Em dezembro de 1924, quando deixou a prisão, muito pouca gente acreditava que Adolf Hitler pudesse constituir um perigo para uma Alemanha liquidada pela Primeira Guerra Mundial.
Em certo sentido havia, em relação ao golpe de estado, ao famoso Putshc da Cervejaria de Munique, uma esperada parcimônia, um certo grau de tolerância (politicamente correta) com alguém que havia lutado pelo exército do Kaiser – é como se Hitler houvesse sido “perseguido por uma Ditadura”, como se merecesse “anistia” e representasse, com seu sofrimento, uma parcela gigantesca do povo alemão.
Antes mesmo de ser preso, foram o dom da oratória e a capacidade de inspirar lealdade pessoal que chamaram a atenção de Anton Drexler e Dietrich Eckart – fundadores do Partido Nazista. Hitler foi, antes de tudo, um personagem que representava, em si mesmo, o “alemão médio” e a esperança de uma Nação desesperada para encontrar um significado para sua história. Sua capacidade de comover e enfurecer, de fazer rir e chorar, de tomar posse de corações e mentes de suas plateias constituíram a própria base da propaganda política como hoje a conhecemos. Não há que se falar em Duda Mendonça ou João Santana sem a lembrança de Joseph Goebbels.
Ontem, dia 10 de junho de 2016, na Avenida Paulista, Luís Inácio Lula da Silva, apresentou ao país a sua versão da cervejaria de Munique. Lula fechou a Avenida Paulista para atacar toda ordem institucional que ainda resta no Brasil. Atacou Michel Temer, desafiou a Justiça a prendê-lo e, num país economicamente destruído e moralmente devastado, disse que “eles querem vender o Brasil” - da mesma maneira que Hitler atacava, muito antes de atacar judeus, os alemães que assinaram o Tratado de Versalhes que deu fim à Primeira Guerra Mundial.
As semelhanças entre os discursos de Hitler e de Lula são maiores e muito mais importantes do que as diferenças. Aqui não nos interessam o antissemitismo fanático, o genocídio e o horror a Segunda Guerra provocados pelo Nazismo. Nossa obrigação é perceber a contínua necessidade de autocomiseração, de afirmar-se como “coitadinho e representante do povo”, dos discursos fanáticos e da divisão da Alemanha (e do Brasil) nos “bons e nos maus”.
Acima de qualquer coisa é necessário lembrar que os alemães de 1934 não viam em Hitler perigo algum para a frágil democracia em que viviam - assim como milhões de brasileiros pensam que Lula é, apesar de tudo, apenas um “político como outro qualquer” - bom ou mau, honesto ou não, “Lula é compatível com a vida numa sociedade democrática”, não é??
Lula é, como Hitler foi, um grande ator à procura de uma plateia para representar sua farsa. Na Alemanha nós sabemos como tudo terminou – no Brasil ainda não.