A desinibida militância da escritora Martha Medeiros no jornal (5)
Por Renato Sant'Ana
Volto a "Uma escolha fácil", artigo de Martha Medeiros em Zero Hora. E aponto a astúcia ideológica em subtextos que fomentam fake news.
Surfando numa onda de desinformação para pintar seu candidato como santo e o adversário como diabo, ela fala com dicção de inquisidor e acusa Bolsonaro: "(...) e os mantém mal-informados através da indústria das fake news, a única coisa que progrediu nos últimos quatro anos." Falso!
Na coluna anterior, fiz lembrar o camping digital do PT em que foram treinados milicianos de redes sociais, preparados inclusive para criar fake news: "indústria" do PT que funciona desde 2010. Também mostrei que Martha erra ao insinuar que o governo atual está paralisado: não está. E, à parte de muitos defeitos, tem realizações realmente positivas.
Mas falemos de fake news e do adjutório de Martha Medeiros a essa praga. Quando ela conclama a "corrigir nosso erro histórico" e "besteira que fizemos em 2018" (aludindo à não eleição de Haddad) e a que "voltemos aos governos que nos desiludem, como todos desiludem em algum ponto" (pedindo voto para Lula), o principal está nas entrelinhas: no "sem dizer dizendo". Ela prontifica o leitor médio e de memória curta a aceitar: "oh, Lula não é tão mau, tem defeitos como todo mundo".
Seu artigo é uma cortina do tipo blecaute a manter às escuras os fatos que não convêm à sua tese; traz ideias nas entrelinhas driblando a crítica do leitor; e, além de satanizar Bolsonaro, faz a apologia do governo mais corrupto da nossa história. E predispõe o tal leitor médio a acreditar em mentiras tais como "Lula é perseguido porque as elites não gostam dos pobres", "ele é uma vítima", entre outras falácias.
Ela é, pois, mais uma formadora de opinião a produzir caldo de cultura para desenvolver uma das mais insidiosas fake news em circulação: a da falsa absolvição do Lula pelo STF. E qual é a verdade dos fatos?
É Luiz Fux quem afirma: "Ninguém pode esquecer o que ocorreu no Brasil, no mensalão, na Lava Jato, muito embora tenha havido uma anulação formal, mas aqueles 50 milhões [do Geddel] eram verdadeiros, não eram notas americanas falsificadas. O gerente que trabalhava na Petrobras devolveu US$ 98 milhões e confessou efetivamente que tinha assim agido."
E Gilmar Mendes declara com ênfase que a anulação de processos da Operação Lava Jato foi um "ato formal" e que erros processuais (alegados para a anulação) não apagam fatos revelados pela investigação. E fala em tom conclusivo: "Ninguém discute se houve ou não corrupção". (Não é demais lembrar que os processos envolvem direta ou indiretamente Lula.)
Mesmo assim, milicianos de redes sociais - intrometendo-se em blogs não alinhados à esquerda, atacando jornalistas independentes, agredindo quem critica o PT e afins e ajudados por uma imprensa viciosa - propagam a fake news da absolvição de Lula no STF. Mentem! Lula foi, isto sim, beneficiado por piruetas hermenêuticas que fizeram os processos voltarem à estaca zero (mera "anulação formal"). Ou seja, o STF só mandou fazer tudo de novo, jogando no lixo o trabalho da PF e do MP sem jamais declarar que Lula é inocente. Ele ainda é réu, pois.
Martha Medeiros não chega a proclamar literalmente a inocência de Lula. Mas, nas entrelinhas do seu manifesto, ela enxerta, sim, o pressuposto da absolvição e inocência do candidato, uma mensagem subliminar que ampara a mais gravosa fake news do embate político atual. Ou será que, numa hipótese bem pior, ela vai reconhecer que faz campanha para um candidato que é acusado formalmente de vários crimes?
(Esta coluna continua.)
Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.
E-mail: sentinela.rs@outlook.com