Artigo, Facundo Cerúleo - O preparo de um final melancólico

Ainda faltam três rodadas para o fim do campeonato e o Grêmio já levou 53 gols. Em 2021, ao ser rebaixado, levou um total de 51. Se não tivesse hoje Luis Suárez, que tantas vezes salvou a lavoura com sua genialidade, provavelmente já estaria indo agora para o 4º rebaixamento.

O grupo do Grêmio é melhor do que os de Botafogo e Bragantino: era para estar disparado na frente deles. Não está! Alguém vai evocar a crise do Botafogo para desqualificar a crítica e justificar o injustificável? O Grêmio tem o melhor jogador em atividade no Brasil, Suárez, mas não tem um esquema preparado para tirar o máximo proveito do seu talento: o treinador fala muito, treina pouco e treina mal! Vão justificar isso?

Tem mais, desaproveitando o favor de os principais concorrentes estarem disputando outras competições e jogarem a meia-boca no Brasileirão, o Grêmio perdeu muitos pontos para equipes bem inferiores (por amadorismo do técnico).  Mas, mesmo assim, tem pontuação alta. Se houvesse cometido só a metade das besteiras praticadas, poderia estar na liderança. Nunca, como neste ano, o título esteve mais ao alcance do grêmio.

Aí vêm os "analistas" e, diante do chocolate aplicado pelo Atlético MG, dizem que a "defesa do Grêmio está desorganizada", que "o Grêmio vai ter que rever", que "não são só problemas de individualidades", mas nunca, nunca têm a grandeza de afirmar o óbvio, isto é, que a equipe está mal treinada por incompetência e boa dose de irresponsabilidade do técnico Renato Portaluppi (o Invicto) e, o que é pior, com aval da direção.

Fica-se com a impressão de haver entre o pessoal da imprensa um obsceno consenso para isentar de críticas o treinador do Grêmio. Não há de ser só para agradar aquela parte da torcida que, provando que é de todo alienada, dá apoio incondicional ao Invicto. Honestamente, não tenho hipótese para esse comportamento no mínimo ridículo.

O ano está perdido. Mas os picaretas insistem na conversa mole de que "para quem veio da segundona está ganho", incapazes de avaliar o que poderia ser com os recursos existentes. A direção foi muito criativa e achou soluções surpreendentes (destaque para a contratação de Suárez), mas jogou no lixo o próprio trabalho ao não contratar um técnico com o perfil adequado às circunstâncias peculiares do clube neste 2023.

Aos que brigam com os fatos, faço lembrar que não haverá um Luis Suárez e seus lances mágicos em 2024: o Grêmio estará menor. E se a direção for insensata e não trocar o técnico, acabará jogando a segundona em 2025.

Quem fracassa: o time, o clube ou a torcida? É um fracasso coletivo e articulado: a imprensa que sequer sabe fazer perguntas vende narrativas consumidas por uma parcela da torcida que apoia a manutenção de um técnico insuficiente para a grandeza do clube, que está nas mãos de uma diretoria que teme impopularidade e atende a apelos irracionais, o que redunda numa espécie de populismo que condena o Grêmio ao fracasso. Ou seja, são vários os atores do desastre (tal como na "era Bolzan"), sendo que o maior responsável é o presidente, mas o principal artífice é o treinador, que treina mal a equipe e que, com o aval da direção e a complacência da imprensa, é o grande "influencer" do clube.


A amizade de Bolsonaro com ditador anticristão

GUGA CHACRA 

Jair Bolsonaro, antes de ser eleito presidente, dizia ser defensor da civilização cristã e recebeu enorme apoio de Igrejas Evangélicas. Ao mesmo tempo, também dizia defender a liberdade e a democracia e costumava criticar regimes como os de Cuba e Venezuela. Agora, encerrado seu mandato, sabemos que recebeu joias da Arábia Saudita, uma ditadura que proíbe igrejas e a prática do cristianismo.

Inclusive, visitou e fez elogios a esta nação governada por um ditador sanguinário que ordenou o esquartejamento de um jornalista dissidente, apoia jihadistas, levou adiante uma guerra no Iêmen, impõe apartheid contra as mulheres, deu suporte a jihadistas na Síria e sequestrou o então premier do Líbano. Difícil ser mais hipócrita do que Bolsonaro nessa questão de ditaduras e do cristianismo.

Quando visitou Israel, Bolsonaro, ao contrário da quase totalidade das autoridades de países de maioria cristã, não visitou a Igreja da Natividade em Belém, nos territórios palestinos, onde, segundo a tradição, teria nascido Jesus. Tampouco o então presidente se reuniu com lideranças cristãs na Terra Santa, como os representantes das Igrejas Greco-Ortodoxa, Armênia Apostólica, Siríaca, Católica, Etíope e Copta.

Talvez Bolsonaro sequer saiba da existência de israelenses e palestinos seguidores do cristianismo ou da existência das igrejas cristãs orientais. Fica o benefício da dúvida. Mas por que não visitou a Igreja da Natividade, que qualquer seguidor das diferentes correntes do cristianismo sabe da importância?

E por que, uma pessoa que diz defender a liberdade, jamais condenou as ditaduras da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes?



Agnes, 20 anos, cuidou da casa, enquanto pai e mãe foram encarcerados por longos meses na Papuda e na Colmeia


A jornalista gaúcha Ana Maria Cemin conta mais esta dramática história de uma família dilacerada pelas prisões políticas do pai e da mãe. As crianças pequenas ficaram aos cuidados da filha mais velha.

Ao lado, foto da família, todos paramentados de verde e amarelo, inclusive o pequeninho, recebendo o pai, solto ontem com grilhões eletrônicos nos pés.


Na segunda-feira à noite, Agnes Gusmão de Oliveira, de 20 anos, saiu de Vitória da Conquista para Brasília. 

Foi buscar o pai, Joelson Gusmão de Oliveira, o mais recente preso político libertado com grilhões eletrônicos por Alexandre de Moraes, tudo depois de 11 meses confinado no Presídio da Papuda

A mãe de Agnes ficou seis meses presa no Colmeia. 

Agnes largou o curso de Odontologia no 5o semestre, visando para cuidar dos dois irmãos pequenos. O de 9 anos voltou a usar fralda à noite e o menor não dorme sem a mãe estar junto. 

O medo ronda a casa.

Notório saber político

 O ministro da Justiça, Flávio Dino, não foi indicado pelo presidente Lula da Silva para o Supremo Tribunal Federal (STF) por seu notório saber jurídico, e sim por seu notório saber político. A nomeação de Dino escancara que, para Lula, assim como para Jair Bolsonaro antes dele, o STF se transformou de vez em uma arena política.


Dino deixou a magistratura em 2007 para mergulhar na vida política. Por isso, não se conhecem muito bem suas qualidades como juiz, mas todos estão plenamente cientes de seus dotes políticos, e é em razão deles que o ministro ganhou a corrida por uma vaga no Supremo. Ex-deputado, ex-senador e ex-governador do Maranhão, Dino transformou o Ministério da Justiça em ribalta. Em vez de demonstrar a necessária discrição de quem era responsável por zelar pela defesa da ordem jurídica, dos direitos políticos e das garantias constitucionais, Dino ganhou os holofotes ao fustigar adversários e fazer prejulgamentos sobre casos envolvendo bolsonaristas e o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. Com isso, perdeu capital moral, mas ganhou o coração de Lula.


Mas não é só a Lula que interessa o ingresso de Dino no STF. Consta que os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes fizeram gestões por seu nome e também pelo nome do indicado por Lula para a Procuradoria-Geral da República, o subprocurador-geral Paulo Gonet. Não é novidade que ministros do STF se empenhem em emplacar nomes de sua confiança para vagas na Corte, mas poucas vezes se viu algo tão explícito. Articula-se à luz do dia a formação de uma tropa de choque.


Nada disso parece ter qualquer parentesco com o melhor interesse público. Já passou da hora de o STF voltar ao leito da normalidade institucional, afastando-se dos embates políticos. Com Dino, contudo, o que se descortina é o exato oposto do necessário esforço de autocontenção do Supremo.


O STF tem o dever de se reconciliar com a parcela da sociedade brasileira – que está longe de ser composta apenas por bolsonaristas e outros radicais – que tem visto com desconfiança a atuação da Corte, exatamente porque várias de suas decisões não raro são vistas como enviesadas. Não são receios infundados. Ministros do STF têm se deixado influenciar pelos voláteis humores da política, quando não os influenciam. Avalizam inquéritos eivados de questionamentos, relativizam direitos e atropelam garantias em nome da salvação da democracia. Reconheça-se que em certo momento o Supremo acertou ao esticar excepcionalmente os limites de sua atuação, pois o País viveu uma ameaça real de ruptura, mas esse momento já passou.


O problema é que parte do Supremo parece ter tomado gosto pela política, e não por acaso o Congresso começa a reagir a esse entendimento elástico sobre o papel da Corte na ordenação institucional brasileira.


É nesse contexto que deve ser lida a indicação de Flavio Dino ao STF. Como ministro da Justiça, Dino demonstrou imensa disposição para o embate. Em vez de submeter a política ao Direito, que era sua função no Ministério, fez o exato inverso. Em nenhum momento Dino atuou para demonstrar que as instituições de Estado estavam a salvo das virulentas disputas políticas das quais participava, quase sempre de forma ruidosa.


Recorde-se, por exemplo, que Dino não teve dificuldades para considerar que a suposta agressão de bolsonaristas à família do ministro Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma poderia ser enquadrada como crime contra o Estado Democrático de Direito, numa flagrante distorção do espírito da Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito. Ainda sobre esse caso, Dino chegou a declarar que a diligência de busca e apreensão na casa daqueles bolsonaristas, claramente desproporcional, estava plenamente justificada “pelos indícios de crimes já perpetrados” – conclusão à qual ele não poderia chegar dado o fato de que o inquérito não está concluído e corre em sigilo.


Ao apelar para interpretações heterodoxas da lei e da Constituição e atropelar o papel institucional do Ministério da Justiça, o sr. Dino deveria ter sido desconsiderado como candidato ao Supremo. No entanto, como o critério para a escolha não é jurídico, isso pouco importa.


Câmara aprova lei de Ramiro Rosário que usou ChatGPT para ser elaborada

Uma lei da Câmara de Porto Alegre que isenta a população de pagar por um novo medidor de consumo de água caso o objeto seja furtado levou poucos segundos para ser redigida por uma IA (inteligência artificial) e tramitou sem dificuldades pelo Legislativo até ser aprovada por unanimidade em plenário.

Após a sanção da lei pelo prefeito, no dia 23, o vereador Ramiro Rosário mandou comunicado ao editor para  informar que o projeto foi feito a partir de uma orientação ao ChatGPT com apenas a seguinte orientação, em apenas 289 caracteres:

- Criar projeto de Lei municipal para a cidade de Porto Alegre, com origem legislativa e não do Executivo, que verse sobre a proibição de cobrança do proprietário do imóvel o pagamento de novo relógio de medição de água pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto quando este for furtado.

O pedido resultou em um projeto de lei com oito artigos e justificativa, que foi incluído com pequenas  alterações posteriors, feitas pelo próprio ChatGPT no sistema eletrônico da Câmara Municipal em 7 de junho. ASeção de Redação Legislativa não fez objeções ao conteúdo de nenhum dos artigos e tampouco desconfiou do uso de IA.

O texto recebeu parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça e foi aprovado por unanimidade pelos vereadores em 18 de outubro. Conforme Rosário, a ferramenta não só cumpriu a tarefa de redigir um projeto de lei de conteúdo simples como foi pró-ativa: "Em um dos artigos ele determina que, caso não haja reposição do aparelho em 30 dias, o proprietário do imóvel ficará isento do pagamento das faturas de água enquanto não houver medição. Achei uma boa ideia e mantive, embora não tenha sido minha".

Na visão do vereador, a difusão da ferramenta pode auxiliar Câmaras de municípios menores a elaborarem projetos melhores economizando recursos.