Conta à fábula, que uma grande comunidade de ratos vivia
tranquila e se reproduziam rapidamente num velho armazém. Por mais que seu
proprietário tentasse envenená-los, não conseguia. Ratoeiras? Nem pensar,
cardápio diferente. Era melhor continuarem nos grãos. Até que cansando, o dono
do depósito resolveu botar um gato. Na primeira noite, três vítimas. Durante o
dia ou a qualquer hora, o gato atento, mesmo dispensando refeição extra,
matava-os por instinto predatório. Em uma semana, as baixas foram grandes. Os
ratos acuados se reuniram para discutirem o destino da comunidade. Surgiu a
ideia de botar um chocalho no gato, pois ao andar, com o som do chocalho, eles
localizariam onde estava o bichano. Todos concordaram. Então veio à pergunta
irrespondível: quem vai botar o cocalho no gato? Não apareceu o voluntário.
No sábado (17.03.2019), um dia antes de o presidente
Bolsonaro viajar para os Estados Unidos, o irreverente Rodrigo Maia convidou-o
para um churrasco íntimo em sua casa, onde discutiriam "minúcias"
sobre a reforma da Previdência. No encontro, apenas ele, o ministro Onyx
Lorenzoni e o convidado (Jair Bolsonaro). Desconfiado da cortesia e conhecedor
da "malandragem carioca", o presidente foi. Mas, levou consigo 17 convidados.
Dentre eles, alguns generais, o ministro Heleno do Gabinete de Segurança
Institucional. Para surpresa de todos, quem estava lá era o Ministro Dias
Toffoli, presidente do STF, David Alcolumbre (presidente do Senado) e seu
ex-ministro da Casa Civil, Gustavo Bebianno (?).
A ousadia do destemido Rodrigo Maia, pressionado e
instigado pelo famigerado "centrão", é de um afoito inominável. Ao
lado de David Alcolumbre - presidente do Senado - "armaram" para
tentar botar o chocalho no gato (Bolsonaro). Mas, para o bem geral da nação, o
ímpeto foi abortado pelo excesso de testemunhas. A partir da "cabeça"
do ministro Sérgio Moro, ocupação de cargos estratégicos (com dinheiro) pelo
centrão; barrar pedidos de impeachment de ministros do STF; impedir instalação
da lava-toga e fim da lava-jato, tudo seria discutido e pleiteado. Um registro
fotográfico discreto seria providenciado, e espalhado nas redes sociais, fato
que geraria suspeitas no eleitorado de Bolsonaro e em toda a sua equipe de
abnegados da causa de mudar o país. A foto ainda foi feita e divulgada. Mas,
não conseguiram esconder o Gen. Heleno, delegado Waldir, ministra Damares.
O "centrão" é um movimento de deputados
federais suprapartidário, que surgiu das cinzas do "baixo clero" -
aglomerado de parlamentares espertos - que elegeram em 2005 o pernambucano
Severino Cavalcanti para presidência da câmara, uma candidatura avulsa,
derrotando o pretendente do governo (PT) e adversários lançados por composições
das grandes legendas de então, PMDB, PFL; PDT; PTB. Severino Cavalcanti durou
pouco mais de 07 meses como presidente. Em manobras para abortar o mensalão,
fazendo todo tipo de negociação espúria e trancando a pauta com o apoio da gang
que o cercava, foi alvo do MPF em investigação destinada, onde descobriram um
"mensalinho" pago a ele pelo concessionário que explorava os serviços
de restaurante da câmara. Temendo ser cassado, renunciou a presidência e seu
mandato.
A tática do centrão é levar o governo de plantão ao
desgaste. Na medida em que o governo se impopulariza, cresce o centrão,
passando a coupar a explanada dos ministérios e negociando pessoalmente
(deputado por deputado) votos para projetos que tragam benefícios diretos para
o povo e o governo brasileiro. De bolsos cheios, renovam seus mandatos com
folgas. Até as eleições de 2014, os campões de votos por estado, eram todos do
centrão. O "baque" veio em 2018. Mas, com o aprofundamento da crise,
a pressão do centrão empurra o presidente da câmara para chantagear o executivo
até que ele ceda. O destempero do presidente Rodrigo Maia não é por acaso. Já
disse que "a câmara não é cartório para registrar queixas do povo"
(?). Depois disparou com outra: "a câmara e seus deputados são
soberanos." Um internauta respondeu que "soberano" não se elege,
já nasce soberano. O povo vota em representantes. Quarta-feira (20.03.2019) foi
à vez de agredir e humilhar um dos nomes mais respeitados do país, o Juiz
Sérgio Moro. "Ele é funcionário de Jair Bolsonaro. Está trocando as bolas,
eu converso com o presidente". Ontem, quita-feira, veio à prisão de seu
sogro, ex-governador do Rio Moreira Franco. Seus comparsas quiseram atribuir a
uma retaliação corporativa do Juiz Marcelo Bretas, em defesa de Sérgio Moro.
Rodrigo Maia conferiu que o mandado de prisão foi expedido um dia antes
19.03.2019.
Queiram ou não, para aprovar a reforma da Previdência,
Bolsonaro terá que botar um "gato" (PF e lava-jato) na câmara. E
Rodrigo Maia, se tiver juízo, renuncia imediatamente a presidência e seu
mandato. Imagine se na busca e apreensão na casa de seu sogro, a PF tiver
encontrado algo como "doação de campanha não declarada"
Júnior Gurgel - Jornalista político e memorialista