Troca de guarda no Banco Central

Quem é e o que pensa Ilan Goldfajn, o mais cotado para assumir o posto de guardião do real

Flavia Galembeck, Istoé Dinheiro

O novo ministro da Fazenda Henrique Meirelles prometeu para a segunda-feira 16 o anúncio do sucessor de Alexandre Tombini no Banco Central. O nome mais provável para assumir o posto de guardião da moeda brasileira é o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, que concorria com Mário Mesquita ao posto. Se nomeado, Goldfajn deve reproduzir no BC a mesma estratégia que o tornou célebre entre seus pares no Itaú Unibanco. Ao ser encarregado, em 2010, da espinhosa tarefa de unificar as tesourarias de três bancos (Itaú, Unibanco e BBA), ele teve de transformar em um coro afinado os discursos, por vezes dissonantes, de 12 economistas que trabalhavam nas três casas, muitos deles com carreiras vistosas - e egos inflados.
Seu plano passou pela reprodução, em parte, de uma estrutura de pesquisa baseada em modelos matemáticos robustos. Esse instrumental teórico era usado para prever e calcular indicadores econômicos, algo que frequentava seu dia a dia como diretor de Política Econômica do BC, onde ele trabalhou entre 2000 e 2003. "Ele tinha uma visão ampla do sistema", comenta uma fonte que acompanhou de perto o trabalho de Goldfajn no Itaú. De fato, o economista é reconhecido pelo notório saber sobre macroeconomia e pela experiência em estratégias para o combate à inflação e condução da política monetária.
Em seu Ph.D, obtido no Massachusetts Institute of Technology (MIT), ele produziu um estudo sobre dívida pública, que foi premiado com o prêmio do "World Economy Lab", da instituição americana. A experiência vem a calhar, já que o endividamento do governo é um dos principais problemas da economia brasileira para o governo Temer resolver. Paralelamente, com o seu estilo de coordenar o trabalho, Goldfajn, que não é o mais simpático nem o mais tirano da turma, embora seja duro quando necessário, foi arrefecendo a vontade dos demais economistas do banco em relação a quem seria o porta-voz da instituição.
Em pouco tempo, ele mesmo assumiu a posição sem que a esperada guerra de egos se concretizasse. "Goldfajn impôs respeito de uma maneira sustentável ", confirma um ex-colega de banco. Tempos depois, ele instituiu uma medida que causou desconforto entre seus colegas. Como ele era muito requisitado para fazer apresentações a clientes, como, por exemplo, do segmento corporativo, ele passou a enviar a fatura das horas trabalhadas da equipe para o centro de custos do setor. "Ele tem uma capacidade de organização acima da média e foi o homem certo na hora certa", avalia o ex-colega.
Suas opiniões sobre o papel do BC na economia e no sistema financeiro estão em linha com o pensamento econômico ortodoxo. Ao ser chamado a opinar na Comissão de Assuntos Econômicos no Senado, em 2013, Goldfajn defendeu maior transparência na condução da política fiscal. Na ocasião, ele afirmou ser a favor da independência do BC, pois isso daria mais clareza e transparência na condução da política monetária. Essas opiniões constam de artigos publicados no livro "Como reagir à crise?", coletânea organizada por ele e por seu colega no Itaú BBA, o economista Edmar Bacha.
Recentemente, ao comentar o Relatório Trimestral de Inflação pelo BC, Goldfajn reafirmou que o Copom (Comitê de Política Monetária) deve reduzir os juros apenas no segundo semestre deste ano. Ele esperava quatro cortes de 0,5 ponto percentual na Selic, a partir de julho: "A recessão prolongada e o câmbio mais estável devem contribuir para uma gradual redução das expectativas de inflação, o que abrirá espaço para o ciclo de corte de juros mais adiante". Obviamente, com a posse do novo governo e a troca do comando no BC, essas e outras previsões devem mudar.
Nascido em 1966 em Haifa, Israel, Goldfajn cresceu no Rio de Janeiro. Estudou em uma escola tradicional judaica em Botafogo, o Colégio Israelita Brasileiro A. Liessin, vizinho do Colégio Princesa Isabel, onde a psicóloga Denise Salomão Goldfajn, sua mulher, cursava o ensino médio. Os dois se casaram em 1991, logo após ele concluir o mestrado na PUC-RJ, que engatou na sequência do curso de Economia na UFRJ, concluído em 1988. Já casados, os dois seguiram para os Estados Unidos, onde ele concluiria o Ph.D no MIT, em 1995. Pais de três filhos, Gabriel, Maya e Amir, o casal ainda ficaria mais quatro anos nos Estados Unidos.
Ilan lecionou na Brandeis University por dois anos, até ir para o Fundo Monetário Internacional (FMI), onde foi economista até 1999. Nessa época, ele ainda foi consultor do Banco Mundial e da ONU. De volta ao Brasil, Goldfajn lecionou na PUC-RJ por dez anos. Ele ainda foi sócio da Gávea Investimentos, entre 2003 e 2006, chefiando as áreas de pesquisas macroeconômicas e análise de risco. Atuou como diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa em Economia da Casa das Garças, entre 2006 e 2009, e foi sócio-fundador da Ciano Investimentos e da Ciano Consultoria, entre 2007 e 2009, de onde se desligou ao ir para o Itaú.

Em uma entrevista para a publicação "Educar para Crescer", o economista lembra do papel fundamental de seu pai em sua opção de prolongar os estudos. "Só parei de estudar formalmente quando eu tinha quase 30 anos. Isso foi fundamental para minha vida na área de economia, que também é baseada no estudo. Logo que me formei, pensava em começar a trabalhar e meu pai me mostrou que eu podia investir mais em mim." José Jayme Goldfajn conhecia o mercado e sabia que esses anos a mais fariam toda a diferença na carreira do filho. Até 1991, José Jayme era sócio da Objetiva Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda.

Entenda de que modo Dilma montou seu bunker para fazer oposição a Temer no Palácio Alvorada

Gustavo Uribe e Marina Dias
Folha
Com dados e informações armazenados em quase 14 anos de gestão petista, a presidente afastada Dilma Rousseff estruturou no Palácio do Alvorada uma espécie de “centro de inteligência” da estratégia dos partidos e movimentos de esquerda de contraofensiva à gestão interina de Michel Temer. O peemedebista assumiu o Planalto na quinta-feira (12), após a abertura do processo de impeachment contra a Dilma no Senado.
No chamado “bunker de resistência”, a presidente afastada montou um arquivo detalhado com números e estatísticas de iniciativas e programas das gestões petistas, concentrado na evolução ano a ano e no número de beneficiários das principais vitrines eleitorais da gestão da presidente, como os programas Minha Casa, Minha Vida, Pronatec e Bolsa Família.
A ideia é utilizá-lo na formulação de um discurso unificado para atacar o governo interino sobre eventuais retrocessos em relação às administrações de Dilma e Lula e para rebater eventuais críticas feitas pela gestão Temer em relação ao legado do PT no país.
NA OPOSIÇÃO
Segundo um aliado de Dilma, a intenção é que as informações abasteçam tanto dirigentes de partidos ou movimentos críticos ao impeachment como as bancadas oposicionistas a Temer no Congresso, como a do PT e a do PC do B.
O arquivo tem sido administrado pela assessora presidencial Sandra Brandão, que foi cedida para a presidente durante o período de afastamento temporário. Apelidada de “Google do Planalto”, ela era responsável por fornecer rapidamente dados governamentais para Dilma durante os debates televisivos na campanha de 2014.
Na estratégia de oposição ao governo interino, Dilma também montou uma equipe para cuidar do compartilhamento de conteúdo nas redes sociais e reforçará a divulgação do portal Informa Brasil. Criado no ano passado pelo governo federal, mas que até o momento não havia sido divulgado, o site reúne informações sobre as iniciativas da gestão petista na Presidência.
VIAGENS PELO PAÍS
Em outra frente, Dilma iniciará ainda neste mês viagens pelo país para criticar o impeachment e dará semanalmente entrevistas para veículos de imprensa nacionais e internacionais. Na última sexta (13), por exemplo, falou com agências estrangeiras.
A estratégia, como explicou um assessor da presidente afastada, é “ocupar o máximo de espaço possível”, fazendo, assim, um contraponto a Temer no período de afastamento.
REFORMA NO PALÁCIO
Na tentativa de adaptar o Palácio do Alvorada à nova equipe, a presidente afastada fez mudanças no local.
As salas anexas à biblioteca da residência oficial e a sala de jogos foram reorganizadas para receber 25 auxiliares. Para abrir espaço, objetos e móveis foram transferidos para a Granja do Torto.
Para monitorar o cenário internacional e viabilizar viagens para o exterior, Dilma pretendia manter em sua equipe o ex-assessor especial para assuntos internacionais Marco Aurélio Garcia, mas, segundo apurado pela Folha, ele não deve integrar o grupo.
A equipe dela é formada por nomes como o assessor especial Giles Azevedo, o fotógrafo Ricardo Stuckert e o ex-subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil Jorge Rodrigo Messias, o “Bessias”, citado em conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal entre a presidente e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, em março.
Para a coordenação da área de comunicação, Dilma chamou o jornalista Olímpio Cruz, que foi secretário de Imprensa do Planalto no último ano do primeiro mandato da presidente.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Ao tomar conhecimento desta matéria, o comentarista Wilson Baptista Jr, fez o seguinte desabafo: “Além de usar os aviões da FAB para viajar falando contra o golpe, Dilma vai continuar usando um portal do governo federal (‘Informa Brasil’) para fazer propaganda petista? Essa é demais… Temer deveria bloquear o portal contra interferências”. Além disso, o Blog acrescenta que é preciso estranhar na equipe a presença do fotógrafo Ricardo Stuckert, que é pago pela Confederação Brasileira de Futebol (R$ 35 mensais) para trabalhar para Lula e Dilma. Realmente, é demais. (C.N.)