Em depoimento prestado à Justiça Federal nesta
terça-feira, o ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró reiterou
acusações contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Ele declarou ter sido
indicado por Lula para diretor financeiro da BR
Distribuidora, em 2008, como retribuição por ter ajudado a quitar uma dívida do
PT com recursos de um contrato da estatal. Além disso, implicou Dilma numa
suposta trama para livrá-lo da prisão.
A oitiva, por videoconferência, foi feita pela 10ª Vara,
em Brasília, para instruir ação penal que avalia a suposta atuação de Lula e
outros réus num esquema para evitar que Cerveró fizesse acordo de delação
premiada. Lula não está entre os réus.
O ex-diretor contou que, em março de 2008, foi destituído
do cargo de diretor Internacional da Petrobras. A demissão, segundo ele, se deu
por pressão da bancada do PMDB na Câmara, que pretendia dar a cadeira a Jorge
Zelada. Lula teria cedido ao pedido para que os parlamentares votassem contra o
governo na sessão que decidiria sobre a CPMF.
Cerveró foi comunicado da decisão na reunião do Conselho
de Administração da Petrobras, na manhã do dia 3 daquele mês. Ele chegou a
arrumar suas coisas e a se despedir de sua equipe, quando o ex-presidente da
BR, José Eduardo Dutra, atualmente já morto, o comunicou da indicação para a
distribuidora.
"Já tinha sido tomada a decisão do presidente Lula
de me indicar diretor financeiro da BR. A informação que me foi dada é de que
isso seria um reconhecimento do trabalho que eu teria feito da liquidação da
dívida do PT em 2006", declarou Cerveró.
Empréstimo
O ex-diretor atuou na contratação do Grupo Schahin para
operar, por US$ 1,6 bilhão, o navio Vitória 10.000 na Bacia de Santos. Conforme
a Lava Jato, o contrato, de 2009, foi firmado para que o Banco Schahin
perdoasse dívida de R$ 12 milhões feita pelo pecuarista José Carlos Bumlai,
amigo de Lula, com o partido.
Cerveró ponderou, contudo, que não soube por Lula que a
indicação partiu do ex-presidente e se deu por "gratidão". "Na
época, me foi dito pelo pessoal do Banco Schahin. Foi o que levou o presidente
Lula a me indicar quando eu fui destituído da Diretoria Internacional."
Dilma
Cerveró falou por cerca de uma hora e meia. Durante o
depoimento, reiterou os principais pontos de sua colaboração premiada. Explicou
que, quando estava preso, seu advogado, Edison Ribeiro, levou a ele um recado
do então senador e líder de governo, Delcídio Amaral (ex-PT), hoje cassado e
sem partido, de que a então presidente Dilma Rousseff tratara de sua situação.
"Uma das informações que me foi dita pelo Edson é
que o Delcídio, nesse período, teria mandado um recado dizendo que a presidente
Dilma estava preocupada com os meninos e que precisava soltar os meninos. Os
meninos, no caso, eram meu colega Renato Duque(ex-diretor de Serviços) e
eu", contou Cerveró.
Preso no fim de 2015, depois desse suposto episódio,
Delcídio fez acordo de delação e informou que o Planalto atuaria para que o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) liberasse Cerveró. "Estava acertado que
o meu HC (habeas corpus) sairia, mas que isso nãoseria suficiente. Depois
haveria uma nova ordem de prisão e que eu precisava sair do País",
acrescentou Cerveró no depoimento desta terça.
Gravação
Tanto Ribeiro quanto Delcídio também são réus da ação em
curso na 10ª Vara. Durante a audiência, o ex-diretor confirmou que os dois se
articularam para tentar evitar sua colaboração. O filho de Cerveró, Bernardo
Cerveró, gravou reunião na qual ambospropuseram fazer pagamentos e ajudar na
fuga do executivo para a Espanha. O áudio foi decisivo para que o então parlamentar
petista e o criminalista fossem presos.
Cerveró reiterou que, em diversas ocasiões, seu advogado
o desaconselhou a delatar o esquema de corrupção na Petrobras, supostamente por
influência de Delcídio. Seria uma tentativa de evitar que o ex-diretor implicasse
o senador no recebimento depropinas pela compra e pela modernização de
Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), e pela aquisição de turbinas para usinas
termelétricas.
Depois desses fatos, em sua delação, o ex-senador
confessou o recebimento de suborno. Além disso, acusou o ex-presidente Lula de
comandar a operação para "comprar o silêncio" de Cerveró.
"O doutor Edison, repetidas vezes, pediu que não
implicasse Delcídio. Não sei se ele vislumbrou a oportunidade de negociações
maiores. Ele dizia que (o senador) era a minha tábua de salvação. Era o contato
mais forte que eu tinha junto ao governo",afirmou.
Cerveró disse que Bernardo chegou a receber R$ 50 mil de
Delcício, via Ribeiro, mas pediu que o advogado ficasse com o dinheiro para
cobrir despesas com a defesa.
Defesa
O advogado de Lula, José Roberto Teixeira, disse que
nenhum dos depoimentos desta terça-feira, entre eles o de Cerveró, citou o
ex-presidente de "forma direta". Acrescentou que, conforme o
depoimento, o então diretor Internacional foi "sumariamente" demitido
na gestão Lula. A nomeação para a BR Distribuidora, segundo ele, foi um ato do
Conselho de Administração.
Cristiano Zanin, que também atua na defesa de Lula,
comentou que nenhum dos depoimentos confirmou a tentativa de Lula de evitar a
delação de Cerveró. Sobre o episódio da indicação para a BR, disse que o
ex-diretor contou o caso por "ouvir dizer".
"Ele diz que alguém teria dito isso a ele. Ele diz
que foi o Sandro Tordin, que era da Schahin e com quem tinha relacionamento.
Ele diz que não veio nenhuma confirmação oficial do Lula sobre isso. Entre ser
e ouvir dizer de alguém tão distante doex-presidente Lula, como é o Tordin,
mostra como não tem qualquer sentido essa afirmação", afirmou Martins.