Ministro Toffoli inventa o ‘poder da caneta’ que apaga propina, confissão de crime e caixa 2

FRANCISCO LEALI


O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, decretou nesta terça-feira, 21, o fim de todos os crimes do empreiteiro Marcelo Odebrecht. Anulou tudo, menos a delação feita pelo “príncipe” do que já foi o maior grupo empresarial da construção civil do País.


Da pena do ministro sai uma decisão que leva a um paradoxo. Na delação, Marcelo Odebrecht confessou crimes e apontou outros culpados das mais variadas siglas partidárias. Do PT ao PSDB passando por históricos do MDB. O acordo da delação ainda estaria de pé, mas as condenações que decorreram disso e foram impostas ao empresário caíram. Temos crime, mas as confissões não valem para impor punição.


Na prática, o STF já havia reduzido parte das penas do herdeiro de Norberto Odebrecht. A Lava Jato virou um quadro que já se tirou da parede e preferiu-se guardar no sótão do Poder Judiciário. As anulações estão ancoradas na conduta de Sergio Moro, o ex-juiz. O então magistrado paranaense levou a política para dentro dos autos e, por vezes, deixou claro que não levava o espírito da imparcialidade para seu gabinete.


Ao dizer que nada que a justiça e Moro impuseram a Marcelo Odebrecht vale, Toffoli parece avisar que é melhor apagar as histórias que a Lava Jato revelou. Antes de se saber que o juiz do caso tinha um lado, soube-se pela voz própria de corruptos e corruptores que os contratos da Petrobras bancavam propina milionária do mundo político.


Ainda que os investigadores tenham descoberto que a Odebrecht tinha um departamento para tratar do suborno e do pagamento de caixa 2 nas campanhas eleitorais e mantinha sistema secreto guardado fora do País, fica agora valendo que Marcelo, o principal gestor da empresa, não poderia ter sido condenado por isso. Pelo menos não por Moro, e não como foi conduzido o processo.



A decisão do ministro do STF sai no mesmo dia em que o ex-deputado José Dirceu também livrou-se de uma condenação lavajatiana. O motivo foi mais processual - o caso prescreveu por conta da idade do réu - do que por matéria de fato.


Toffoli, solitariamente, faz cumprir com seu ato uma constatação feita por ele mesmo num encontro que entrou pela madrugada em Brasília. Recém empossado no STF, lembrava dos tempos em que era o responsável por levar os papéis para a assinatura do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no seu primeiro mandato. Ao reunir convivas para um jantar, o ministro rememorou sua temporada como subordinado direto de José Dirceu e sentenciou que o verdadeiro poder é o de quem está com a caneta.


Tanto tempo depois, o ministro sabe que detém o atributo de redimir Marcelo Odebrecht dos crimes que cometeu, tirando proveito dos desvios do juiz que trocou a toga pelo palanque.



Prefeito Sebastião Melo aumenta de R$ 4,2 mil par R$ 12 mil valor da Estadia Solidária

O prefeito protocolou na Câmara Municipal três projetos que garantem maior robustez em benefícios habitacionais essenciais para vítimas de enchentes. Entre as principais mudanças previstas - anunciadas em coletiva do prefeito Sebastião Melo - estão o reajuste no teto do valor do Estadia Solidária, de R$ 4,2 mil para R$ 12 mil - em 12 parcelas de R$ 1 mil (acréscimo de 185%), e flexibilizações nas normas de acesso a Bônus-Moradia e Compra Compartilhada.

"São medidas que se somam a iniciativas dos governos do Estado e Federal, fundamentais para acolher e reerguer tantas pessoas que estão desabrigadas ou em casa de familiares e amigos", disse o prefeito.

O Estadia Solidária, criado em setembro, tem como público-alvo as famílias que têm de sair de casa em razão de enchentes e precisam ficar em abrigos ou casas de amigos/familiares até retornarem a um lar. Como compensação, cada núcleo familiar pode receber, via depósito em conta bancária, uma renda para viabilizar a moradia provisória.

Atualmente, a prefeitura está autorizada a pagar três parcelas mensais de R$ 700,00 (que podem ser prorrogadas por mais três meses). O novo texto propõe aumentar o valor da parcela para cerca de R$ 1 mil e ampliar o prazo para até 12 meses. Para garantir o benefício, a localização da moradia da família precisa ser reconhecida pela Defesa Civil e por laudo social como área prejudicada pela enchente. Até o início deste ano, cerca de 250 Estadias Solidárias tinham sido concedidas em razão das cheias de setembro e novembro.

Para fortalecer o Compra Compartilhada, programa lançado em 2023 em que a prefeitura concede R$ 15 mil para famílias usarem como entrada na compra de imóveis de até R$ 235 mil, a proposta é ampliar o limite da faixa de renda para adesão. Atualmente, o teto da renda familiar é de R$ 4 mil/mês. O PL prevê aumento para até R$ 8 mil/mês, equiparando ao valor máximo permitido no Minha Casa Minha Vida do Governo Federal. Até maio deste ano, 769 benefícios foram pagos pelo programa.

Também estão previstas extinções de normas que impediam famílias contempladas com Bônus-Moradia ou Compra Compartilhada de se socorrerem de outros programas habitacionais de diferentes esferas do poder público, desde que os imóveis delas tenham sido inutilizados em razão de situação de emergência ou estado de calamidade.

O Bônus-Moradia é uma solução habitacional definitiva, que concede, sem necessidade de contrapartida, um valor para a família adquirir um imóvel em área regular e que não seja considerada de risco. Com sucessivos reajustes nos últimos anos, o valor passou de R$ 78 mil, em 2021, para R$ 127 mil, em 2023.

A prefeitura ainda propõe a inclusão de artigos que possibilitem que as despesas com Bônus-Moradia e Compra Compartilhada possam ser suportadas por meio de créditos especiais e extraordinários, inclusive de repasses de outras esferas governamentais.