Entrevista: Gustavo Grisa, economista, sócio da Agência
Futuro, especialista em gestão e inovação pública.
- O que os alemães que estão investindo no aeroporto
Salgado Filho enxergaram, que nós não enxergamos?
Muitos já
enxergavam que a privatização do aeroporto é algo que estava caindo de maduro
há muito tempo.A ausência de parceiros de baixa
credibilidade no processo de leilão, como a Infraero e empreiteiras
brasileiras, ajudou a trazer operadores de primeira linha. Um avanço
regulatório.
O que os
operadores internacionais notaram é que há uma grande defasagem e potencial não
aproveitado no aeroporto que serve a terceira região metropolitana do País em
termos econômicos. O RS, mesmo com uma dinâmica mais lenta que outros Estados,
ainda é a quarta economia do País. E a sua infraestrutura é aquém. Essa é uma
percepção que não foge a qualquer análise objetiva.
- Quais as vantagens em ter um aeroporto com melhor
estrutura?
Em primeiro lugar, o transporte de cargas, que é uma
defasagem que já nos fez perder muitos investimentos para outros Estados. A
capacidade deverá ser ampliada. Em segundo lugar, a estrutura aeroportuária é
fundamental para tornar a cidade uma captadora de fluxos econômicos, de
conhecimento, de pessoas, de cultura. As "aerotrópoles" fazem um
papel importante de difusão do desenvolvimento. Um dos principais exemplos no
mundo é Cingapura, com seu aeroporto Changi, mas não há dúvida que a estrutura
aeroportuária e de seu entorno é um item importante para a competição econômica
mundial. No Brasil, Campinas e Brasília se desenvolveram muito sendo
"hubs" aeroportuários mais robustos, gerando negócios e investimentos
no entorno dos seus aeroportos. Esse ganho de qualidade poderá passar aos
serviços, à estrutura de transportes, receptivo e hotelaria, à integração desse
sistema.
- O que os governos podem fazer para continuar esse ciclo
?
Quanto ao aeroporto, assegurar que as condições previstas
no leilão serão cumpridas. Que se poderá ampliar a pista, que se poderão
realizar as melhorias em tempo hábil, que não haverão surpresas no meio do
caminho. Que os novos entrantes encontrem um bom ambiente para trabalhar. Melhorar a burocracia, os licenciamentos, os
sinais trocados. Investimento de nível global é sempre muito bem-vindo. Havendo
inteligência e articulação, não é preciso haver investimentos públicos de vulto.
Se o modelo brasileiro de privatizações evoluir para este caminho, poderá ser
uma chance de destravar alguns nós na infraestrutura do RS. Existe uma grande
oportunidade imediata de investimento em infraestrutura no Estado se for dada
uma mínima condição regulatória e de cumprimento dos contratos, no nível
federal e estadual.