Entre os mil municípios com os maiores IDHs do País, Bolsonaro
venceu em 967, enquanto Haddad conquistou 33. Já nas mil cidades menos
desenvolvidas, Haddad ganhou em 975 e Bolsonaro em
Texto: Luiz Fernando Toledo e Cecília do Lago / Dados:
Vinicius Sueiro / Infografia: Bruno Ponceano
Apesar de ter perdido a eleição, o candidato petista
Fernando Haddad teve mais votos na maioria dos municípios brasileiros. O
petista ganhou em 2.810 cidades, ante 2.760 de Bolsonaro. Ainda assim, a
diferença de votos entre eles foi de 10,7 milhões.
Os dados levantados pela reportagem mostram ainda que,
quanto menor o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município, maior foi a
votação em Haddad – e quanto maior, mais votos para Bolsonaro. O indicador mede
a qualidade de vida da população com métricas de acesso à educação, longevidade
e renda.
Em São Caetano do Sul (SP), cidade com maior IDH do País,
o militar da reserva venceu com 75,1% dos votos. Já o pequeno município de
Melgaço (PA), com menos de 10 mil habitantes e o menor IDH do País, deu vitória
a Haddad por 75,6% dos votos.
A correlação é semelhante à estabelecida a partir das
eleições presidenciais de 2006, quando o candidato petista era Lula e o
antipetista era Geraldo Alckmin, do PSDB. A onda Bolsonaro praticamente
substituiu o protagonismo do PSDB. Alckmin teve votação abaixo do esperado,
mesmo no principal reduto do partido, o Estado de São Paulo.
A cidade de Nova Pádua, no Rio Grande do Sul, deu a maior
vitória de Bolsonaro – 93% de seus 1.904 habitantes o escolheram como novo
presidente. Guaribas, no Piauí, deu 98% de seus 2.938 votos a Haddad.
DESEQUILÍBRIO
Haddad conquistou mais municípios, porém com menos
eleitores
Apesar de ter conquistado maioria em menos municípios,
Bolsonaro foi vitorioso em cidades muito mais populosas do que Haddad – como
São Paulo, por exemplo, que tem o maior eleitorado no País. Em votos válidos, a
diferença de Bolsonaro para Haddad foi de 10,7 milhões de votos.
Os resultados do segundo turno mostram que o presidente
eleito venceu em menos cidades do Nordeste – no primeiro turno ele teve mais
votos em 38 de 1.377 municípios da região e no segundo, em 23. Haddad foi o que
mais teve votos na região – ele venceu em todos os nove Estados nordestinos.
Mas o militar da reserva teve vitória com larga diferença em Estados como São
Paulo, Acre e Santa Catarina.
Em São Paulo, Bolsonaro conseguiu vencer com folga – teve
67,97% dos votos, ganhando na grande maioria dos municípios. O governador
eleito no Estado, João Doria (PSDB), deixou de lado a figura do presidente de
seu partido Geraldo Alckmin, que não decolou na eleição presidencial, e colou
no nome do militar da reserva para se alavancar com pedidos de voto
“Bolsodoria”. Ele e Márcio França (PSB) vinham polarizando fortemente desde que
o socialista ultrapassou Paulo Skaf (MDB) e conseguiu ir ao segundo turno.
Doria venceu com 10,9 milhões (51,75%) de votos válidos.
Nos três Estados do Sul, a vitória de Bolsonaro foi ainda
mais expressiva. No Rio Grande do Sul, ele teve 63,24% dos votos válidos, ante
36,76% de Haddad. No Paraná, Bolsonaro ficou com 68,43% dos válidos, ante
31,57% de Haddad. Mas o Estado que mais deu votos para o presidente eleito na
região foi Santa Catarina, com 75,92% dos válidos, contra 24,08% de Fernando
Haddad.
Mudança. Alguns municípios mudaram de lado entre um turno
e outro. Bolsonaro conseguiu converter 25 municípios de Fernando Haddad, seis
deles em São Paulo, mas a resposta do petista foi maior. Haddad “virou” a
disputa em 120 municípios onde o capitão reformado tinha sido o vencedor no
primeiro turno, sendo que 41 deles estão em Minas Gerais, 19 em Goiás e 17 no
Rio Grande do Sul.
Além disso, Haddad herdou a vitória em todos os 103
municípios em que Ciro Gomes (PDT) tinha obtido maior parte dos votos, todos na
região Nordeste do País. No Estado do Ceará, que é reduto político de Ciro, o
petista teve um de seus melhores desempenhos no Brasil e ficou com 71% dos
votos válidos.
Essa transferência de votos de Ciro para Haddad já era
prevista na série de pesquisas Estado/Ibope/TV Globo divulgadas durante o
segundo turno, a partir do dia 15 de outubro, mesmo com o pedetista não
declarando apoio formal a Haddad. O ex-governador do Ceará teve 13,3 milhões de
votos no primeiro turno (12,47%) e ficou em terceiro lugar na disputa