Um velho e sábio amigo de muito e muito tempo atrás, o engenheiro Nissin Castiel, que montou todo o complexo industrial do antigo grupo Synteko, Gravataí, que nem existe mais com este nome, numa das reuniões de avaliações que mantínhamos na então CRN, a estatal federal de nitrogenados, costumava me ensinar que um dos métodos que ele mais estimava seguir na busca da resolução de problemas era o que chamava de pass by pass, ou seja, passo a passo.
Eu brincava dizendo para ele que preferia um ensinamento menos prosaico, mas também técnico, no caso o preferido por Jack, o Estripador:
- Vamos por partes.
Eu pensei nisto tudo depois que li o artigo mais recente do jornalista J.R. Guzzo, que chama de pigmeus os senadores que votaram em Flávio Dino, apesar da resistência dos 31 votos contrários, o que não é pouco, considerando-se os R$ 10 bilhões que o governo injetou nas contas de benefícios que parlamentares concedem através das suas emendas parlamentares.
O jornalista Guzzo avisa o que já sabemos, ou seja, que Flávio Dino vai reforçar a célula política em que se transformou o Supremo Tribunal Federal. É isto.
Será 9 contra 2, uma esmagadora maioria para perseguir, reprimir e intimidar a oposição, mas não só a direita bolsonarista, que se supõe.
De resto, o resultado da votação não chega a ser surpreendente, mas não só pelas razões que coloquei.
Há 129 anos o governo não perde numa votação dessas.
J.R. Guzo pergunta nos eu arrigo;
- Muda alguma coisa?
Ele mesmo responde, certeiro:
- Muda para pior, claro, levando-se em conta que o novo ministro é uma agressão ambulante à liberdade.
Vale a pena ler mais:
- Como ministro da Justiça de Lula, foi o marechal-de-campo da repressão política do governo. É um inimigo declarado da livre expressão, que considera uma atividade análoga à delinquência social. Sua cabeça gira em torno das ideias de proibir, punir, prender, cassar, indiciar, tocar a Polícia Federal em cima. Mas nada isso realmente altera o produto da operação. A grande maioria dos outros ministros é igual a ele; uns até fingem que não são, mas na hora de decidir dá na mesma. Dino vai tornar o STF mais extremista do que é na perseguição à “direita”, na anulação das leis que o Congresso aprova e na sua guerra contra os direitos e as liberdades.
Nós sabemos que desde o início do governo Bolsonaro o Brasil não tem mais um STF, mas um Partido Político de corte ideológico totalitário, governando em consórcio com o sistema, ou seja, em mancebia com todo o Eixo do Mal, agora reforçado pelo Executivo.
Não é pouca coisa.
Eu acho que o trecho mais assertivo do artigo de J.R. Guzzo é quando ele constata:
- Vão continuar mandando num regime que não tem povo, não tem ordem jurídica e não tem nada para lhe dar suporte fora do Exército
É a chave de tudo.
A chave de tudo é novamente o Exército, gostem ou não gostem vocês.
Só ele poderá conter a resistência oposicionista quando ela avançar do meio das ruas, dentro da lei concedida atual, mesmo assim, até formas superiores de luta política, sempre dentro da lei concedida atual, como serão os casos de povo na rua e greve geral nacional de conteúdo político.
É delírio ?
Não é delírio. Eventos como os da Primavera Árabe e da Praça Tahir, na Ucrânia, são demonstrações de que só o povo organizado nas ruas, em greve geral nacional, é capaz de derrotar a tirania, sempre dentro da lei concedida.
Arrostar este povo, só com o Exército e as PMs, porque o Eixo do Mal não tem forças de segurança suficientes para a repressão militar e policial.