grandes hienas prontas a atacar nações debilitadas.
Aí, é preciso ser muito desinformado para não entender que esses países têm interesse no Brasil. E só um fedelho de grêmio estudantil acha que é teoria da conspiração quando se diz que as hienas têm lado nas nossas eleições e que, podendo, elegerão o seu candidato.
O que fica patente é que nosso sistema atual de votação está sujeito a intrusão tanto de agentes internos quanto de externos.
E uma conclusão é simples: se existe, como é óbvio, interessados em fraudar as eleições; se o atual sistema eletrônico de votação é vulnerável; então, até por uma questão de soberania nacional, é urgente criar as condições para tornar auditável o processo eleitoral.
Mas a solução não é o voto impresso, que, aliás, não tem chance de ser implantado. O jornalista Jorge Serrão já apontou um meio de, com baixo custo, "combinar voto físico com eletrônico, para que ambos sejam comparados", tornando a votação auditável e o processo transparente.
Escreveu Jorge Serrão: "Eleição 100% segura: Eleitor recebe o cartão do voto. Faz suas marcações. Passa o cartão numa leitora da urna eletrônica (A). Dado ok? Dedada na urna. Em seguida, deposita o cartão na urna física (B) para conferência. A tem de ser igual a B. Se for, eleição limpa, transparente."
Bolsonaro errou na forma. Embora o "conjunto da obra" torne óbvio o sentido das suas palavras, a literalidade deu azo a que os partidários da fraude eleitoral apontassem nelas ameaça de golpe. Não colou, claro.
Ademais, faria bem se deixasse a escolha do melhor recurso técnico para quem tem tempo, conhecimento e honestidade para resolver o problema.
O mérito do presidente está em trazer à baila uma inquietude que é de todos os brasileiros esclarecidos e honestos.
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
E-mail sentinela.rs@uol.com.br