Se ninguém sabe explicar como é, me dou o direito de
especular a respeito. Gosto de contestar o Princípio da Autoridade e pensar por
mim mesmo.
O que é a vida? O que é o espírito? O espírito tem vida
própria? Qual a interdependência do corpo com a mente? Será o cérebro um grande
computador operado por alguma entidade espiritual?
Ninguém tem respostas definitivas para estas questões, e,
portanto, qualquer elucubração sobre o tema permanece válida.
Eu tenho minhas próprias ideias a respeito, e desde já
alerto que pouco estudei sobre psicologia e nada sobre psiquiatria. Minha
ignorância é praticamente absoluta.
Desconheço a originalidade destas ideias porque nunca
pesquisei a respeito, mas me parecem plausíveis e podem explicar muitas coisas
até hoje, para mim, obscuras. Se alguém conhecer algum autor que tenha
discorrido sobre o tema, por favor me indique.
Vamos lá.
O cérebro humano nada mais é que um processador altamente
sofisticado com velocidade de processamento quase infinita e memória capaz de
armazenar “zilhões” de informações. Para que funcione, o organismo tem que
estar vivo e contar com “alguém” que o comande. A interdependência entre a
máquina cérebro e o agente operador é total.
Agora a ideia, talvez um tanto quanto maluca: não há
apenas um operador para cada cérebro e sim vários. Não falo de TDI, mas de
entidades autônomas. Todos somos habitados por várias entidades. Na verdade,
somos múltiplos.
Estes operadores disputam entre si a predominância pelo
posto de controlador das ações o que leva a algumas situações peculiares:
Se um destes personagens for muito dominante, os demais
não conseguem se manifestar. A pessoa habitada por esta entidade muito forte,
sempre apresenta grande poder de decisão, não demonstra ter muita consciência
porque nenhuma outra entidade consegue contrapô-la, não tem muitas dúvidas
sobre o que faz ou decide fazer. Para ela não existem portas fechadas.
Quando duas ou mais entidades são igualmente dominantes,
a pessoa se torna indecisa. Passa noites discutindo consigo mesma, condenando-se
por atitudes tomadas e procurando se convencer de que agiu corretamente. Os
conflitos de consciência se devem aos embates entre as entidades dominantes que
ficam tentando desestabilizar umas às outras para tomar o controle das
operações. – Eu não devia ter feito ou dito aquilo. – Agora está feito. – Mas
não deveria ter feito. – Mas não dá mais para voltar atrás. – Mas devia ter
pensado melhor. E assim por diante.
Quando duas ou mais forem extremamente dominantes,
pode-se, eventualmente, observar a passagem do controle de uma para outra
manifestando-se nos conflitos conhecidos como múltiplas personalidades. Ora a
pessoa age de determinada maneira, ora age de forma completamente diferente.
Melanie Goodwin é um exemplo de convivência com múltiplas entidades
completamente diferentes entre si, com experiências próprias e até mesmo com
idades diferentes.
Há inúmeros casos nos quais algum trauma transforma
completamente a pessoa, mudando seu modo de agir ou revelando características
completamente desconhecidas.
Derek Amato bateu com a cabeça no fundo de uma piscina e
se tornou um grande pianista. Jason Padgett sofreu um golpe na cabeça em um
assalto e se transformou em um gênio matemático que visualiza equações
matemáticas e fractais em tudo o que olha. Ele tem uma habilidade única de
desenhar à mão figuras fractais sofisticadíssimas.
Algumas pessoas simplesmente sofrem um “estalo” e passam
a agir de forma diferente e a manifestar características até então
desconhecidas.
Algumas vezes, frente a uma situação inusitada, a pessoa
pode sofrer um bloqueio ficando como que paralisada em função da disputa entre
duas entidades que pensam de forma completamente diferente sobre o tema em
questão e que, não chegando a um acordo, paralisam as ações da pessoa.
Eventualmente alguma entidade externa pode passar a fazer
parte da coletividade interior assumindo momentaneamente ou até permanentemente
o controle das ações. São os casos de incorporações ou de possessões.
Dependendo das características da nova entidade dominante, a pessoa pode passar
a agir maligna ou benignamente. Às vezes é necessário praticar o ritual do
exorcismo para expulsar a entidade estranha. “Como é teu nome, perguntou Jesus,
e ele respondeu, meu nome é Legião, porque somos muitos”. Vade retro.
Quando nenhuma das entidades originais é predominante, a
pessoa demonstra características de falta de vontade própria. O dominante é
fraco, mas os demais são mais fracos ainda.
Em algumas situações é possível perceber a atuação das
diferentes entidades. Uma pessoa presa em um elevador pode passar a discutir
consigo mesma. Uma entidade diz que a pessoa tem que sair imediatamente do
ambiente fechado enquanto outra lembra que ninguém fica eternamente preso em um
elevador e que logo alguém o livrará desta situação. Pode até se ouvir uma
dizendo: calma, fica frio, logo se resolverá este problema, ao mesmo tempo que
outra fica insistindo que o problema é insolúvel e catastrófico.
Quando dramas de consciência assolam a pessoa, se a
entidade que se achar com mais razão disser à outra para se calar, o problema
se atenua e pode até ser resolvido. Dizer: agora está feito e não adianta
querer voltar atrás, portanto, cale-se, pode acabar com a insônia e devolver à
pessoa um sono reparador. Popularmente se diria que é ligar o “foda-se”.
Até mesmo os tratados de autoajuda parecem ser tentativas
de consolidar a dominância de uma determinada entidade. Convença-se de que você
pode, você é forte, você consegue alcançar tudo o que quiser. Você é o cara.
Não se deixe levar por “aqueles” que tentam jogá-lo para baixo.
Tudo isto pode ser uma perfeita bobagem fruto apenas de
uma mente imaginativa e ignorante, mas se olharmos sem paixão e com a liberdade
de quem ousa contestar a autoridade sobre o assunto, pode até fazer algum
sentido. E até mesmo apresentar uma explicação mais simples e razoável para
inúmeros fenômenos muito discutidos e nunca solucionados.
E, finalmente, resta a pergunta: quem somos nós?
Somos a manifestação de alguma ou de várias destas
entidades que são as operadoras do hardware que é o nosso cérebro e que, na sua
essência, formam o conjunto daquilo que conhecemos como nós, seres humanos
inteligentes, dotados de características peculiares e de vontade própria.
O autor é diretor da FJacques - Gestão através de Ideias
Atratoras e autor do livro “Quando a empresa se torna Azul – O poder das
grandes Ideias”.
http://www.fjacques.com.br - mailto:fabio@fjacques.com.br
Whatsapp: 9725 6254
De: Fabio Jacques <fabiofjacques@gmail.com>
Enviada em: terça-feira, 12 de novembro de 2019 12:06
Para: POLIBIO BRAGA <polibioadolfobraga@gmail.com>
Assunto: Seremos múltiplos?
Olá Políbio, bom dia.
Em anexo um texto elucubrativo sobre um tema
completamente diferente daqueles sobre os quais tenho escrito.
Estou entrando em uma seara que não é minha
especialidade, sobre a qual tenho compilado ideias talvez até próprias, e que
para mim fazem sentido. Posso estar dizendo uma grande bobagem ou até pode ser
que não esteja dizendo nada de novo.
Gostaria que lesses e, se achares razoável, publique-a.
Deixo ao teu critério, uma vez que deves ter mais
conhecimento sobre o tema do que eu.
Abraços.