O que o Presidente Temer encontrará na China
O Presidente Michel Temer terá vários desafios pela
frente em sua viagem à China. Certamente, todos infinitamente menos complexos
em relação aos enfrentados no Brasil. Por outro lado, o Presidente terá pela
frente mais uma oportunidade de equalizar uma relação de embalagem firme e
conteúdo confuso.
Para tal, o ajuste de expectativas dos dois lados é o
grande objetivo a se buscar nessa viagem. Enquanto o lado brasileiro,
legitimamente, busca aumentar e otimizar as exportações, o lado chinês espera
um “sinal” para poder entregar o que o Brasil deseja. O “sinal” chinês nada
mais é do que um mergulho no mar da geopolítica e ter, no Brasil, um parceiro
onde esses assuntos possam ser discutidos em um grau de profundidade e
complexidade no qual não estamos muito acostumados.
Nesse menu de temas, a China espera de alguma forma, um
posicionamento do Brasil bem elaborado em relação ao Mar do Sul da China, ao
posicionamento do Brasil de ligeira queda para a China ou a Rússia no âmbito
dos BRICS, além de outros temas relevantes para o nosso parceiro asiático (como
a Coréia do Norte, por exemplo).
Há um apreço pessoal do Presidente chinês Xi Jinping para
com Temer. Os dois conversavam com frequência na época da Vice-Presidência,
quando China, Rússia e Oriente Médio eram temas alocados na VPR. No entanto, Xi
lamenta que o Brasil não possua uma estratégia para a China no mesmo nível que
a China tem para o Brasil.
Para a China, a importância do Brasil são algumas, tais
como: matérias primas e alimentos, receptor de investimentos chineses para
infraestrutura, potencial aliado para contrapor a influência dos EUA na região
e comprador de manufaturados chineses.
Para que tudo isso seja executado ao máximo pelos
chineses, Xi possui um círculo próximo que, além do Brasil, analisa a relação
da China com o resto do mundo.
Wang Qishan, por exemplo, é um amigo de Xi desde os 16
anos de idade. A relação dos dois remete a província de Shaanxi, onde Xi passou
a adolescência. Visto como o czar “anti-corrupção”, Wang possui uma visão naturalmente
crítica do Brasil e do ambiente de corrupção perpétua no país. Poderia ser uma
voz mais crítica em relação a alguns pontos da relação.
Já Liu He, assessor econômico e amigo de Xi desde o
secundário (estudaram na escola número 25 de Pequim), possui uma admiração por
Henrique Meirelles que pode vir a ser um trunfo para o Brasil. Defende que a
recuperação econômica do Brasil desde a chegada de Meirelles é clara e
positiva.
No campo da Defesa, uma área que a China quer aumentar
seu relacionamento com o Brasil, Chang Wanquan, Ministro da Defesa considera o
Ministro Raul Jungmann, seu par, de alto nível. Sonha com uma cooperação
militar naval, onde a China poderia colocar um pé no Atlântico Sul, buscando se
contrapor a presença americana na região. Também amigo de Xi Jinping desde a
província de Shaanxi.
Outro nome de grande influência sobre o Presidente chinês
é Chen Xi. Este, chefe da assessoria particular de Xi foi seu colega de quarto
na época de faculdade (Xi estudou na prestigiada universidade Tsinghua).
Diferente do próprio presidente chinês, Chen Xi é um profundo conhecedor de
relações internacionais.
Para o objetivo brasileiro, que é essencialmente
comercial, Zhong Shan é o nome a ser estudado. Amigo de Xi desde a província de
Hebei, onde Xi foi líder do partido, Zhong é um negociador comercial implacável
e prepara todos aqueles que vão negociar com países como o Brasil. Teve um
papel determinante no processo de suspensão ao embargo da carne bovina, no
início desse ano.
Finalmente, assim como o Brasil, a China é bastante
dividida entre grupos e correntes dentro do partido. Xi Jinping e Hu Jintao
(ex-Presidente) são de correntes opostas e disputam, palmo a palmo, posição
dentro do governo. O Premiê Li Keqiang, número 2 de Xi é um aliado de Hu Jintao,
rival de Xi.
Qual seria diferença entre os dois principais grupos
políticos na atualidade chinesa? Um desses grupos é composto e encabeçado pela
dupla Xi Jinping/Jiang Zemin (ex-Presidente) e o outro é encabeçado por Hu
Jintao/Li Keqiang.
O grupo de Xi (atual grupo dominante) é um grupo mais
internacionalista, almeja uma grande e forte China, foca bastante em relações
internacionais e comércio internacional. Historicamente apostaram no
fortalecimento das cidades e províncias costeiras antes de partir para o
interior do país. Geralmente são considerados pelo o outro grupo como os de
“sangue nobre” dentro do Partido Comunista, filhos de figuras históricas e bem
posicionadas.
O grupo Hu Jintao/Li Keqiang é um grupo mais voltado para
ações no interior do país e nas políticas públicas que visam o desenvolvimento
interno, consumo interno e investimentos nas províncias do interior.
Historicamente são de origem mais humilde e tendem a ser considerados mais
passivos.
Para cada um desses parágrafos, seria possível ampliar em
páginas e páginas de aprofundamento e detalhes. Ter a China como principal
parceiro comercial exige um dever de casa complexo. Nosso Itamaraty é
extremamente capaz e faz isso com maestria. São informações que o Presidente,
obviamente, já sabe. No entanto, empresários e todo o universo político do
Brasil necessitam compreender que conhecendo a política chinesa, podemos
melhorar e muito nossa capacidade de negociar.