Tomo o título da música do meu querido amigo Celso
Fonseca (com letra de Ronaldo Bastos) para o meu artigo desta semana no Blog do
Noblat. Para quem não conhece, recomendo assistir ao vídeo.
As reformas no Brasil ocorrem em “slow motion”. Entre
idas e vindas, tomamos medidas paliativas, driblamos o presente e jogamos para
a frente o que deve ser feito. Claro que, quando estoura o encanamento,
corremos para tomar providências.
Foi assim no governo Dilma. Estourou o cano da
incompetência política, fiscal e econômica em um quadro de septicemia moral. O
governo foi removido. Óbvio que tardiamente. Diante da tragédia de seu primeiro
governo, Dilma não deveria ter sido reeleita. Mas, deixando de remexer na lata
de lixo da história, devemos observar o pano de fundo, já que, ao largo do
acidente de percurso, estão sendo realizadas reformas importantíssimas para o
futuro do país. Pelo fato de ocorrerem em ritmo de “slow motion bossa nova”,
não nos damos conta. Nem de como podem mudar o futuro para melhor. Afinal,
somos treinados pela mídia a dar valor ao tradicional “good news are bad news”.
Daí os avanços serem ignorados ou subavaliados.
Para não ir muito longe, podemos fazer uma limitada
viagem retrospectiva. O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff tem a ver
com o fracasso de sua política fiscal e econômica, mas também com sua
fragilidade frente à Operação Lava-Jato. Dilma abandonou a prudência fiscal e
deu vazão a um esquerdismo pueril e fiscalmente inconsequente. Deu no que deu.
Para piorar, retórica de honestidade foi fulminada pelo volume estonteante de
falcatruas praticadas debaixo de seu nariz. Por sua complacência, omissão e
incompetência. A ponto de ela mesma ter dito ao ex-presidente Lula, em reunião
no Alvorada, que tinha entubado coisas que não gostaria.
A Lava-Jato tem raízes nos protestos de 2013, que
resultaram no endurecimento da legislação anticorrupção. Tem ainda raízes na
aprovação da Lei da Ficha-Limpa – que barrou centenas de políticos encrencados
nas eleições – e no mensalão. Assim, para não irmos longe demais, as
investigações da Lava-Jato – que tanto impacto causam ao país – têm raízes
identificadas, pelo menos, desde 2005. Pelo menos. Ou seja, são mais de 12 anos
de efeitos políticos e econômicos em um longo processo de transformação. É o
que chamo de “slow motion bossa nova”!
A Lava-Jato foi decisiva para o impeachment de Dilma, mas
também para determinar o banimento das doações empresariais nas eleições e o
estabelecimento de tetos de gastos para campanhas mais adequados ao país. O
despertar da cidadania, ensaiado em 2013, ganhou corpo e volume com a
Lava-Jato. Milhões foram às ruas e o engajamento da cidadania no debate
político tende a ganhar consistência.
O fracasso do governo Dilma levou ao renascimento da
agenda de reformas, que, em curto espaço de tempo, está sendo pródiga em bons
resultados: teto de gastos, lei do pré-sal, lei das estatais, reforma do ensino
médio, reforma do setor energético, repatriação de recursos, entre outros. A
Lava-Jato está deflagrando um processo de depuração na política sem precedentes
em lugar nenhum do mundo. Está também promovendo a reconstrução do capitalismo
nacional, que será, pelo menos, mais aberto e competitivo.
Portanto, mesmo que seja em “slow motion”, o Brasil é um
país em reformas. Não apenas no que diz respeito às propostas do presidente
Michel Temer – mais do que necessárias – no âmbito previdenciário e
trabalhista. Mudanças muito importantes estão em curso há algum tempo. Basta
olhar com calma os acontecimentos dos últimos 20 anos.