“A suposta segunda delação do doleiro Lúcio Funaro, que
estava sob sigilo na Procuradoria- Geral da República (PGR) mas tem vazado
ilegalmente na imprensa nos últimos dias, apresenta inconsistências e
incoerências próprias de sua trajetória de crimes. Funaro acionou meses atrás a
Justiça para cobrar valores devidos a ele pelo grupo empresarial do senhor
Joesley Batista. Por alegados serviços prestados, negando que recebesse por
silêncio ou para evitar delação premiada.
Ainda não está claro como se deu sua conversão diante do
procurador-geral da República. Nem sabemos quais benefícios ele obteve em sua
segunda delação, se chegam perto do perdão total e da imunidade eterna
concedidos aos irmãos Batista. Que, aliás, acabam de refazer sua delação,
demonstrando terem mentido e omitido fatos, sobretudo em relação às falcatruas
contra o BNDES. Pegos na falsidade pela Operação Bullish, não tiveram a delação
anulada, mas puderam, camaradamente, ‘corrigir’ suas mentiras ao
procurador-geral. Sem um puxão de orelhas sequer.
Voltando a Lúcio Funaro, assim o Ministério Público
Federal o descreveu há um ano: ‘O histórico profissional de Funaro indica que
nenhuma outra medida cautelar (senão a prisão ) seria eficiente e útil para
estancar suas atividades ilícitas. Trata-se de pessoa que tem o crime como
modus vivendi e já foi beneficiado com a colaboração premiada, um dos maiores
incentivos que a Justiça pode conceder a um criminoso, a fim de que abandone as
práticas ilícitas. No entanto, prosseguiu delinquindo, mesmo após receber o
beneficio. Cuida-se de verdadeira traição ao voto de confiança dado a ele pela
Justiça brasileira.’
Qual mágica teria feito essa pessoa, que traiu a
confiança da Justiça e do Ministério Público, ganhar agora credibilidade?
Repentinamente muda-se o quadro, pois antes ele era uma das ‘pessoas que vivem
de práticas reiteradas e habituais de crimes graves, (que) sem qualquer freio
inibitório, colocam em risco, concretamente, a ordem pública’. O doleiro, cujo
testemunho serve agora para sustentar uma denúncia contra a Presidência da
República, foi preso há um ano também por ameaçar de morte seus ex-parceiros
comerciais. Segundo relatou a PGR, ele ameaçou matar um idoso de mais de 80
anos (Milton Schahin) e a um outro (Fábio Cleto) prometeu ‘colocar fogo na casa
dele com os filhos dentro’.
Agora, diante da vontade inexorável de perseguir o
presidente da República, Funaro transmutou-se em personagem confiável. Do
vinagre, fez-se vinho.
Quem garante que, ao falar ao Ministério Público,
instituição que já traiu uma vez, não o esteja fazendo novamente? Se era capaz
de ameaçar a vida de alguém para escapar da Justiça, não poderia ele mentir
para ter sua pena reduzida? Isso seria, diante de sua ficha corrida, até um
crime menor.
O presidente Michel Temer se resguarda o direito de não
tratar de ficções e invenções de quem quer que seja. Jamais obstruiu a Justiça
e isso está registrado no diálogo gravado clandestinamente por Joesley Batista
–sujeito desmentido pela própria esposa no curso desse processo vergonhoso. No
diálogo com Joesley, o presidente afirma não ter feito nada por Eduardo Cunha
no STF (prova de não obstrução), e alerta o interlocutor de que contatos com o
ex-ministro Geddel Vieira Lima poderiam ser vistos como atos de obstrução de
Justiça (ora, querer evitar o crime é forma de se ligar a ele?). A gravação
usada pelo seletivo acusador desmente a acusação.
Outro agravante é o fato de o grampeador-geral da
República ter omitido o produto de suas incursões clandestinas do Ministério
Público. No seu gravador, vários outros grampos foram escondidos e apagados.
Joesley mentiu, omitiu e continua tendo o perdão eterno do procurador-geral.
Prêmio igual ou semelhante será dado a um criminoso ainda mais notório e
perigoso como Lúcio Funaro?
Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência
da República.”