Um bom legado para 2019
Quando o novo presidente receber a faixa, em 2019, a
economia deverá estar bem mais saudável do que em 2016, quando terminou a
irresponsável aventura petista
Quando o novo presidente da República receber a faixa, em
2019, a economia brasileira deverá estar bem mais vigorosa do que hoje e
infinitamente mais saudável do que no primeiro semestre de 2016, quando
terminou a irresponsável aventura petista. A produção terá crescido entre 2,5%
e 3% em 2018, menos pessoas estarão desempregadas e a inflação continuará
moderada, segundo todas as projeções divulgadas nas últimas semanas por equipes
de competência reconhecida. Os economistas do Banco Central (BC) apresentaram
sua contribuição ontem. Segundo suas contas, o Produto Interno Bruto (PIB)
deverá crescer 2,6% nos próximos 12 meses, mais que o dobro da taxa estimada
para este ano, de 1%. Os números divergem dos produzidos por outras
instituições, públicas e privadas, mas há concordância quanto a pontos
fundamentais: a recessão ficou para trás, a recuperação se instalou, o
desempenho é muito melhor que o do trimestre final do ano passado e a tendência
é de aceleração em 2018.
As novas estimativas do BC apareceram na edição de
dezembro do Relatório de Inflação, um panorama amplo das condições econômicas
internas e externas. É o mais importante relatório desse tipo divulgado
periodicamente por uma instituição federal. Os cenários tomados como base para
decisões sobre juros são apresentados com muito mais detalhes que em
comunicados e atas de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Os técnicos do BC, como os de outras instituições, têm
revisto, normalmente com mais otimismo, as estimativas de expansão econômica.
Em setembro, os estudos apontavam crescimento de 0,7% neste ano e de 2,2% para
o próximo.
Os novos números praticamente coincidem com a mediana das
projeções coletadas na semana anterior no mercado e ficam pouco abaixo daqueles
apresentados, há poucos dias, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), de 1,1% para 2017 e de 3% para 2018.
A pequena diferença – nem tão pequena no caso do
crescimento em 2018 – entre as estimativas de dois entes federais, BC e Ipea, é
um sugestivo sinal de seriedade. É algo raramente encontrado em regimes como
aqueles apoiados pelo PT. Nesses, nem a divergência entre fontes privadas e
fontes oficiais é aceita pelos donos do governo como parte da normalidade ou
como compatível com sua noção de democracia.
Dois pontos particularmente relevantes no trabalho do BC
são a análise do crescimento industrial em 2017 e a estimativa de retomada do
investimento. A construção civil deve fechar este ano com retração de 5,2%, mas
os demais segmentos – de transformação, de extração mineral e de produção e
distribuição de eletricidade, gás e água – voltam a números positivos. O estudo
mostra, além disso, uma recuperação disseminada entre os segmentos industriais
e baseada principalmente no mercado interno, apesar do empuxo proporcionado
pelas exportações.
É igualmente animadora a revisão do desempenho e das
perspectivas do investimento produtivo, medido como formação bruta de capital
fixo. A retração estimada para este ano foi reduzida de 4,2% para 2,5%. Para
2018 é esperado um avanço de 3%. Em 2017, a pequena reação do investimento
esteve associada basicamente às compras de máquinas e equipamentos. No próximo
ano, a construção, segundo a projeção do BC, deverá influir positivamente na
expansão do capital fixo, condição incontornável para um crescimento prolongado
e sem risco de pressões inflacionárias e desajustes nas contas externas.
A retomada do investimento está condicionada à
continuidade da baixa dos juros e, portanto, à permanência de uma inflação
moderada. Em conjunto, a expectativa de recuperação segura da economia depende
do avanço das medidas de ajuste e reformas das finanças públicas. O lembrete,
quase um mantra nos trabalhos mais sérios sobre perspectivas da economia
brasileira, reaparece no último Relatório de Inflação deste ano. A consolidação
do crescimento continua a depender da modernização das instituições e dos
padrões da gestão pública – da qualidade, enfim, das decisões políticas.