Querem saber como se programa um desastre? Antecipo que meu maior desejo é morder a língua e ter de escrever: "errei!".
Estamos em outubro e o Grêmio não tem um padrão de jogo. E uma análise equilibrada mostra que as chances de vaga na Libertadores diminuem a cada rodada pelo mau desempenho da equipe e pela tendência de melhora dos concorrentes. Mas ainda tem maluco que fala em título...
O atual elenco vai ter perdas significativas para 2024, a começar por Suarez, que sai no fim do ano. Já perdeu Bitello. Nem vou falar do risco (real) de que outros saiam contrariando o interesse do clube.
Ou seja, a direção precisa já estar planejando a temporada de 2024, quando terá Brasileirão, Copa do Brasil e (duvido) Libertadores. E terá de renovar o grupo e contratar (com um orçamento limitado). Já começou a planejar? Conseguiu reunir cabeças inteligentes para produzir ideias?
Por mais que os deformadores de opinião ignorem, o mérito maior da boa posição do Grêmio neste ano, quando se esperava pouco de quem vinha da segundona, é da direção que, com inteligência, contratou vários bons atletas (destaque para o magnífico Luis Suárez). Por isso o clube não ficou naquelas de só se manter na primeira divisão. E, como esta coluna já provou apontando os muitos pontos perdidos burramente, ele poderia, com o grupo que tem, estar disputando o título do Nacional.
Só que, o que a direção fez com as mãos, desfez com os pés. Ao planejar o ano atual, de completa renovação, deveria perguntar-se: qual é o técnico com perfil para este momento? Não se perguntou. Só atendeu o "eleitor do pátio" e foi atrás do técnico atual (que não é o pior, mas provou não ter perfil para o grande empreendimento iniciado).
Há perguntas óbvias: o técnico está tirando do grupo o máximo do seu potencial? O que faz ele com os atletas que a direção conseguiu trazer? Por exemplo, montou um esquema para aproveitar o extraordinário Luis Suárez? Nada! Mas é por aí que se avalia a capacidade do técnico.
É sabido que Portaluppi, o Invicto, foi o mentor das contratações na gestão de Romildo Bolzan (que redundou no rebaixamento). Ninguém ignora aquele fracasso: milhões e milhões jogados no ralo pagando jogadores, muitos em fim de carreira, que só fizeram turismo em Porto Alegre.
Frise-se que ele não influiu nas ótimas contratações da direção atual. Mas para 2024, será ele o mentor da renovação ou a direção vai decidir sem os palpites dele? E que sentido teria contar com um técnico que não ajuda, mas só atrapalha nas escolhas? (Com ele, neste ano, o Grêmio foi, dos grandes, o único que não aproveitou as janelas de transferência.)
Ele parece julgar-se maior que o Grêmio. Na sua entrevista pós-jogo com o Bragantino na Arena, ele tirou o corpo fora e jogou a frustração da torcida no colo da direção. Foi uma quebra de hierarquia com margem a demissão por justa causa. Não deu em nada! Aí veio o Grenal. O Invicto decidiu não dar a entrevista pós-jogo, se mandou para o Rio deixando de treinar a equipe por cinco ou seis dias. De novo, não deu nada. O clube parece empresa estatal: acaba tudo em conversa de compadres...
A fórmula do naufrágio é esta: manter o técnico (que não tem o perfil conveniente e que, por erros da direção atual e da anterior, tem uma relação viciada com o clube); contratar atletas que ele indica e formar uma equipe deficiente (que, sabe-se, nunca terá um padrão de jogo); e, no fim, escutar constrangida o técnico dizer que o fracasso da equipe é devido a não receber os nomes que ele queria, sendo óbvio que a direção só pode contratar o que o limitado orçamento do clube permite.
Aí está a crônica de um naufrágio anunciado. Eu só espero que Alberto Guerra decida fazer este cronista passar vergonha, contrarie todas estas previsões e mude a trajetória do Grêmio.