O aumento da arrecadação e um controle restrito do
orçamento devem reduzir bastante o déficit primário e gerar, mais à frente, o
tão esperado superávit.
O primeiro ano do governo Bolsonaro se aproxima do fim
com sinais de que poderá ser mais exitoso do que muitos previam no início do
seu mandato. Depois de
30 anos em que nos acostumamos a um padrão de cooperação
entre o Executivo e o Legislativo para levar adiante o plano de governo, a
forma de governar de Bolsonaro foi um choque para a grande maioria dos analistas.
A relação quase conflituosa do Planalto com o Legislativo
foi lida muito cedo como um caminho direto para crises constantes e uma
paralisia das ações do governo em um momento de crise econômica grave e da
necessidade de reformas importantes.
A falta de uma base política estruturada para aprová-las
seria o caminho natural para tal situação.
Além disto, o jeito tosco e truculento do presidente ao
comunicar para a sociedade alguns de seus valores ideológicos criou um
mal-estar na elite do país e na mídia.
Citaria ainda como origem deste desconforto inicial,
certo radicalismo do todo poderoso ministro Paulo Guedes na defesa de seus
planos para a economia. Dizia ele que estava tudo errado e que seria preciso
uma verdadeira revolução liberal na busca de um estado mínimo na relação com a
sociedade. Alguns símbolos importantes da ação social do Estado brasileiro,
como a Zona Franca de Manaus, teriam que ser sacrificados ao longo do caminho
de uma reforma fiscal radical.
Mas ao que vimos ao longo deste ano foi uma adaptação
pragmática progressiva de vários atores a esta nova forma de governar, com o
Legislativo ampliando seu espaço de ação política para buscar não um conflito
sistêmico com o Executivo, mas um trabalho conji8nto para construção de uma
agenda comum para o país. O melhor exemplo desta nova forma de governar foi o
desenho a quatro mãos da PEC da reforma da Previdência e, posteriormente, sua
aprovação, em dois turnos, nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal.
Neste processo despontou Rodrigo Maia como uma liderança
política do Legislativo capaz de articular junto a seus pares as ações do
Executivo, tornando funcional esta nova forma de governar do presidente
Bolsonaro. E com o tempo, e principalmente com os conflitos que viveu, Paulo
Guedes aprendeu os limites de seu poder e a necessidade da negociação política
com os representantes eleitos pelo povo para viabilizar sua agenda liberal.
Em 2020, o governo deve encontrar cenário bem mais
favorável, o que poderá facilitar o ataque à questão fiscal.
Neste choque de realidade, sua própria vontade
revolucionária foi domada, como indica sua foto em Manaus declarando enterrado
o projeto de acabar com a Zona Franca. A crise social no Chile – e a convocação
de uma Assembleia para modificar a Constituição outorgada pela ditadura
Pinochet – também veio a tempo para moderar os anseios do ministro da Economia
nas suas negociações com o Congresso, facilitando o processo de aprovação das
reformas liberais necessárias para o Brasil.
Uma fotografia interessante da avaliação do governo
Bolsonaro neste final de primeiro ano pode ser encontrada na pesquisa de
opinião mensal do Ipesp e da corretora de valores XP relativa a novembro.
Apesar de ser realizada por telefone, a sua repetição mensal nos dá um quadro
evolutivo a ser visto com confiança pelo analista. Hoje para 39% dos
entrevistados o governo Bolsonaro é ruim ou péssimo.
Por outro lado, 32% avaliam como ótimo ou bom e 25% como
regular, somando 57% dos entrevistados que, segundo o critério europeu de avaliação
de mandatários no poder, apoiam o governo do presidente.
A mesma pesquisa mostra que Bolsonaro poderá ter em 2022,
no final de seu mandato, 45% de ótimo e bom e 16% de regular, somando 51% de
apoio. Os que acreditam que seu governo será ruim ou péssimo chegam a 32% dos
entrevistados.
Esta é uma medida, ainda que precária, do resultado das
eleições de 2022.
No segundo ano de seu governo o presidente Bolsonaro de
encontrar um canário bem mais favorável na economia, o que poderá facilitar o
enfrentamento da questão fiscal. Um grande número de analistas de mercado já
trabalha com uma previsão de crescimento do PIB da ordem de 2,5% em 2020. Neste
canário, o aumento da arrecadação de impostos, que acontecerá naturalmente, e
um controle estrito to orçamento como vem sendo feito, deve reduzir bastante o
déficit primário e gerar, mais à frente, o tão esperado superávit. Por outro
lado, a nova estrutura a termos dos juros vai permitir inverter a curva de
crescimento da dívida pública federal bruta, como mostra o gráfico anexo
produzido pela STN.
Se este cenário realmente ocorrer o governo terá um tempo
maior para aprovar no Congresso as PECs que devem tratar da questão das
despesas obrigatórias estabelecidas na Constituição. Estas medidas são
necessárias para permitir que ocorra, com possibilidade de sucesso, a discussão
de uma reforma tributária que realmente abra espaço para uma mudança em nossa
estrutura de impostos e a tão necessária redução da carga tributária que onera
hoje as empresas brasileiras.
O cenário descrito mostra uma oportunidade que não pode
ser perdida pela sociedade brasileira depois de tantos anos de crise e
sofrimentos.