O senador cassado Delcídio Amaral (ex-PT/MS) defendeu
nessa quinta-feira a saída do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros
(PMDB/AL). "O Renan, como o Eduardo Cunha (presidente afastado da Câmara),
deve sair urgentemente. Ele deve cair. Renan é o senhor dos anéis, faz o
que quer, manipula tudo, usurpa", disse Delcídio partiu para o ataque e
pediu a cabeça do presidente do Congresso depois da divulgação do áudio em que
Renan conversa com "Vandenbergue" sobre o processo de cassação
do ex-petista.
Os investigadores suspeitam que o interlocutor de Renan é
Vandenbergue Sobreira Machado, que é da diretoria de Assessoria Legislativa da
CBF, foi chefe de gabinete do ex-ministro Marco Maciel (Educação/Governo
Sarney) e é muito ligado ao PMDB e ao senador.
No diálogo, Renan diz a Vandenbergue que Delcídio
"tem que fazer. Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma
coisa humilde. Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias.
Família pagou. A mulher pagou." Vandenbergue respondeu. "Ele
(Delcídio) só vai entregar à comissão (Conselho de Ética), fazer essa carta e
vai embora".
O teor da conversa entre Renan e Vandenbergue Machado,
divulgada com exclusividade pela repórter Camila Bonfim, da TV Globo, nessa
quinta-feira, deixou Delcídio indignado. E com a certeza de que
sua cassação foi "manipulada" pessoalmente por Renan. "Ele
(Renan) tinha medo da minha delação, ele tinha comprometimento com o Palácio do
Planalto." Delcídio fechou acordo de colaboração com
a Procuradoria-Geral da República em fevereiro. Dias depois, foi colocado
em liberdade - ele havia sido preso em 25 de novembro de 2015 por suspeita de
tramar contra a Operação Lava Jato.
"Esse Vandenbergue é um cara que eu conheço há muito
tempo", afirma Delcídio. "Ele é diretor da CBF, mas se criou sempre
no PMDB. Começou como chefe de gabinete do Marco Maciel no Ministério da Educação
(Governo Sarney) e depois fez carreira no PMDB, especificamente com o
Renan", afirmou.
Boas relações
Delcídio relata que "tinha boas relações" com
Vandenbergue. "Mas achei estranho que ele ia ao meu gabinete aparentemente
para prestar solidariedade, para me visitar e o caramba, mas agora percebo que
ele ia a mando do Renan para sondar, para saber se eu ia mesmo fazer
delação premiada. A conversa gravada entre eles mostra que estavam mal
informados. Pelo que vi, a conversa foi no dia 24 de março. Eu já havia
fechado o acordo antes de ser solto em fevereiro. Vandenbergue sempre
frequentava o meu gabinete, sempre uma relação boa, amistosa, mas o interesse
dele era efetivamente me monitorar. Não só a mim como a minha família. A
mando do Renan."
"Fomos perceber mais na frente um pouco que não era
solidariedade do Vandenbergue, ele estava sendo mandado pelo Renan para me
monitorar. Como eu tinha uma boa relação com o Vandenbergue me foi
oferecido para minha defesa o filho dele, que é advogado. Ele se apresentou
para advogar de graça para mim. Mas ele não é meu advogado", explica
Delcídio.
Manipulação e medo
Na avaliação de Delcídio, o diálogo entre Renan e
Vandenbergue revela a preocupação do presidente do Congresso em tirar seu
mandato, o que de fato ocorreu no dia 10 maio por um placar devastador - 74
senadores votaram pela saída de Delcídio, nenhum colega a seu favor.
"Dentro dessas condições, como um Eduardo Cunha, ou seja, tendo todas as
rédeas do processo para julgar alguém e usado os poderes que tem, ele (Renan)
manipulou minha cassação", protesta Delcídio. "O diálogo (com
Vandenbergue) só confirma que Renan, o senhor dos anéis, deve ser afastado
imediatamente. Não tem mais condições de comandar o Senado", disse.
Na avaliação do ex-senador, o áudio de Renan e
Vandenbergue "caracteriza uma ação forte dele (Renan) de manipulação,
igual à que o Eduardo Cunha promoveu no processo da Dilma (Rousseff). Ficou
muito claro que Renan controla a situação. O cara está usurpando de um
espaço que ele tem dentro do Senado, usando a presidência para fazer o que
quer." Delcídio analisou um outro áudio, em que Renan chama
de "mau-caráter" o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
"Isso é muito grave, mostra mais uma vez como ele, Renan, é o senhor dos
anéis. Ele manipula tudo. Fui cassado por livre arbítrio do senhor
dos anéis. Queimou etapas do processo. Eu nunca vi, em treze anos de
Senado, uma reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no próprio
Plenário."
Para o ex-petista, Renan "tem medo, claro" de sua
delação à Procuradoria-Geral da República. "Ele tinha compromissos com o
Planalto, com senadores que se sentiam atingidos pela minha colaboração.
Pensaram em me tirar o mais rápido possível e não deixar eu ir para o plenário.
Não queriam que eu votasse o afastamento da Dilma. Essa fala dele no áudio
demonstra nitidamente que ele tinha condições de manipular tudo. Esse áudio vai
ser usado na minha defesa", relatou. "Se eu conheço um pouco o Sérgio
Machado o que ele deve ter falado nos depoimentos da delação dele à
Procuradoria é brincadeira. Dez anos de Transpetro é muita coisa. Na minha
colaboração eu falei especificamente do Sérgio Machado na Transpetro e da
proximidade dele com o Renan. Ele despachava com o Sérgio na residência oficial
da Presidência do Senado. É muito grave esse cenário. É o caos",
finalizou.