Adriana Molha é fundadora da Go Digital Factory
O setor financeiro foi pioneiro do mercado Web 3. Afinal, tudo começou com o lançamento do Bitcoin e da tecnologia Blockchain. Desde então, o mercado foi desenvolvendo novas blockchains e diversas criptomoedas, que juntos deram início às finanças descentralizadas, também conhecida como DeFi. Porém, de uns anos para cá, outros setores do mercado estão descobrindo o poder disruptivo dos NFTs, Tokens, Blockchain e criando novos modelos de negócios inovadores, abrindo novas frentes de atuação e fontes de receitas.
Atualmente, muitos setores do mercado já utilizam tecnologias ou novas formas de pensar nativas da Web 3, em especial os setores de Varejo, Esportes e Mídia & Entretenimento, que estão liderando os maiores projetos da nova era da internet e possuem características em comum. Todos atendem diretamente o público consumidor e oferecem produtos que proporcionam experiências de auto expressão e pertencimento, que vão ao encontro de alguns dos principais conceitos da Web 3: propriedade, comunidade e identidade. Além disso, são setores inovadores, de rápida mudança e necessidade de adaptação, que precisam estar abertos para absorver e criar novas tendências e novidades.
Dentro desses setores, as marcas que estão se destacando na Web 3 são aquelas que conseguem se conectar com os seus consumidores e construir uma comunidade forte, seja com projetos de Metaverso, coleções de NFTs ou programas de fidelidade. A chave do sucesso é a construção de comunidade. Visto isso, faz sentido que sejam os setores de Varejo, Esportes e Mídia & Entretenimento os que mais têm despontado nesse novo mercado. As empresas relacionadas a esses três setores foram as que mais lançaram projetos na Web3, especialmente projetos de NFTs, Metaverso e Infraestrutura.
Varejo e Moda no Metaverso: Segundo pesquisa da NimoTV, 42% dos jogadores de games compram ativos digitais regularmente. Entre os entrevistados do estudo, o principal objetivo é deixar o avatar mais bonito. Esses ativos digitais são utilizados como uma forma de se posicionar dentro do jogo e são usados para transmitir uma mensagem de status entre os jogadores. O volume de compra desses ativos digitais é tão grande que o mercado é estimado em US$ 50 bilhões anuais.
A Nike é uma das marcas que mais se destacam dentro dos projetos de Web3. A empresa fundou a Nikeland, espaço no Metaverso dentro do Roblox. Também lançou coleções de NFTs e criou a plataforma Swoosh, com o objetivo de construir uma comunidade e co-criar produtos com seus consumidores. Marcas como Adidas, Prada, Burburry e Tiffany&Co também lançaram projetos na Web3, incluindo espaços no metaverso, coleções de NFTs e experiências imersivas. No Brasil, o case de mais sucesso é o da Reserva, que lançou uma coleção de NFTs e faturou mais de R$ 1 milhão nas primeiras 12 horas de lançamento, em abril de 2022. Atualmente, a marca possui outras coleções de NFTs e se destaca como um dos projetos de maior sucesso no país.
Mídia e Entretenimento: No Brasil, as iniciativas de projetos de Web 3 do setor de Mídia & Entretenimento ainda não são tão expressivas quanto no exterior. Marcas como Warner Bross, HBO, Fox, Marvel e DC lançaram projetos na Web 3, em especial, no Metaverso. A Netflix lançou uma campanha para o filme The Gray Man em parceria com o Decentraland. Já o Spotify estreou na Web 3 com uma coleção de NFTs que permite que os usuários detentores desses ativos possam ouvir playlists especiais. Essa novidade ainda não está disponível no nosso país.
Esportes na Web3: Os clubes de futebol estão estreitando seu relacionamento com os torcedores por meio dos Fan Tokens, ativos digitais (NFTs) registrados na Blockchain. Esses Fan Tokens oferecem ao torcedor a possibilidade de participar do fã clube do seu time, obter experiências exclusivas e até participar de votações de projetos. Os Fan Tokens funcionam como um programa sócio torcedor, mas com a diferença de que podem ser revendidos a um preço maior no futuro, se o ativo se valorizar. Todos os grandes clubes possuem programas de Fan Tokens, não apenas no Brasil, como no mundo todo. É uma categoria que faz muito sucesso, pois a sua comunidade é forte. O esporte tem o poder de fazer com que seus torcedores queiram apoiar seu time e pertencer à comunidade de uma forma apaixonada. E isso é um motor que impulsiona projetos desse tipo.
Apesar do seu rápido crescimento, é importante lembrar que a maioria desses projetos tiveram início em 2020 ou 2021. A Web 3 é um ambiente em construção e tudo ainda é muito recente. Não apenas as tecnologias estão se desenvolvendo, mas também o público consumidor está amadurecendo e criando oportunidades de novos projetos e melhorias a cada dia. As empresas estão lançando seus projetos e aprendendo com suas comunidades. A cultura da Web 3 está começando a tomar forma, mas ainda é um grande teste.
O fato é que as empresas que possuem projetos de NFTs, Blockchain, Tokens e iniciativas no Metaverso já saíram na frente, não apenas em termos de conquista de mercado, mas de obtenção de conhecimento, tanto intelectual quanto tecnológico. As empresas que estão desenvolvendo iniciativas de Web 3 já estão trazendo o conhecimento para casa, treinando seus times e se adaptando ao futuro. São essas organizações que vão criar os primeiros caminhos da Web 3 em seus mercados de atuação, estabelecendo assim uma conversa com a nova geração que está chegando. E isso é uma enorme vantagem.
Embora existam especulações sobre o desaquecimento da Web3 e do Metaverso, o mercado mostra exatamente o contrário. Todas as publicações e estudos das grandes empresas de consultoria indicam o crescimento desse nicho para os próximos anos. Apesar de fatores diferentes serem considerados para a realização dessas previsões, as pesquisas apontam para um crescimento vertiginoso da Web 3 e suas novas tecnologias.
Diante deste cenário, é difícil pensar em um setor que não esteja utilizando as tecnologias da Web 3 atualmente, seja em projetos de tokenização de ativos, utilização de blockchain para rastreamento da cadeia produtiva ou em meios de pagamento. As grandes companhias já estão com projetos rodando na Web 3: empresas de real state, consultorias, e-commerce, redes sociais. Existem iniciativas acontecendo em diversos setores da economia. Até o terceiro setor já está envolvido com projetos de Web3, tendo bastante destaque inclusive.
Por essa razão, para que as empresas possam emplacar projetos na Web3 de forma efetiva, é fundamental que os profissionais saibam utilizar essas novas ferramentas. No entanto, é necessário educar as pessoas sobre as tecnologias, novos modelos e estratégias de negócios que estão acontecendo na Web3. Quanto maior for o conhecimento, maior é a capacidade de avaliar oportunidades e assim desenvolver projetos que possam manter as empresas competitivas em seus mercados de atuação.
Além de atrair os setores tradicionais da economia, a Web 3 também conseguiu criar novos e promissores setores de mercado: Artes Digitais, Tokenização de Ativos, DeFi, dApps, Avatares Digitais, Gêmeos Digitais, Metaversos, DAOs, entre muitos outros. E isso é apenas o começo, afinal, todos os dias surgem novos produtos, serviços e modelos de negócios inovadores, acelerados pela rápida comunicação e senso de compartilhamento entre a comunidade Web 3. Ainda teremos muitas novidades por vir e as empresas que não estão participando deste universo já estão atrasadas.
*Adriana Molha é fundadora da Go Digital Factory, empresa que desenvolve soluções para educar pessoas sobre Web3, Metaverso e a Nova Geração de Tecnologias. Empreendedora serial e consultora de negócios, possui quatro empresas e é host do Podcast Amanhã Já Foi | Web3 for Business. Adriana é graduada em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e especialista em negócios, com MBA em Gestão Empresarial pela Business School São Paulo e MBA em Inovação e Capacidades Tecnológicas pela Fundação Getúlio Vargas.