1. Nos últimos 13 anos, a
política externa brasileira padeceu de uma excessiva ideologização, que
comprometeu os interesses nacionais e a posição do Brasil no cenário
internacional. O alinhamento automático com regimes populistas e autoritários,
o distanciamento de parceiros tradicionais e a negligência de áreas
prioritárias, como a diplomacia econômica e comercial, resultaram no atual
quadro de isolamento, paralisia e perda de liderança, sobretudo no entorno
regional. Além desse aspecto substantivo, os anos PT também causaram danos
significativos ao Itamaraty, como instituição. O Ministério está
desprestigiado, seu orçamento degradado (tomado em termos proporcionais), seus
funcionários desmotivados. Embaixadas estão ameaçadas de despejo e as dívidas
do Brasil com organismos internacionais vêm fazendo com que o país chegue ao
ponto de perder direito a voto. A tanto chegamos.
2. A perspectiva de impeachment da Presidente Dilma
Rousseff abre a possibilidade para que se façam as necessárias e urgentes
correções de rumo. Dada a natureza da transição, não haverá tempo para
improvisos e tentativas de acerto. Para tanto, será necessária uma liderança
corajosa e com clareza de propósito à frente do Itamaraty. Uma liderança dotada
de uma visão mais pragmática, moderna, liberal e democrática sobre posição do
Brasil no mundo. Em sua gestão, o ex-Ministro Celso Amorim executou verdadeiro
expurgo entre seus pares e promoveu a posições de chefia uma nova geração de
diplomatas leais à sua liderança.
3. Nesse período, deixaram o Itamaraty os Embaixadores
Rubens Barbosa e Sérgio Amaral, dois nomes que contam com o respeito dos
colegas. E, nesse período, surgiram, sob a égide da dupla Celso Amorim-Samuel
Pinheiro Guimarães, secundados pelo prof. Marco Aurélio Garcia, a nova geração
de chefes da Casa, devidamente alinhados com a ideologia do partido de turno:
Antonio Patriota (Nova York), Guilherme Patriota (Genebra), Mauro Vieira
(Ministro de Estado), Rui Pereira (Venezuela), Antonio Simões (Madri), José
Antonio Marcondes de Carvalho (Subsecretário de Meio Ambiente e Energia), Paulo
de Oliveira Campos (Paris) e Everton Vargas (Buenos Aires), entre outros.
4. Essa política reflete-se na dificuldade, hoje, de se
identificar, na Casa, diplomatas independentes, com “signority” e que tenham
tido a oportunidade de exercer funções de relevo que lhes confiram as
credenciais necessárias a ocupar o cargo de Ministro. Uma rara exceção é o
atual Embaixador na OMC, Marcos Galvão. Talvez, no atual momento, uma liderança
de fora, com perfil elevado e peso político próprio, poderia melhor atender as
necessidades políticas e institucionais da política externa brasileira. Essa
liderança, além de projetar nossos interesses com maior efetividade, poderia devolver
prestígio ao Itamaraty, preservando-o como instituição. O Itamaraty é uma das
burocracias do Estado brasileiro mais preparadas para o desempenho de suas
funções. Seu alto grau de profissionalização é um patrimônio que deve ser
preservado e valorizado.