Milton Pires
De tudo que vai ler nas próximas linhas, deve o caro
leitor saber que o mais grave é o fato de ter sido escrito por um médico. Digo
ser grave por haver no Brasil, e fora dele, pessoas com muito mais preparo para
responder a uma professora de Filosofia do que eu - e certamente o fariam, caso
não estivessem elas ocupadas com caçadas aos ursos na Virgínia ou disputando
corações e mentes de adolescentes orientais com colunistas da Revista VEJA.
Um médico só pode responder a um filósofo em três
situações: a primeira é quando ele sabe um mínimo de filosofia, a segunda é
quando o filósofo, doente ou não, só escreveu besteiras e a terceira é quando
existe, de fato, legitimidade de ambas as partes conferida por um terceiro
assunto em comum. Eu não sou um filósofo profissional e a professora Márcia não
me parece doente. Nosso assunto em comum, aqui, é a Política e é sobre ela que
vou tratar.
Márcia Tiburi escreveu, na Revista Cult, uma espécie de
“apologia das invasões estudantis”. Num texto chamado “OCUPAR como conceito
político”, que poderia perfeitamente ter sido afixado nos muros da
Universidade de Pequim em 1966, Tiburi mistura Guy Deboir com Michel Foucault e
cria uma espécie de “ontologia política” em que todo ser só pode definir-se
como tal ao “aparecer para outro”. Esse ato (ou fenômeno) é, na opinião de
Tiburi, ato político “gerador de poder".
A professora invoca uma “coisa” chamada
“conceito-prático” - seja lá o que isso signifique, diz que o “direito de ser é
um direito político” e fala na destruição da política pela propaganda
responsabilizando o “capitalismo” - aparentemente, esquecendo Goebbels e o
tamanho do Estado no Terceiro Reich ou achando que Adolf Hitler era
“capitalista”.
Tiburi coloca seu texto de uma forma que poderia ser
resumida numa paródia de Mao Zedong - “O Poder Político nasce da Ocupação de
uma Sala” - o que não deixa de ser uma evolução já que a frase original do
genocida chinês dizia que ele, poder político, “nasce do cano de uma
arma”.
Diz ainda a professora Márcia - “Há vários modos de
“ocupar”. O que o governo golpista faz nesse momento é ocupar. A maneira
golpista de ocupar se opõe à maneira revolucionária. A ocupação golpista tem
algo de invasão, de colonização. A ocupação revolucionária se faz com corpos em
estado de alegria política e tem como forma a descolonização e a
desobediência.” A “alegria” de Tiburi deve ser aquela mesma de junho de 2013
quando o PSOL financiou os marginais que depredaram, saquearam e invadiram tudo
que estivesse no seu caminho por todo Brasil.
A resposta que deve ficar à filósofa gaúcha, depois de
todo seu palavreado, depois de toda confusão com o conceito de corpo,
consciência, Direito, propaganda, revolução...enfim, depois de tudo aquilo que
ela escreveu é a seguinte - nem a senhora nem seus colegas da Universidade
enganam mais ninguém. Estudante brasileiro algum, que está invadindo escolas e
prédios públicos, é dotado de “consciência própria”. São vocês, de dentro da
Universidade, que dizem o que eles devem pensar e, fazendo uso de uma linguagem
que lhe é muito cara, professora, tomam a “posse dos seus corpos” para os
colocar contra a Polícia e o mesmo Estado de Direito que paga os seus colegas
comunistas dentro das Universidades Públicas.
O sonho de todos vocês é ver o Brasil de 2016 tomado por
guardas vermelhos como aqueles da China em 66. Não vão conseguir.