Poucas semanas se passaram, mas o governo Temer já está
cambaleante. Recuo nas falas de inúmeros ministros, recuo na fusão do
Ministério da Cultura, as quedas de Romero Jucá e Fabiano Silveira, por causa
de vazamento de áudios, e outros tantos vacilos. Apesar de sua larga
experiência como parlamentar, presidente da Câmara e presidente do PMDB, Temer
não está lidando muito bem com a pressão do PT e seus militantes. Levando esse
cenário em consideração, qual é a probabilidade de Dilma Rousseff voltar a ser presidente?
A percepção de que os 55 votos já obtidos no Senado
representam uma margem pouco segura para garantir o afastamento definitivo de
Dilma é equivocada. Uma vez que analisamos os fatos, fica claro que a tendência
é de que a votação definitiva seja maior. Explico.
Recentemente, jornais noticiaram que senadores que
votaram a favor da admissibilidade do processo no Senado estão reconsiderando
seus votos. Um deles é o senador Romário (PSB-RJ). Romário, ao que tudo indica,
será candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Se eleito, com certeza
não conseguirá governar sem o apoio do PMDB, que controla o governo do Estado e
é a maior força política da Câmara Municipal. Parece pouco inteligente fazer um
inimigo desse tamanho em ano de eleição, não? Certamente, está não é a
estratégia de Romário. O que o senador está fazendo só faz sentido
politicamente se ele estiver tentando valorizar o próprio passe. E quando o
assunto é passe – não podemos negar – Romário é especialista.
Fora da Presidência, Dilma perdeu praticamente todo o seu
poder de barganha. Na disputa pelos votos na Câmara, o PT transformou a
república num verdadeiro balcão de negócios. A infinidade de cargos deixados
pelo PMDB fez com que políticos de nutriu a esperança de deputados de baixíssimo
clero de ocupar e indicar aliados para postos no Executivo com os quais apenas
sonhavam. Ainda assim, o governo petista sofreu a expressiva derrota de 367
votos a 137.
O fator Lava-Jato contribui para a queda de Dilma. As
investigações chegam cada vez mais perto de Lula, que é o principal líder e
articulador do PT. Segundo parecer do Procurador-Geral da República, Rodrigo
Janot, mesmo não exercendo diretamente o poder, o ex-presidente foi peça-chave
no escândalo. Os áudios que foram tornados públicos pelo juiz Sérgio Moro
deixaram claro o importante papel que Lula exerce na estratégia de
sobrevivência do PT. Sua prisão, ao que tudo indica, é apenas questão de tempo.
Uma questão que está sendo ignorada pelos próprios
petistas é o fato de que desgastar o governo Temer não significa melhorar a
imagem do PT. Vale lembrar que a presidente Dilma Rousseff atingiu níveis
históricos de rejeição e, caso ela volte ao poder, a população irá, mais uma
vez, lotar as ruas. E as ruas, como os últimos meses bem mostraram, são a
principal bússola para as decisões tomadas pelo Congresso. Há outros pedidos de
impeachment com diferentes fundamentos. Escapar do primeiro não significa
escapar de todos. Se Dilma voltar à Presidência, terá de agradar seus
movimentos sociais para sustentar seu governo, para isso, medidas
economicamente desastrosas são necessárias. Desastre na economia significa povo
na rua. E povo na rua...
O último e principal ponto é o de que um dos motivos
políticos cruciais para a queda de Dilma é a crise econômica. Com a equipe
absolutamente técnica montada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a
expectativa de melhora é gigantesca. Sabemos que, para o mercado, expectativa
de melhora significa melhora imediata. Assim que as reformas começarem a passar
no Congresso e a população sentir no bolso os primeiros sinais de melhora, o
retorno de Dilma torna-se impensável, pois, para derrubar Temer, o PT precisa
do apoio e engajamento de boa parte da população.
Conclusão: a probabilidade de Dilma Rousseff voltar ao
poder é baixíssima. A referência que seu governo deixou para a população é tão
ruim que basta Temer levar à frente uma política econômica razoável – e o
presidente interino possui um Ministério da Fazenda mais do que qualificado
para isso – para que se crie a impressão de que sua gestão é excepcional.
Melhor: o ajuste na economia colocará no PT o carimbo – bem merecido, diga-se –
de responsável pela crise e o deixará distante do poder por pelo menos mais dez
anos.
Apesar disso, precisamos permanecer atentos. O Brasil
aprendeu da pior maneira possível que o PT é capaz de qualquer coisa. Devemos
garantir que o partido permaneça para sempre na lata de lixo da História.