Reforma do Ensino Médio
Ninguém de bom senso dirá que o ensino brasileiro é de
qualidade. E não seria exagero dizer que o ensino médio é que está na pior
situação: de cada 100 alunos que ingressam no grau médio, nada menos do que 50
deles desistem no caminho.
Para superar os gargalos do ensino médio não faltaram
debates, mesas redondas, audiências públicas. Eis aí um dos nossos defeitos
fundamentais: somos pródigos na discussão, na retórica, no diagnóstico das
nossas mazelas, mas somos lerdos, incapazes de sair do chão, botar a mão na
massa e fazer.
Foi com certa surpresa que o governo Temer apresentou um
projeto de reforma, que se não era - e nem pretendeu ser - a última palavra
sobre a matéria, entretanto abriu perspectivas e apontou novos e promissores
caminhos para o ciclo médio.
O projeto tomou em conta devida as inclinações naturais,
os gostos e predileções dos alunos. O currículo não será o mesmo e igual para
todo o ciclo. Não se quis, de fora para dentro, enquadrar o aluno na camisa de
força da grade curricular única. Assim, o curso fica igual para todos até a
metade do ensino médio, mas na outra metade o itinerário escolar se desdobra de
acordo com os gostos e predileções do aluno: providência simples que com toda a
certeza tornará a escola mais atraente e diminuirá a evasão.
Antes, para fazer o ensino técnico, o aluno teria de
concluir os três anos de ensino médio. Pelo projeto, ele poderá na segunda
metade optar por um curso técnico que, ao final, o habillitará imediatamente
para o mercado de trabalho.
O projeto previa uma redução do número de disciplinas da
grade curricular. Matérias como português, matemática e inglês continuariam
obrigatórias. Outras seriam optativas, como sociologia, filosofia, artes e
educação física. Tratava-se de seguir a tendência dos sistemas de ensino do
mundo que deram certo em educação. Era para que o aluno aprendesse mais em
menos disciplinas. Entram em jogo conceitos como foco e dispersão, fundamentais
da boa escola. É preciso se deter no essencial, diz a experiência internacional
bem sucedida. Uma pena: o Congresso cedeu às corporações docentes e manteve
obrigatórias inclusive as matérias que seriam apenas optativas.
De toda forma, uma proposta de mudança e ação imediata,
que deixa o debate e entra na vida real. Nele não há grandes inovações nem
mudanças espetaculares, nada que não tenha sido objeto de anteriores e velhas
discussões. Porém, a proposta foi recebida de pedras na mão pelos grandes
atores do setor educacional e esquerdas em geral.
No Brasil surreal, o governo “conservador” quer mudar,
propõe e faz aprovar, ainda que parcialmente, uma mudança de razoável alcance
no ensino médio. As esquerdas, que por definição deveriam ser mudancistas e
reformadoras, reagem e se opõem, querendo que tudo fique no estágio sofrível em
que se encontra.
Quem é conservador e quem é reformista nesta história? É
conservador o governo que quer mudar e propõe a mudança? São progressistas
aqueles que se opõem às mudanças, querem que tudo permaneça como está, em
estado de falência?
titoguarniere@terra.com.br