Qual a expectativa do banco em relação ao primeiro ano de
governo Bolsonaro?
Estamos muito otimistas com as perspectivas do Brasil.
Esse otimismo está diretamente alinhado com a capacidade do novo governo de
aprovar as reformas. Quanto mais cedo e mais profundas forem as reformas, maior
será o nível de confiança e a atração de investimento, seja do local ou do
estrangeiro. O nível de confiança das empresas tem aumentado. Projetos que
tinham sido paralisados voltaram à mesa. Vemos grande expectativa de o Brasil
ter recuperação mais rápida que o esperado, pois a inflação está sob controle,
os juros estão historicamente baixos e a capacidade ociosa está alta. Esses
três elementos fazem com que se consiga girar a economia de maneira muito
rápida sem muito investimento de curto prazo.
O que o sr. espera da reforma da Previdência em 2019?
Temos alguns cenários: uma reforma rápida e profunda, que
seria o melhor dos mundos, e uma reforma em etapas ao longo do ano. Se houver
clara comunicação da profundidade da reforma, de como será executada e de seu
“timing”, a execução não precisa ser de uma única forma. Se for em etapas,
desde que seja comunicada, não seria tão problemático. A reforma tributária, a
política e a manutenção do teto de gastos também são igualmente importantes.
Nosso cenário base é uma aprovação da Previdência em etapas.
E se a reforma da Previdência não acontecer?
Não trabalhamos com esse cenário. Achamos que já existe
um consenso dentro do governo, que tem sido muito claro na priorização das
reformas. As equipes de Bolsonaro estão sendo formadas com técnicos, bons
especialistas. A equipe econômica é forte e tem a confiança do mercado
financeiro.
A aprovação da Previdência pode elevar o fluxo de
recursos estrangeiros no Brasil?
Temos fundos globais e dedicados a mercados emergentes
subalocados no Brasil. Eles reduziram substancialmente a exposição ao País. O
investidor estrangeiro está esperando essa comunicação do novo governo sobre as
reformas, ele está mais cético, esperando as coisas acontecerem. O investimento
externo direto pode somar mais de US$ 80 bilhões, ante US$ 70 bilhões em 2018.
Na parte de investidores de portfólios, podemos atrair bilhões, entre US$ 50
bilhões a US$ 100 bilhões, dependendo dos cenários.
Como ficou o Citi no Brasil após a venda do banco de
varejo para o Itaú Unibanco?
Pela primeira vez, trabalhamos este ano inteiro como um
banco de atacado (com foco em empresas). O Citi Brasil se tornou a quinta maior
franquia do Citi em atacado no mundo. Por volta de 2013, estávamos mais
próximos do décimo lugar.
Como o sr. vê a atuação dos bancos públicos no governo de
Bolsonaro?
Existe uma estratégia de privatizar algumas linhas de
negócio e a tendência de focar esses bancos em seus respectivos negócios
principais. Nós estamos acompanhando esse processo de perto tanto sob a ótica
de participar da estruturação tanto de eventuais interessados globais.
O Citi tem interesse em algum ativo dos bancos públicos?
Discutimos várias parcerias, mas o nosso negócio no
Brasil já está muito bem definido. Está redondinho. Temos um banco completo de
atacado, com toda as linhas de negócios. Esse continuará sendo nosso foco.
O que o Citi espera do setor de infraestrutura no próximo
governo?
O Brasil tem investido na média 2% do PIB em
infraestrutura. Na nossa visão, deveria ser no mínimo o dobro, 4% do PIB, mais
ou menos US$ 80 bilhões por ano para começar a fechar o gap nos próximos 20
anos. Nós vemos um protagonismo maior do setor privado.
E como fica o financiamento para infraestrutura com
atuação mais discreta do BNDES?
Não vemos limitação em financiamento pelo setor privado.
Existe liquidez e apetite tanto do mercado local quanto do internacional, tanto
de bancos quanto de investidores. O que o Brasil tinha de carência não era em
relação ao apetite, mas à estrutura do financiamento em infraestrutura. É
preciso adotar padrões globais de contratos, de garantias, de riscos e ter um
ambiente regulatório onde se tenha permanência, segurança jurídica etc.