Vaias no Amapá, um recado à velha política

Vaias no Amapá, um recado à velha política Por Renato Sant'Ana Em 14/01/2022, o senador David Alcolumbre (DEM-AP) teve um choque de realidade ao ser vaiado em sua base eleitoral, o Estado do Amapá. Ele tentava tirar proveito da presença do presidente Bolsonaro, que foi àquele estado para um evento de implementação da Infovia 00, um dos marcos do Programa Norte Conectado. Mas, quando a cerimonialista do evento, citando as autoridades presentes, anunciou seu nome, Alcolumbre tomou uma tremenda vaia. Será que, por fim, o povo do Amapá abriu os olhos? Há informações que, inclusive por negligência da extrema imprensa, escapam ao conhecimento da maior parte do público. Reportagem da CBN (03/02/2019) mostrou que, entre 2015 e 2018, Alcolumbre gastou mais de R$ 1,7 milhão com a cota de gabinete, a maior parte para divulgação da atividade parlamentar. Em abril de 2018, o vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques de Medeiros, pediu a cassação do mandato de Alcolumbre e seus dois suplentes de senador (um deles é Josiel Alcolumbre, seu irmão), alegando ilicitudes na prestação de contas da campanha de 2014. Agora vejam! No Supremo Tribunal Federal (STF), ele é processado em dois inquéritos por crimes eleitorais, contra a fé pública e uso de documento falso. Um deles (n. 4677) traz detalhes da denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal do Amapá, apontando irregularidades em sua campanha de 2014. E o outro corre em segredo de Justiça. Aí, em 2019, Alcolumbre se elege presidente do Senado. Logo dá uma entrevista ao Estadão (13/04/2019), deixando claro seu propósito de usar a presidência para barrar a CPI da Lava Toga (clamor quase generalizado) e engavetar qualquer pedido de impeachment de ministro do STF. Quer dizer, os ministros poderiam fazer o que bem entendessem, que, sob sua presidência, o Senado não cumpriria seu papel constitucional de receber e processar denúncias contra membros do Supremo. Em suma, Alcolumbre tem, contra si, processos que gostaria de trancar até a prescrição; e, quando presidente do Senado, empenhou-se em agradar os membros do STF, isto é, aqueles que poderão vir a julgá-lo. E isso é apenas um flash de sua trajetória como senador. O que terá ele feito como vereador e, depois, como deputado federal? A vaia indicaria que o povo do Amapá agora conhece e repudia o jeito de Alcolumbre fazer política? É bom ter esperança, mas é ruim ter ilusões! As massas gostam de político que diz o que elas querem ouvir, do tipo que tem lábia e que se insinua no papel de bonzinho (como Alcolumbre); e tendem a rejeitar quem fala com franqueza. Para o ser humano médio, uma falsidade doce é melhor do que uma verdade amarga. Antes mesmo de ser vaiado, Alcolumbre já considerava a ideia de desistir da reeleição como senador para concorrer a deputado federal, o que é possível com um número menor de votos. Mas sempre requer votos... Está nas mãos do eleitorado amapaense decidir se Alcolumbre vai permanecer folgado em Brasília ou se vai ter que arranjar um emprego. Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo. E-mail: sentinela.rs@outlook.com