Artigo, Milton Santos, Zero Hora - Acampamentos se multiplicam pela cidade

Artigo, Milton Santos, Zero Hora - Acampamentos se multiplicam pela cidade
O autor é jornalista

A invasão das calçadas ou passeios públicos por "moradores de rua" em Porto Alegre vem desde a administração passada. Os inquilinos municipais estão fixando residência à vontade. O maior exemplo é o Viaduto Otávio Rocha, mais conhecido como viaduto da Borges de Medeiros. Antes, eles se instalavam à noite; agora, ficam sempre no local. Ali dá de tudo. Há gente realmente sem teto, vendedores de drogas, usuários, assaltantes e até prostituição, além da sujeira e do cheiro insuportável. Há barracas, colchões, tábuas, um verdadeiro depósito nas calçadas.
Os acampamentos se multiplicam pela cidade. Na passarela de pedestres na rodoviária já há moradores de barracas armadas. Nos arredores da Praça do Papa, na Avenida Erico Verissimo, estão criando uma cidade no canteiro central, e na mesma via, nos fundos do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), já fazem fila para escolher lugar. Fora isso, ainda existem os vendedores de frutas, verduras e quinquilharias chinesas, que tomaram conta das calçadas no centro da Capital. Não se consegue nem mais andar. Exemplo é a Borges de Medeiros, da Rua Jerônimo Coelho até o Tudo Fácil, é um horror, os vendedores dividem o espaço com as filas de passageiros do transporte coletivo. Também há os vendedores de cigarros contrabandeados, que operam livremente. Não seria o caso de a Receita e a Polícia Federal entrarem em ação, já que é contrabando? Na Azenha, os problemas se repetem, e com a chegada do Natal o número de vendedores só vai aumentar. Não tenho ido à Avenida Assis Brasil, na Zona Norte, mas acredito que as invasões aconteçam por lá também. Sinto saudade do tempo do "Xerife Adeli Sell" que colocou ordem na Porto Alegre de todos nós.
Do jeito que as coisas estão, logo vão querer invadir nossas casas.
Outro local problemático é a Praça da Matriz, que foi invadida por traficantes e moradores sem teto. E a praça fica no centro dos três poderes; Palácio do Governo, Assembleia Legislativa e Tribunal de Justiça, além do Theatro São Pedro. Ali já aconteceu de tudo, assaltos, tiroteios e mortes entre traficantes e usuários. O local à noite é completamente escuro, não existe iluminação. E, com o abandono pelas autoridades constituídas, os jardins viraram banheiro público. Já que a praça é pública e de responsabilidade da prefeitura, será que os porto-alegrenses poderão ver segurança efetiva no local, com a presença da Guarda Municipal durante as 24 horas? Atualmente, policiamento só existe quando grupos de manifestantes vêm à praça para protestar.
No entanto, pelo visto, a coisa só tende a piorar, pois as autoridades, prefeitura, Ministério Público e os órgãos de segurança pública não tomam nenhuma providência. Do jeito que vai, só mesmo uma paródia da letra da música do Ultraje a Rigor para realmente mostrar a situação: "Nós vamos invadir sua calçada/ agora se você vai se incomodar/ então é melhor se mudar/ não adianta nem nos desprezar/ se a gente acostumar a gente vai ficar/ a gente tá querendo variar/ e a sua calçada vem bem a calhar".

Fica o clamor da comunidade em prol do direito de ir e vir e de viver numa cidade limpa e ordeira. Senão, do jeito que as coisas estão, logo vão querer invadir nossas casas. E os impostos cada vez mais caros.

Alerj se alinha ao enfrentamento da Justiça e do MP

Alerj se alinha ao enfrentamento da Justiça e do MP
A libertação de Picciani, Melo e Albertassi é um ato concreto contra juízes e promotores que atuam na frente de combate à corrupção, sob pressão do Congresso

18/11/2017 - 12h05
Editorial O Globo

Não é por que era considerada certa a decisão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) de libertar seu presidente, Jorge Picciani, o antecessor, Paulo Melo, e o deputado Edson Albertassi, todos do PMDB, que a medida deixa de ter importância.

Ao contrário, porque a unanimidade das previsões apenas reflete a percepção de como é evidente o controle que o partido tem da Casa, e da própria política fluminense. Isso a partir de meados da década de 90.

Só foram necessários 20 minutos para que a Alerj derrubasse a medida cautelar de prisão, para os três, aprovada por unanimidade, na véspera, pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). Provas e argumentos levados pelo Ministério Público, e aceitos pelos desembargadores, foram desconsiderados por 39 votos contra 19, tendo havido uma abstenção. Era necessário para o grupo de Picciani um mínimo de 36 votos.

Esta, porém, foi apenas uma cena — embora importante — na história, em curso, da crise de representação na política brasileira, em que um dos destaques é o escancaramento do PMDB como um partido fisiológico e de conhecidas ramificações na corrupção.

Um dos braços fortes do partido é este do grupo do Rio de Janeiro. A trajetória dessa turma é exemplar — no mau sentido. Um aspecto chama a atenção: a partir de 1995, o cargo que hoje é de Picciani foi ocupado pela primeira vez pelo jovem deputado Sérgio Cabral. Desde então, presidiram a Casa o próprio Picciani e Paulo Melo.

Não por acaso, todos pernoitaram juntos, de quinta para sexta, na penitenciária de Benfica, Zona Norte do Rio. O deputado Albertassi, denunciado, como Picciani e Melo, por receber propinas do setor de ônibus (Fetranspor), não ficou entre estranhos, por certo.

Não é comum que, ao mesmo tempo, tantas figuras graduadas de um partido político estejam sendo obrigadas a prestar contas por desvios éticos contabilizados aos milhões de dólares, segundo as investigações ainda em andamento. Junta-se a eles Eduardo Cunha, preso em Curitiba, também apanhado pela Lava-Jato, outro político com passagem pela Alerj. Para rivalizar com o PMDB, apenas o PT e seus dois presidentes também envolvidos em malfeitos — Lula e Dilma.


A defesa de Picciani, Melo e Albertassi assumida pela maioria da Alerj, sem qualquer respeito à inteligência do eleitorado, representa um gesto objetivo de alinhamento da Casa à grande aliança que esgrima no Congresso, com apoios no Planalto, para conter a Lava-Jato e qualquer outra ação de combate à corrupção que existe no mundo de negócios bilionários entre empresas privadas e o Estado, intermediados por políticos. Alguns dos quais abrigados no PMDB, conforme demonstram inquéritos. Há muito ainda para acontecer.