J. Então vamos lá. Interrogatório do réu, seu nome completo senhor Polibio? R. Polibio Adolfo Braga. J. Data de nascimento? R. 18/06/1941 J. Cidade onde o senhor nasceu? R. Blumenau, Santa Catarina. J. Nome da sua mãe? R. Maria Magdalena Braga J. Seu atual endereço? R. Rua Eça de Queiroz, 819, apartamento 502. J. Porto Alegre? R. Porto Alegre, sim. J. Senhor Políbio, está sendo acusado aqui de um crime de induzimento à homofobia. Eu vou ler pro senhor a denúncia, farei logo depois algumas perguntas, o senhor não está obrigado a respondê-las. Se quiser dar sua versão sobre esses fatos, poderá fazer isso logo após a leitura: “Dia 18 de maio de 2021, por volta de 16h30min, aqui em Porto Alegre o denunciado praticou, induziu, incitou a discriminação e preconceito de cunho homofóbico, mediante publicação feita por intermédio de meio comunicação social blogger/usuário Políbio Braga. Ao agir, o imputado, contrariado pela conduta adotada pelo Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul, em face da celebração pela data intitulada como Dia Internacional contra a homofobia, transfobia e bifobia (inaudível), este intitulado “Eduardo Leite manda bordar as cores do arco-íris gay na fachada do Piratini”, no qual escreveu as seguintes frases de caráter homofóbico: “o governador Eduardo Leite decidiu comemorar em alto estilo a legalização do homossexualismo como opção da vontade sexual das pessoas e não como patologia, pelo menos do ponto de vista da polêmica OMS.” “Ontem foi o dia internacional do universo LGBTQIA+, que engloba não só o homossexualismo, mas ainda não compreende a zoofilia”. A conduta do denunciado configura a prática de homofobia, pois menosprezou a dignidade humana das pessoas integrantes da população LGBTQIA+, atingindo-os de modo genérico por sugeria a patologização e a imoralidade das identidades de orientação sexual e de gênero neles inseridas. Primeiramente porque legitimou práticas homofóbicas ao expressar que tais indivíduos poderiam ser compreendidos como portadores de determinada patologia, a depender dos diversos pontos de vista dos atores sociais, invalidando pensamento científico que superou tal visão, na medida em que qualificou como mera opinião da supostamente polemica Organização Mundial da Saúde. Ainda, por deliberadamente utilizar o sufixo ‘ismo’ que costuma denotar doença, ao invés de prestigiar o consagrado termo homossexualidade, reivindicado pela comunidade LGBTQIA+, justamente para excluir o caráter patológico de tais identidades, pareando com a noção de heterossexualidade. Também, por ventilar que as identidades de orientação sexual e de gênero contidas na sigla LGBTQIA+ foram, ou deveriam, ser ilegais, na medida em que usa a expressão “legalização do homossexualismo”, o que propaga a ideia – e o discurso de ódio daí resultante – de que essa população está à margem da lei e da sociedade, criminalizando-a. Finalmente, por comparar e associar o modo de vida das identidades de orientação sexual e de gênero componentes da sigla LGBTQIA+ à prática de zoofilia (relação sexual entre humanos e animais), dessa forma induzindo ao pensamento discriminatório e incitando aos leitores do referido blog (inaudível), ao preconceito e discurso de ódio contra essa população.” É verdade isso aqui senhor Polibio? É verdade? Essa é a acusação, essa é a denuncia contra o senhor. O senhor quer responder? Quer contar o que aconteceu aqui? Quer dar sua versão sobre essa postagem? R. Eu não estou atendendo a sua pergunta Doutora, desculpe. D. Ela está lhe perguntando o seguinte, é a oportunidade de tu apresentar tua versão sobre dos fatos, sobre a nota, o que tu quis dizer sobre a nota. R. Ah sim. J. Eu vou falar com o senhor pessoalmente. D. É melhor Doutora. (...) R. Mas eu entendi a sua questão, eu quero dizer para a senhora o seguinte, em resposta a sua pergunta, é de que eu acho que o texto é autoexplicável e eu realmente não tenho mais o que aduzir a respeito daquele texto, entende? J. Ali, a denúncia, senhor Políbio, fala que seu texto tem um cunho, tem uma intenção de ofender, de ferir e incitar a população contra a população LGBTQI+, que tem um cunho homofóbico ali. R. Eu rejeito essa interpretação, é uma interpretação. J. Aqui diz, eu vou ler só para o senhor esse texto curto que é parte, porque aqui não tem toda a notícia que o senhor publicou, aqui tem dois de três parágrafos. Eu fui ler depois na íntegra, mas o parágrafo foi transcrito na íntegra me parece né. Que “O Governador Eduardo Leite decidiu comemorar em alto estilo a legalização do homossexualismo como opção da vontade sexual das pessoas e não como patologia, pelo menos do ponto de vista da polêmica OMS”. Aqui o senhor quis incitar a população? R. Não, aqui eu fiz uma crítica política ao governador. Coisa que eu tenho feito desde o primeiro dia que ele assumiu, porque eu acho que ele é um farsante. E eu tenho feito esse tipo de crítica desde o primeiro dia, e não agora só quando ele renunciou a renúncia dele e se candidatou a governador. Crítica que eu tenho feito ferozmente inclusive agora também, entendeu? Eu já fui objeto de interpelação judicial por parte do governador a respeito de críticas que eu fiz a ele, respondi contra interpelação contra ele. De modo em que nós temos em campo opostos assim, do ponto de vista ideológico inclusive, graves, temos diferenças muito graves. Eu comecei a ter diferenças políticas enormes com o Dr. Eduardo Leite quando ele foi prefeito de Pelotas e nós programamos ali um lançamento de um livro meu chamado ‘Cabo de Guerra’ sobre o governo da Yeda Crusius e eu convidei a governadora para ir comigo a Pelotas, porque lá o prefeito era do PSDB e eu achei que seríamos bem recebidos lá em uma feira do livro. E, durante a viagem, a governadora conversou com o Eduardo Leite e eu ouvi a conversa deles e ela disse ‘você não vai lá na feira do livro pro lançamento do livro do Políbio Braga?’ e ele disse ‘eu não vou nisso ai, mas eu vou mandar um representante’. E ele mandou um sub do sub, eu acho que foi uma atitude inclusive desrespeitosa dele, porque eram companheiros de partido, inclusive. E desde aquela época pra cá eu tenho diferenças com ele. J. Era companheiro de partido seu? R. Partido dela, da governadora que era do PSDB. J. E o livro que o senhor lançava era com relação ao governo dela? R. Isso eu fiz um livro de 500 páginas, chamado ‘Cabo de Guerra’, contando tudo o que aconteceu durante o governo dela. O cerco inclusive que ela sofreu por parte do governo do PT, do Lula, na época. A operação Rodin, famosa, né? Conto tudo em detalhes ali. E lancei esse livro em tudo que é parte do Estado e em alguns lugares eu levei a Yeda comigo, convidei ela. Mas eu achei que em Pelotas é que nós seríamos bem recebidos, pelo contrário, fomos muito malrecebidos e por iniciativa do Eduardo Leite. J. Mas já havia algum tipo de discordância? R. Os dois são de campos opostos dentro do PSDB, entende? J. Não, e o senhor Políbio Braga já tinha alguma diferença de cunho... R. Com ele? J. Sim, de cunho ideológico, antes da publicação desse livro? R. Do ponto de vista ideológico até tínhamos, estávamos em campos opostos também, porque eu era do MDB e ele era do PSDB, entende? Mas são aliados, MDB e PSDB são aliados, inclusive. J. Mas dentro do mesmo partido as vezes há diferenças ideológicas né? R. Sim, partidos tem tudo que é tipo de corrente né, todos tem. J. E essas coligações as vezes tem um interesse em um ano de eleição, daqui a quatro anos mudaram completamente no Brasil. R. Exatamente, então, mas de qualquer maneira eu sempre fiz uma crítica política. Normalmente eu critico tudo que é governo, sabe? Eu acho que jornalista tem que criticar governo. J. Senhor Políbio, voltando então aqui para essa publicação, o senhor estava aqui, a sua intenção era criticar o governador. R. Eu tava criticando a gestão dele. E critico até hoje, todos os dias. Eu vi a testemunha inclusive falando a pouco que eu me refiro frequentemente a questões relacionadas com esse universo LGTBI e é verdade e me refiro mesmo, porque eu sou jornalista político. Como eu não vou me referir a uma comunidade que todos os dias está em atividade no Brasil e no mundo inteiro. Claro que me refiro. Hoje, por exemplo, essa notícia que eu publiquei a respeito dos atletas ai, eu publiquei uma nota da Federação Internacional de Atletismo, que está em todos os jornais do Brasil hoje. Eu apenas republiquei essa nota, isso daí não emite juízo de valor nenhum, né? Agora, é uma decisão editorial minha escolher os assuntos. J. O segundo parágrafo desse texto que está aqui imputado ao senhor como de cunho criminoso, o senhor bota na mesma frase homossexualismo e zoofilia. O senhor teve alguma, aqui eu não vejo crítica ao governador quando o senhor fala homossexualismo e zoofilia... R. Eu não vejo sabe, sinceramente, qual é a relação. Eu acho estranho quando fazem uma relação entre a minha crítica ao governador, em relação àquela ação, e essa questão da discussão a respeito do homossexualismo, entendeu? Eu não vejo o que tem a ver uma coisa com a outra. E se a senhora for examinar bem do ponto de vista léxico do texto, do conteúdo dele, a senhora está vendo que eu não to dizendo que a zoofilia está integrada numa das sopas de letrinhas ali, porque não tá. E eu não to dizendo também que... J. Não, ta dizendo que não compreende. O senhor ta dizendo que ela é outra coisa. R. É to dizendo, olha, é outra coisa. Só faltava essa agora. Sabe, é como, eu to dentro da minha casa e o sujeito bate. Até me aconteceu ontem, porque ontem eu fiz 81 anos, meu aniversário ontem. Ai bateram na porta lá, a minha mulher disse pra mim assim ‘vai lá e atende que é o teu irmão.’, eu disse ‘não é o meu irmão’, ‘sim, mas como você sabe que não é o teu irmão?’, eu disse ‘porque só faltava ser ele, ele disse que não vinha hoje’. Quer dizer, eu uso nesse sentido. Até na linguagem coloquial, “ora só faltava agora me chamaram de bixa”, entende? Poxa, pera ai, não é bem assim né. Acho que é muita forçação de barra e acho que o conteúdo dos ataques foi político contra mim, pelas animosidades conhecidíssimas minhas com esse pessoal do PSOL. Essa ONG é ligada ao PSOL, tanto que um deles inclusive recebe salário do gabinete. J. É assessor de um deputado do PSOL, sim, ele disse isso aqui. R. Pois então. J. E eu ouvi os dois como vítima, sem prestarem compromisso. R. E eu de fato eu sou não apenas adversário político do campo ideológico da Luciana Genro e do PSOL, desse pessoal, como eu sou inclusive da Luciana Genro eu sou inimigo pessoal dela. Nós somos inimigos pessoais. Nós travamos inimizades pessoais há muito tempo né, não é de agora. Aliás, o Ministério Público inclusive tem conhecimento disso aí, até de representações minhas contra ela por usar indevidamente prédios públicos pro cursinho pré-vestibular dela, entende? Então ela me ataca, eu ataco. Nós não nos damos. J. Tá no jogo político. Senhor Políbio o senhor já foi preso ou processado criminalmente antes? R. Eu já fui preso. Por quê? Por causa disso ai? J. Não, o senhor já respondeu a algum outro processo criminal? Além desse aqui? R. Se eu já fui preso? J. Se o senhor já respondeu a algum outro processo criminal. R. Já respondi. J. Já? Foi alguma vez preso? R. Fui preso sim, várias vezes fui preso. J. Foi condenado criminalmente? R. Condenado claro, várias vezes. J. Até que serie o senhor estudou? R. A Senhora não quer saber por quê? J. Me diga, por favor. R. Foi durante o regime militar por ter defendido a liberdade de imprensa, da mesma maneira que eu to sendo processado agora por expressar minha liberdade de imprensa. D. Políbio, a Doutora tá perguntando se o senhor foi preso em razão de algum processo pósdemocratização. R. Falou isso? J. Não, não falei, mas o que eu quis dizer. R. Não ouvi isso. J. Sim, mas eu imaginei. Depois da ditadura? R. Mas a senhora se expressou (inaudível) J. Não eu não disse isso R. Não disse isso. J. Eu só perguntei se já foi preso. R. E eu respondi. J. Sim, sim. Imaginei que fosse na ditadura. Mas depois da ditadura, com a redemocratização, já foi alguma vez processado criminalmente? R. Fui processado criminalmente, inclusive no ano passado pela Luciana Genro e pelo pai dela, pelo Tarso Genro. Criminalmente pelos dois, pai e filha. J. O senhor foi condenado? R. Eles foram condenados. J. O senhor já foi condenado? R. Eu não, eles que foram. J. Sim sim, isso eu entendi. Já foi preso? R. Quer dizer, eles não foram condenados, eles perderam a ação. Depois de... J. Pós ditadura, não? R. Pós ditadura eu nunca fui preso não. J. Qual a sua escolaridade? D. Só um pouquinho Doutora, para lhe ajudar, ela também está lhe perguntando Políbio assim, é do processo criminal, não é processo cível. R. Não, mas é criminal. O Tarso Genro me processou criminalmente, pediu a minha prisão. E a Luciana Genro me processou criminalmente, pediu a minha prisão. O ex-governador Olívio Dutra me processou criminalmente, pediu a minha prisão. O ex-prefeito Raul Pont, também. E o exprefeito... todos eles né do PT, né. J. Até que serie o senhor estudou? R. Eu sou graduado em direito, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, completo o curso. Pago OAB em dia, sou advogado. Dizem que eu sou bacharel, não advogado. J. Se o senhor paga a OAB o senhor é advogado. R. Eu advogo. J. A sua OAB é oito mil e alguma coisa, eu vi aqui nos autos. R. 8.771, sou dos primeiros. J. É verdade. Dr. Vaccaro, pelo Ministério Público, alguma pergunta? MP. Não doutora, satisfeito. J. Pela defesa? D. Sim. Políbio, responde para a Doutora, o senhor quis ofender, ao fim e ao cabo vamos ser bem diretos na pergunta, o senhor quis ofender a comunidade LGBT com essa crítica ou propagar algum tipo de preconceito? Ou o senhor quis fazer uma crítica contundente política ao Eduardo Leite? R. Olha, a primeira parte, não, não quis. Não tive essa intenção. Vocês que são advogados, operadores da área do direito costumam empunhar aquele brocado ‘fumus juris bunis’, a fumaça do bom direito né? Nem isso, não tinha realmente nenhuma intenção. J. Ele já respondeu doutor, deixou bem claro isso. D. Só uma pergunta que é interessante a respeito daquele monte de letra mesmo ali. L..G..B..T...I...+. O senhor quis incluir a zoofilia, de acordo com o que a Juíza tava lhe perguntando, nessa LGBT+? Porque o senhor entendeu que era um monte de letras que estavam ali compondo? Era isso? Ai o senhor quis incluir a tipo exemplificativo mais uma e não com caráter de menosprezar alguém? R. Não, uma análise léxica do termo ali, ela deixa, aliás, do texto, é só ler de novo. Ela em absoluta não faz essa, digamos, decisão minha como jornalista ali, de pedir a inclusão, ou de sugerir, ou de propor. Em absoluta. Até pelo contrário, se você for ler bem o meu texto ali, você vai ver que até, pode ler, até pelo contrário, eu to dizendo, só faltava essa, ou seja, isso ai não né. Pode ler, pode fazer qualquer interpretação léxica disso ai. J. Sim senhor. Algo mais doutor? D. Não. J. Nada mais.
Casa Verde e Amarela financiou mais de um milhão de imóveis em três anos
As regiões Sudeste e Nordeste ocupam o topo da lista com maior quantidade de créditos concedidos: 654 mil e 301 mil, respectivamente
O Programa Casa Verde e Amarela concedeu mais de um milhão de créditos imobiliários a famílias brasileiras. Ao todo, foram 1.411.768 financiamentos realizados, por meio de subsídios de moradias populares e créditos bancários, desde 2019 até junho de 2022. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento Regional.
Neste período, a Região Sudeste registrou a maior quantidade de financiamentos. Ao todo 658.916 famílias adquiriram a casa própria por meio do Programa. Em segundo lugar, a Região Nordeste outorgou 301.138 financiamentos.
O estado de São Paulo aparece à frente das demais Unidades da Federação, com uma marca de 418.348 residências financiadas. O segundo estado deste ranking é Minas Gerais, com 154.044 famílias atendidas, à frente do Paraná, o terceiro colocado, com 108.924 imóveis financiados.
Buscando também a regularização fundiária, o Casa Verde e Amarela atende a dois públicos: urbano e rural. Eles são estratificados de acordo com a faixa salarial, partindo de uma renda de R$ 2.400 por mês a R$ 8 mil no caso de financiamentos urbanos; e R$ 29 mil anuais a R$ 96 mil anuais para o financiamento rural.
PÚBLICO-ALVO
O financiamento imobiliário para regiões urbanas atende a três perfis financeiros: Urbano 1 - renda mensal até R$ 2.400 mil; Urbano 2 - renda de R$ 2.400,01 a R$ 4.400 mil; e Urbano 3 -- renda entre R$ 4.400,01 e R$ 8 mil.
O público que tem interesse em adquirir um imóvel rural também é fracionado em três grupos: Rural 1 - renda bruta familiar anual até R$ 29 mil; Rural 2 - renda anual entre R$ 29.000,01 e R$ 52.800,00 mil; e Rural 3 - renda familiar anual entre R$ 52.800,01 até R$ 96 mil.
As famílias em situação de risco e vulnerabilidade, aquelas comandadas por mulheres e as integradas por pessoas com deficiência, idosos, crianças e adolescentes terão prioridade sobre as demais categorias para acessar o programa.
FINANCIAMENTO
As famílias interessadas devem procurar diretamente as construtoras credenciadas e os bancos operadores para solicitar o financiamento imobiliário por meio do Programa Casa Verde e Amarela.
O cálculo dos juros leva em consideração a faixa de renda do beneficiário e a localização do imóvel, variando entre estes dois fatores.
Por exemplo, pessoas das regiões Norte e Nordeste que sejam cotistas do FGTS contam com taxa de juros de 4,25%. Para as demais regiões, aplica-se a este mesmo público-alvo juros de 4,5%.
Artigo, Renato Sant'Ana - A desinibida militância da escritora Martha Medeiros no jornal (8)
Tal como nos demais, neste oitavo e último artigo da série, a crítica está ancorada em fatos. E o que dirão os fatos hoje?
Dois indivíduos espancaram e, depois, empurraram, para ser atropelado por um caminhão que passava, o empresário Carlos Alberto Bettoni (56), que, atingido na cabeça pelo para-choque do veículo, caiu banhado pelo próprio sangue e com traumatismo craniano, enquanto os agressores "afastaram-se do local, demonstrando frieza e total desprezo pela vida humana", como afirmou a juíza Debora Faitarone, que mandou prendê-los.
O crime ocorreu em frente ao Instituto Lula, durante um protesto contra a prisão do líder petista, em 05/04/2018, sendo os agressores Manuel Eduardo Marinho (dito Maninho do PT) e Leandro Eduardo Marinho, pai e filho, que não toleraram a presença nem as críticas da vítima.
Bettoni ficou com deficiência de fala e de coordenação motora e com uma rotina de convulsões, quedas e repetidas internações hospitalares, sequelas que o incapacitaram para o trabalho até falecer em 2021.
Maninho, graças a um habeas corpus dado de ofício pelo STJ, ficou apenas sete meses preso. E logo foi nomeado para um cargo público pelo prefeito petista de Diadema, José de Filippi, com salário de R$ 10.533,55.
Agora, pasmem! Em 09/07/2022, num ato de campanha em Diadema/SP, depois de apregoar que roubar tênis não é crime, e de mentir dizendo que a Lava Jato desempregou mais de 4 milhões de pessoas e que ninguém atacou mais a corrupção do que o PT, Lula exaltou como herói o tal Maninho.
Disse Lula: "(...) ficou preso sete meses porque resolveu não permitir que um cara ficasse me xingando na porta do Instituto. Então, Maninho, eu quero em teu nome agradecer. Porque foi o Maninho e o filho dele que estiveram nessa batalha. Obrigado, Maninho! É o seguinte, essa coisa, essa dívida que eu tenho com você, jamais a gente pode pagar em dinheiro. A gente vai pagar em solidariedade e em companheirismo".
Essa fala de Lula é um diapasão para afinar a militância. Aliás, virou rotina, ultimamente, Lula minimizar crimes e exaltar criminosos. E há de ser mera coincidência que, em 2018 (dados oficiais do TSE), 82,47% dos presos do Brasil aptos a votar escolheram o PT (O Globo, 10/01/2019).
Desde sempre, a praxe do PT é passar a mão por cima de quem praticou ilícitos. O estatuto do partido prevê como infração ética e disciplinar "a improbidade no exercício de mandato parlamentar ou executivo", o que pode ser punido até com expulsão - regra jamais aplicada.
Foi por não mudarem de opinião que, em 2003 (Lula no governo), acabaram expulsos do PT a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados Babá (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE): eles se opuseram à reforma da previdência que o próprio PT havia proposto, que era semelhante à do governo de José Sarney, que todos os petistas combateram.
E foi por ter delatado a gigantesca corrupção dos governos petistas que, em 2017, Antonio Palocci foi expulso, ou seja, não foi pelos crimes que ele cometeu. O normal é petistas condenados pela Justiça serem tratados pelo PT como heróis e como mártires perseguidos "pelas elites".
A revista Crusoé (08/07/22) trouxe matéria assinada por Cláudio Dantas apontando, com base em inquéritos sigilosos, que uma facção criminosa com ramificações país afora se aproximou de integrantes do PT e avançou perigosamente sobre a política. Seria decente que, por exemplo, o PT suspendesse Senival Moura, líder do PT na Câmara de Vereadores de São Paulo, investigado pela polícia por envolvimento com a tal facção. Mas ele será protegido pelo PT; e o esclarecimento do caso, combatido.
Pois é. Como visto ao longo desta série, o PT segue o que prelecionou György Lukács (filósofo e militante comunista húngaro), para quem a classe revolucionária não deve obedecer à lei, mas apenas seguir as circunstâncias da luta de classe. É o vale tudo revolucionário, no qual não há lugar para a compaixão e a vida humana é um item descartável.
Posto isso, como pode a escritora Martha Medeiros, para justificar sua campanha pró-Lula, falar de "humanismo"? Com todos os fatos relatados aqui e nas demais colunas desta série, como pode ela acreditar que Lula é capaz de infundir "a paz e a confiança na democracia"?
O escritor William Faulkner, Nobel de literatura em 1949, tinha posição contrária ao engajamento político de artistas, o que inclui escritores. Não era alheamento que ele propunha, mas distanciamento. Que pensar?
É um exercício de "honestidade intelectual" pôr em xeque a nossa própria convicção: que probabilidade há de, contra todas as evidências, cairmos no autoengano? O que é que nos pode obcecar, quer dizer, cegar em relação a determinados fatos? Em que medida somos manipuláveis?
No livro "O que sei de Lula" (Topbooks, 2011), José Nêumanne Pinto expõe a obscura história do PT e de Lula, uma profusão de atos abusivos que petistas adornam, claro, com um discurso populista de autoelogio. Depois de lê-lo, só autoengano levaria alguém a acreditar no PT.
Volto a Faulkner. Mesmo pessoas intelectualizadas (ainda mais artistas, que são profissionais da "emoção") correm o risco de deixar-se seduzir pela sentimentalizada retórica do poder, desenvolver miopia ideológica, ter obnubilada a percepção e, no caso dos artistas, empobrecer sua própria arte. Faulkner tinha razão, pois.
O que pretendi em oito artigos (e penso ter conseguido) foi mostrar a dissonância que há entre a realidade fática e as crenças que a colunista de Zero Hora exalta em seu prosélito manifesto como se fossem verdades.
Martha Medeiros granjeou respeito e admiração com suas crônicas plenas de sensibilidade. Mas, de costas para os fatos, parecendo presa dalgum sortilégio, abandonou o que lhe é genuíno, curvou-se ao politicamente correto e passou a vocalizar um discurso que não lhe pertence, seduzida que foi pela sentimentalizada retórica do poder.
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
E-mail: sentinela.rs@outlook.com
FMI projeta menos crescimento da economia global, com mais inflação.
Ontem o FMI divulgou a atualização do World Economic Outlook, relatório com as projeções do Fundo para a economia mundial. A projeção para o crescimento do PIB global em 2022 sofreu nova revisão baixista, passando de 3,6%, no relatório de abril, para 3,2%, enquanto a expectativa para 2023 foi revisada de 3,6% para 2,9%. Ao mesmo tempo, a inflação global deve atingir 6,6% nas economias desenvolvidas e 9,5% nas emergentes. Segundo o relatório, a desaceleração do crescimento global neste ano reflete uma série de choques que atingiram uma economia mundial já enfraquecida pela pandemia, como as repercussões da guerra na Ucrânia, os bloqueios de Covid-19 na China, e o aperto das condições financeiras resultante da inflação persistentemente elevada. O Brasil ficou entre o grupo de países cujo crescimento, de 2022, foi revisado para cima: segundo o FMI, o PIB brasileiro deve avançar 1,7%, acima da alta de 0,8% prevista em abril.
Hospital Moinhos de Vento realiza primeira cirurgia fetal na instituição
Ainda no ventre da mãe, bebê passou por procedimento para correção de mielomeningocele intrauterina
A primeira gestação da paciente de 30 anos, moradora de uma cidade da região Serrana do estado, ocorria aparentemente dentro da normalidade até que a ecografia morfológica do segundo trimestre identificou uma malformação no bebê. Com cerca de 22 semanas, o feto foi diagnosticado com mielomeningocele, um defeito de fechamento da coluna que causa lesão progressiva de raízes nervosas que estão anormalmente em contato com o líquido amniótico, podendo levar a graves consequências como hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro) e dificuldade ou perda total da capacidade de caminhar.
Por meio da Secretaria Municipal de Saúde de sua cidade, a paciente foi encaminhada ao Hospital Moinhos de Vento, para avaliação do chefe do Serviço de Obstetrícia e Ginecologia, Edson Vieira da Cunha Filho, e do coordenador da Medicina Fetal e Cirurgia Fetal, Eduardo Becker Jr. Como alternativa terapêutica, foi apresentada a possibilidade de correção cirúrgica intrauterina —ou seja, com o bebê dentro do útero—, técnica considerada a melhor opção para preservar o movimento das pernas do bebê.
A cirurgia foi realizada neste domingo (24) e durou cerca de três horas. A partir de uma incisão abdominal, como a de uma cesariana, o útero foi exposto. O feto foi manualmente posicionado para que fosse possível acessar o problema. Foi feita uma pequena incisão no útero, suficiente para mostrar o defeito e fazer a correção da lesão, o que ocorreu com sucesso. Em seguida, o líquido amniótico foi reconstituído e o útero foi novamente fechado e recolocado, para que a gestação possa seguir seu curso.
“A operação transcorreu da melhor forma possível. Foram tomadas todas as medidas preventivas para redução dos riscos cirúrgicos. Depois de 24h na UTI, a paciente permanecerá internada por mais dois ou três dias. O bebê será frequentemente examinado e monitorado por meio de ecografia, no atendimento pré-natal. Depois do nascimento, o neurodesenvolvimento do bebê também será acompanhado”, explica Edson.
Procedimento de vanguarda
A mielomeningocele ocorre, em média, em um a cada mil nascimentos, em nível global. Como a taxa de natalidade no Rio Grande do Sul é de aproximadamente 140 mil nascimentos por ano, estima-se que aproximadamente 140 crianças nasçam com esse problema no RS anualmente.
“A gravidade dessa condição, assim como a amplitude do déficit neurológico, depende, resumidamente, do nível da lesão e do momento em que o tratamento é realizado. O procedimento intraútero tem mostrado melhores resultados do que a correção pós-natal e é, atualmente, a conduta com maior impacto na redução de complicações neurológicas. Apesar dos riscos inerentes a uma cirurgia desse porte, as vantagens incluem a diminuição da necessidade de realizar derivação ventrículo peritoneal (colocação de dreno para tratar um acúmulo de líquido no cérebro) e por aumentar a chance de a criança poder caminhar, com ou sem auxílio de órtese”, detalha Eduardo Becker.
Foi a primeira vez que esse tipo de correção cirúrgica pré-natal foi realizada na instituição. A equipe foi liderada pelo Dr. Fábio Peralta, médico coordenador de um grande centro de Medicina Fetal em São Paulo. Nos últimos meses, a equipe do Moinhos de Vento vem se preparando para esse tipo de procedimento, com treinamento da equipe de obstetrícia, neurocirurgia e aquisição dos equipamentos necessários.
“Esse tipo de cirurgia coloca o Moinhos na vanguarda do que há de melhor em termos de diagnóstico e terapêutica fetal. O hospital agora oferece à população alternativas seguras para garantir o melhor tratamento para esse tipo de patologia, com a qualidade reconhecida do Moinhos de Vento, contando com equipamentos de última geração e assistência de excelência”, destaca Edson.
O Moinhos de Vento possui a estrutura completa para a realização de procedimentos de alta complexidade. “A possibilidade da correção cirúrgica pré-natal da mielomeningocele é um marco na história da obstetrícia do RS, por efetivamente contribuir para melhorar o desfecho neonatal em casos selecionados”, garante Becker.
A equipe da cirurgia foi composta pelo médico Fábio Peralta, de São Paulo, e pelos médicos Eduardo Becker Jr, Edson Vieira da Cunha Filho e Marcela Godoy Dias. A equipe de neurocirurgia foi comandada pelo médico Jorge Bizzi, com auxílio do Dr. Antônio André Bedin, além de dois anestesistas, José Antônio Vinhas e Carlos Sparta. Além disso, também acompanharam o procedimento a chefe do Serviço de Neonatologia, Desiree de Freitas Valle Volkmer, a neonatologista Elisa Hauber da Silva, a coordenadora assistencial Andreia Amorim coordenadora assistencial e a enfermeira neonatal Joseline Brito de Oliveira.
Mielomeningocele
A mielomeningocele é um defeito congênito da coluna e da medula espinhal resultante do fechamento incompleto durante a quarta semana de gestação. A incidência média mundial é de um em cada 1.000 nascimentos. Quando a coluna não está adequadamente fechada, as meninges, normalmente protegidas pela parte óssea, ficam expostas, bem como raízes nervosas.
Expostas ao líquido amniótico do útero da mãe, além do constante contato da lesão fetal com a parede uterina, essas estruturas vão se deteriorando progressivamente. Quanto mais danificadas, pior será a habilidade motora dos membros inferiores do bebê ao nascer, o que pode levar à perda da locomoção. Além disso, enquanto não houver correção cirúrgica, a medula vai perdendo liquor (líquido que envolve a medula), causando modificação anatômica em estruturas cerebrais. Isso pode resultar no surgimento de hidrocefalia no bebê.
Aqui, ao vivo, programa "Boa tarde, Brasil ! com Julio Ribeiro
Participam do programa nesta quarta-feira, Antônio Worst, Franklin Melo, Glauco Fonseca e comentários de Karim Misculin.
22 dos 25 setores da indústria enfrentam problemas para conseguir insumos, que estão mais caros
A guerra na Ucrânia e os lockdowns em regiões industriais da China estão prolongando um problema que começou com a pandemia de covid-19, em 2020. A escassez ou o encarecimento de insumos afeta 22 de 25 setores da indústria, revela levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Segundo a CNI, há oito trimestres seguidos as indústrias citam a dificuldade de acesso a matérias-primas como o principal problema. No segundo trimestre deste ano, o setor mais afetado foi o das indústrias de impressão e reprodução, com 71,7% das empresas citando o problema. Em seguida,vêm os setores de limpeza, perfumaria e higiene pessoal (70%) e indústrias de veículos automotores (69,8%).
Apenas três segmentos da indústria não mencionaram a falta ou os preços altos das matérias-primas como o principal problema. Entre as indústrias de couros e artefatos de couro o problema apareceu em terceiro lugar, citado por 37,2% das empresas entrevistadas. Nos segmentos de móveis (38,7%) e de manutenção e reparação (45,5%), o problema ficou em segundo lugar na lista.
Expectativa de vida do gaúcho sobe para 77,4 anos. Mulheres vivem mais tempo do que os homens (81 anos contra 74 anos)
Quanto aos números da população gaúcha, em 2020 o Rio Grande do Sul contava com 11.422.973 habitantes, um aumento de 508.178 pessoas na comparação com 2010. Em uma década, o percentual de pessoas com 60 anos ou mais no Estado aumentou de 13,6% em 2010 para 18,8% em 2020.
A expectativa de vida ao nascer no Rio Grande do Sul chegou aos 77,45 anos em 2020, um aumento de 0,19 ano na comparação com os dados finais de 2019, quando atingiu 77,26 anos. Enquanto para a população feminina a expectativa chega a 80,99 anos, para a masculina é de 73,87 anos.
Os dados foram divulgados nesta terça-feira e integram o estudo "Indicadores de mortalidade para o Rio Grande do Sul e seus Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) — 2010-20"
Entre as principais causas de mortes no RS em 2020, as doenças do aparelho circulatório (22,7%) continuaram em primeiro lugar, seguidas das neoplasias (câncer), com 20,7%. As doenças infecciosas e parasitárias, categoria na qual se inclui a covid-19, saltaram do nono lugar em 2019 para o terceiro lugar no ranking de 2020 (13,5%) com as doenças do aparelho respiratório (8,6%) na quarta posição. A população masculina registra maior número de mortes em relação às mulheres entre as quatro principais causas, mas a maior diferença entre os sexos é encontrada nas mortes por causas externas, quinta no ranking geral no Estado, em que os homens morrem 3,72 vezes mais do que as mulheres.
Na outra ponta da faixa populacional, o percentual de pessoas entre 0 e 14 anos no RS caiu de 21,4% para 18,2%, uma redução de 257.561 pessoas. Na faixa de 15 a 59 anos, o percentual passou de 65,1% para 63,1%.