Denúncias contra Lula causam assombro e paralisam seus habituais defensores

Ricardo Noblat

O PT recebeu com um silêncio ensurdecedor as mais novas denúncia que envolve Lula com atos suspeitos registrados no âmbito da Lava-Jato ou em decorrência dela. Salvo Rui Falcão, presidente do partido, e o deputado Paulo Teixeira (SP), ninguém mais de peso do PT se apressou em defender seu líder máximo, ex-adversário dos 300 picaretas homiziados no Congresso.

Foi Lula, quando deputado federal nos anos 80 do século passado, que apontou o Congresso como reduto de 300 políticos corruptos. Ou que usavam a política com o intuito primordial de enriquecer. Nas últimas 72 horas, o ex-presidente viu a Lava-Jato bater à porta do condomínio Solares, no Guarujá, interessada na história do tríplex 164-A, reformado de graça pela construtora OAS para abrigar a família de Lula.

Mal refeito da surpresa, Lula leu na Folha de S. Paulo que a construtora Odebrecht pagou todas as despesas com a reforma do sítio em Atibaia que costuma hospedá-lo quase todo o fim de semana. O sítio pertence a dois sócios de Fabinho, o filho mais velho de Lula. Fabinho é sócio deles em uma bem-sucedida empresa de jogos eletrônicos. OAS e Odebrecht estão metidas na roubalheira na Petrobras.

Deixou de ser novidade a intimação de Lula para depor à Polícia Federal. Ele já o fez quase meia dúzia de vezes. Nunca antes em sua vida, porém, Lula fora convocado para depor na condição de investigado. Pois de “informante”, ele passou a investigado no caso do tríplex. O que Lula antecipou a respeito é pouco ou nada convincente. Disse que Marisa, sua mulher, comprou uma cota de um apartamento no valor de R$ 47 mil.


E que, anos depois, desistiu do negócio e recebeu o dinheiro de volta. Só que entre a compra e a devolução do dinheiro, a OAS gastou na reforma do apartamento quase R$ 800 mil. Há inúmeras testemunhas de visitas de Lula e de dona Marisa ao apartamento em reforma, e também depois que ele ficou pronto. A OAS teria amargado o prejuízo com a reforma e devolvido ainda os R$ 47 mil? Não faz sentido. Até hoje, Lula jamais apresentou documentos que comprovassem o que diz. Se o tivesse feito, e a ser verdade o que conta, o assunto já estaria morto. Não salpicaria de lama sua biografia.

Artigo, Dagoberto Lima Godoy - Uma renúncia redentora

As cenas dramáticas transmitidas pelos jornais televisivos, com inundações devastando bairros inteiros de tantas cidades brasileiras, ou, ainda pior, o rompimento da barragem da Samarco, parecem alegorias trágicas da situação geral do país. Dia após dia, pioram os indicadores econômicos e mais pessimistas se tornam as expectativas, enquanto cresce desemprego e as evidências da virtual falência dos serviços e da infraestrutura pública em geral.

Diante desse quadro, muitos analistas vêm identificando a crise que abala as nossas instituições como o epicentro da “tempestade perfeita” que se abateu sobre o Brasil. Porque não conseguem enxergar como uma problemática tão complexa poderá ser sequer equacionada— e muito menos solucionada – sem que se restabeleçam a respeitabilidade e a harmonia dos poderes da República e o mínimo entendimento das correntes políticas, dentro e fora de um governo federal desnorteado, perplexo e desesperadamente gastador.

A história recente nos ensina que situações de gravidade semelhante (ainda que, talvez, não tão complicadas) levaram a acontecimentos dramáticos, como o suicídio de Getúlio, a renúncia de Jânio, a derrubada de Jango ou o impeachment de Collor. Quer dizer, sempre envolveram o maior mandatário da Nação, por sua própria iniciativa ou contra ele. Por que seria diferente desta vez?
Conclui-se que, de uma forma ou outra, os caminhos para a superação da crise atual envolverão a presidente Dilma. Preferirá ela continuar lutando contra o impeachment, para conservar um mandato que já não pode exercer com mínima governabilidade? Quer arriscar-se a registrar na história o rotundo fracasso da primeira mulher na presidência do Brasil?

Ou optará por dar a volta por cima, propondo-se a uma solução de compromisso envolvendo os titulares dos demais poderes, em todos os níveis federativos, e todas as correntes políticas do país, em termos de umarenúncia digna e até heroica, condicionada à imediata aprovação das reformas institucionais há tanto tempo reclamadas, as mesmas cuja falta nos trouxe à beira do abismo. Seria um gesto que livraria a presidente as enormes aflições que certamente ela vive e, ao mesmo tempo, libertaria os brasileiros da angústia de se sentirem em um beco sem saída. Uma dupla redenção.