A primeira é que ainda há efetivamente um Brasil do
atraso, atuando como um bandido velho e decrépito, que reage desesperadamente
com todas as suas energias, contra as forças das mudanças, tão desejadas pela
imensa maioria da nossa população.
A segunda é que já decorridos cinco anos da primeira fase
da Operação Lava Jato, e depois de duas eleições para o Congresso Nacional, o
nosso Parlamento aparentemente não passou pela renovação política que a
sociedade brasileira tanto almejava e necessitava.
A terceira é que o jogo jogado pelas velhas oligarquias –
e os partidos políticos que as sustentam – não têm limites éticos nem freios
para o enfrentamento da (talvez) última batalha contra a onda de moralidade que
vem varrendo suas bases. Os atores dessa delinquência institucionalizada são
capazes de se associarem ao underground da espionagem internacional, de
buscarem apoio em potências estrangeiras, e em toda sorte de gangsterismo e
mercenarismo periféricos. Não há fundo nesse poço chamado velha política
brasileira.
A quarta, e mais triste de todas, é que alguns ministros
do Supremo Tribunal Federal parecem estar dispostos a concorrer para que essas
forças do atraso prevaleçam. Aparentemente não conseguem se livrar da
influência daquelas lideranças políticas que os indicaram para as suas
respectivas cadeiras. Parecem não se importarem em funcionar como guardiões do
retrocesso.
A verdade é que nunca estivemos tão perto de começar um
processo eficaz para a desconstrução do edifício do crime institucionalizado,
que é capitaneado por grande parte dessa elite política anacrônica. E é sabido
que a presença de Sérgio Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública será
instrumental para que tal processo avance.
Tudo o que se deseja com a celeuma causada pelo vazamento
criminoso desses diálogos (absolutamente corriqueiros e que não encerram
nenhuma irregularidade) é travar o avanço da onda trazida pela operação de Curitiba.
Os objetivos são claros: retirar o ministro Moro de sua cadeira, enterrar o seu
pacote anticrime, torpedear sua indicação para o STF e, dessa forma, fazer a
roubalheira voltar ao estágio pré-Lava Jato, obviamente com a absolvição e
soltura de todos os políticos incriminados nos processos criminais julgados por
Sérgio Moro.
Com tudo isso, percebemos que a reforma a ser operada com
o pacote anticrime é ainda mais relevante do que a reforma da previdência, pois
a primeira viabilizaria o início de um processo que nos levaria, mais adiante,
a um ambiente político e de negócios livre da corrupção desenfreada das últimas
duas décadas.
A reforma proposta pelo pacote anticrime do ministro
Sergio Moro deve preceder ou, no mínimo, ser operada em concomitância com a
reforma proposta pelo ministro Paulo Guedes. São dois pilares necessários para
o Brasil seguir em frente e se desenvolver. Não podemos imaginar a economia do
país saneada, gerando enormes superávits, com centenas de bilhões de Reais
injetados em investimentos de infraestrutura, e a velha política pilotando os
mesmos esquemas da delinquência institucionalizada que nos levaram a crise
atual. Estaríamos assim promovendo uma reforma para enriquecer ainda mais essa
mesma elite política criminosa que nos sequestrou.
As conquistas da Lava Jato nunca correram um risco tão
grande. Essa talvez seja a última das reações dos operadores do crime
institucionalizado contra os desejos da sociedade, mas talvez seja a mais forte
de todas, pois dela advirá um verdadeiro concerto de contramedidas e ataques.
Vão aproveitar para rever a prisão após sentença de segunda instância e para
travar o pacote anticrime, entre outros expedientes escusos. A hora é da
sociedade estar mais atenta do que nunca.
*Jorge Pontes é delegado de Polícia Federal e foi diretor
da Interpol