Artigo, Tito Guarniere - Michel Temer vai cair
Às vezes me perguntam como eu escolho o tema do meu
artigo semanal. Não tenho resposta pronta. A escolha pode recair sobre o
assunto da hora, uma declaração de autoridade, uma estatística, um fato
supérfluo. Assuntos nunca faltam, embora tenham perdido um pouco a graça depois
que Dilma Rousseff deixou a presidência e ficamos nós todos, brasileiros, sem
suas tiradas antológicas. Mas Dilma é carta fora do baralho e não dá para botar
a pasta de dente de volta no dentifrício.
Um bom método é buscar a outra face da moeda corrente do
noticiário. Você não precisa ser um colunista como João Pereira Coutinho, da
Folha, ou como J. R. Guzzo, de Veja, mas ao menos, se for escrever, prefira uma
abordagem original. Se é para escrever e concordar com o que todos estão dizendo,
para que escrever? Nestes tempos de carne fraca, JBS, Batistas, Friboi, é
preciso evitar a tentação de seguir a manada.
É mais instigante procurar os furos da versão dominante,
e explicitá-los, de modo a levar os possíveis leitores a raciocinar, embora
essa prática não seja muito eficiente e pode até mesmo ser perigosa. Por
exemplo, se você decidir elogiar Gilmar Mendes, tome cuidado de fazê-lo com
moderação. Vocês sabem: Mendes é espontâneo, diz o que sente, não faz média,
sabe do que fala, costuma ter bons argumentos, é corajoso e inteligente. Como
tolerar um sujeito desse?
Não aconselho mexer com Moro, Janot e Dallagnol. São
heróis, instituições nacionais, e qualquer crítica que se faça a eles, só pode
ser porque está querendo acabar com a Lava Jato e livrar a cara dos corruptos.
Sabem como é: heróis não tropeçam, não bocejam em público, não cometem erros,
são perfeitos. Príncipes, é o que são.
Com Temer é o inverso. Temer, vocês sabem, o vampiro, o
mordomo de filme de terror, o golpista. Para arrancar aplausos fáceis da galera
basta diuturnamente fulminar Temer. Acho que ele merece: nunca segue o script
que lhe dão. Afinal, ele deveria ter renunciado depois das gravações de Joesley
Batista, mas ficou na dele. A Reforma Trabalhista era para ser rejeitada no
Senado, mas deu zebra e o governo venceu. Era para ter perdido na Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara - a Globo conseguiu emplacar até o relator,
Sérgio Sveitzer, para dar um parecer contra Temer - mas ele venceu.
Não era para ter quórum na sessão plenária da Câmara que
iria analisar a denúncia de Janot. Mas compareceram 490 deputados, que bateram
o ponto e lhe deram uma vitória folgada. Vitória, eu falei? Engano. Temer é uma
exceção da regra que os números não mentem. Temer agora encolheu, ficou menor,
é refém do Congresso, não aprova mais nada. Temer está destituído mas ainda não
sabe, segundo a versão dominante.
O problema de todas essas projeções das Organizações
Globo, de uns tantos jornalistas, de grande parte da mídia, é que nenhuma delas
deu certo. Mas a turma não perde a pose, continua apostando alto na queda do
teimoso. Pode ser. Mas também pode não ser. Como ironiza o já citado J. R.
Guzzo: "A população brasileira (no dia 31/12/2018) receberá mais ou menos
a seguinte informação: Caiu Michel Temer!"