Lula, o Chefe
Enfim, uma acusação direta, pública e formal: o
ex-presidente Lula é o chefe do Petrolão. Quem o afirma, com todas as letras, é
o Ministério Público Federal, em documento ontem expedido, a propósito da 24ª
fase da Lava Jato, batizada de Operação Aletheia.
A Lava Jato já está na 34ª fase, mas, ao que parece, já
tem a história completa há mais tempo. É o que revela a nota.
Lula, “além de líder partidário”, era, segundo o MPF, “o
responsável final pela decisão de quem seriam os diretores da Petrobras e foi
um dos principais beneficiários dos delitos”.
A nota entra em detalhes. Diz que Lula “recebeu valores
oriundos do esquema Petrobras por meio da destinação e reforma de um
apartamento tríplex e de um sítio em Atibaia, da entrega de móveis de luxo nos
dois imóveis e da armazenagem de bens por transportadora”. E mais: “Também são
apurados pagamentos ao ex-presidente, feitos por empresas investigadas na Lava
Jato, a título de supostas doações e palestras”.
Pode-se alegar que não há nada de novo na nota do MPF:
quase tudo o que está lá já foi transmitido por Willian Bonner, no Jornal
Nacional, há algum tempo. A novidade está na própria nota, que, com o timbre da
instituição, em documento formal, que equivale a uma denúncia, confirma o que
era veiculado como suspeita e justifica os piores temores que o ex-presidente
vinha exibindo.
Mostra que ele teve razões de sobra para pedir socorro à
ONU, assim como a ONU tem agora razões de sobra para não atendê-lo.
Os procuradores chamam Lula de mentiroso, com as
seguintes palavras: “Embora o ex-presidente tenha alegado que o apartamento não
é seu, por estar em nome da empreiteira (OAS), várias provas dizem o
contrário”. E relaciona os testemunhos: zelador, síndico e porteiro do prédio,
engenheiros, dirigentes e empregados da empresa que fez a reforma. E por aí
vai.
O esquema que Lula comandava, segundo o MPF, decorre de
um consórcio entre três partidos, PT, PMDB e PP, que indicavam os diretores da
Petrobras, que administravam a propina. Notícia velha? Sim, mas com sabor de
novidade, condensada em documento oficial.
Lula, como presidente, fez as nomeações e arbitrou os
percentuais distribuídos, ficando a parte do leão para seu partido. O esquema
continuou para além de seus dois mandatos, quando decidiu diversificar
atividades, tornando-se lobista de empreiteiras, obtendo, via BNDES,
financiamentos para obras faraônicas em países ideologicamente afins,
enriquecendo a si e aos parceiros.
O documento tem duas laudas compactas. E o que resulta de
sua leitura é uma indagação tão recorrente quanto as acusações que faz: por que
Lula ainda não acertou as contas com a Justiça? E ainda: por que o STF demorou
tanto a devolver o processo ao juiz Sérgio Moro? Ou por outra: por que insistiu
em tirá-lo de Curitiba, já que a nomeação de Lula para ministro de Dilma não
durou 24 horas? Com a palavra, o ministro Teori Zavaski.
Lula escapou do Mensalão, ainda que, também ali,
estivesse no comando das ações. Dispunha, porém, de sólido patrimônio político,
que não só o manteve impune como lhe permitiu reeleger-se e eleger e reeleger
sua sucessora, Dilma Roussef.
Mas já ali sofreu o primeiro arranhão moral, que não mais
cicatrizou. Ao contrário, a ferida inflamou-se e o contaminou por inteiro, incluindo
aí Dilma e o PT, extensões de seu organismo político – e, como ele, condenados
a sair da história pela porta dos fundos. Em agosto, pode se consumar o fim
desta história patética, que encerra a chamada Era PT, com a prisão de Lula e o
afastamento definitivo de Dilma Roussef.
O país vira a página e cuida de se reinventar por cima
dos escombros que o petismo lhe legou.