Morte e política
Professor de Filosofia
Por: Denis Rosenfield
A morte é, normalmente, um assunto familiar, de cunho
privado. Familiares e amigos reúnem-se para o derradeiro adeus, em clima de
perda, dor e memória do(a) falecido(a). É, mesmo, um momento de culto religioso
que aparece sob a forma de preces e rituais. O clima é de espiritualidade em
que questões existenciais como as do sentido da vida e da condição humana são postas.
Por essas características, a morte não pertence à esfera
da vida pública, da política. Evidentemente, quando personagens políticos
morrem a política aí surge, porém deveria fazê-lo segundo as regras familiares
da privacidade e do recolhimento. E não sob o modo da exploração propriamente
política, sob os holofotes da mídia.
A morte da ex-primeira-dama Maria Letícia tornou-se um
evento político, com os petistas a explorando ao máximo. As declarações foram
no sentido de responsabilizar a Lava-Jato pelo seu óbito.
A falta de respeito com a falecida traduziu-se por uma
falta de respeito com a operação que está limpando o Brasil, mostrando as
ruínas que foram deixadas pelos governos Lula e Dilma. Procuram os petistas, de
todas as maneiras, fugirem de suas responsabilidades, aproveitando-se, para
tanto, de um ritual familiar e religioso.
Lula, evidentemente, colocou-se como um grande ator.
Falou de que sua companheira teria morrido triste, mortificada pelas revelações
realizadas por juízes, desembargadores, promotores e procuradores, amplamente
divulgadas pelos jornais e pelos meios de comunicação em geral.
Sua falta de pudor foi total. Tristes estão os 12 milhões
de desempregados. Tristes estão os que perderam a esperança. Tristes estão os
que enfrentam todos os problemas da educação e da saúde públicas. Tristes estão
os que acreditaram nas patranhas políticas dos petistas.
O despudor não conhece limites. A ex-primeira dama teria
morrido das "maldades" e "canalhices" cometidas contra ela.
A perversão é completa. O responsável mor — junto com a sua companheirada e
discípula que teve de ser apeada do poder — das maldades que afligem os
brasileiros procura, agora, transferir as suas próprias responsabilidades.
Como sempre, tenta convencer os incautos de que é vítima,
quando, na verdade, é a grande causa do desmoronamento econômico, social e
institucional do Brasil.
Em bem pouco tempo, deverá novamente prestar contas à
Justiça quando forem tornadas públicas as delações da Odebrecht. Não restará
pedra sobre pedra de sua imagem. Até os petistas honestos terão de lhe dizer
adeus.