Hoje, quem manda na família chama-se Marisa Letícia
Carlos Newton
Quando surgiu o escândalo do Mensalão, o presidente Luiz
Inácio Lula de Silva chegou a achar que iria sofrer impeachment. Mas os
tucanos, do alto de sua prepotência, pensaram (?!) que seria melhor deixá-lo
sangrar. O resultado todos sabem, Lula escapou praticamente incólume, ganhou
outro mandato e ainda elegeu um poste em sua sucessão. Agora, no escândalo do
Petrolão, a impunidade de Lula poderia até se repetir. Ele seria chamado a
depor como "informante" (ironia do destino, segundo o delegado Romeu
Tuma Jr.) ou "testemunha", porém como "investigado". Mas na
política as coisas mudam como as nuvens, já dizia Magalhães Pinto.
Lula vem sendo investigado em vários inquéritos, devido à
sucessão de erros cometidos, especialmente no caso do triplex do Guarujá e do
sítio de Atibaia. E estes dois fatos altamente desabonadores só existem... por
causa de dona Marisa Letícia.
ESCÂNDALO ROSEMARY
Dona Marisa mudou muito, depois que surgiu o escândalo do
romance de Lula com Rosemary Noronha, iniciado na década de 90 no Sindicato dos
Bancários de São Paulo, então presidido por João Vaccari Neto, que apresentou
ao fundador do PT aquela jovem e atraente secretária. Dona Marisa mudou não
somente em aparência, em função das operações plásticas e dos procedimentos
estéticos a que se submeteu, mas também quanto a seu relacionamento com o
marido, que nunca mais foi o mesmo.
A divulgação do prolongado romance com Rosemary foi
devastadora, é claro. Dona Marisa enfim ficou sabendo por que o marido pedia
que ela não o acompanhasse em viagens internacionais, e Lula não tinha como
negar nada. As relações do casal nunca mais se normalizaram, é claro.E nem houve
a festa das bodas dos 40 anos de casamento, em 2014.
Lula se viu acuado, dona Marisa cresceu e apareceu,
passou a fazer exigências, não era mais a mulher dócil com quem ele se casara.
SATISFAZER AS VONTADES
A estratégia que Lula encontrou foi satisfazer todas as
vontades de dona Marisa. Assim, para agradá-la, o modesto apartamento 141 no
Guarujá, com apenas 82,5 m², um simples sonho de classe média, acabou se
transformando no triplex 164A, que nem existia no empreendimento da Bancoop que
a prefeitura aprovou. O contrato assinado por dona Marisa em 2006, em sua
cláusula 2ª, comprova que no prédio havia apenas dois tipos de apartamentos – o
simples, de 82,5 m², e o duplex de cobertura, com 126,35 m². O triplex de 215
m² simplesmente não existia. Foi criado exclusivamente pela OAS para alojar a
família Lula da Silva e amaciar dona Marisa.
E para não dar na vista, a construtora transformou em
triplex um apartamento ao lado, que veio a ser comprado por outra personagem
envolvida no escândalo do Lava Jato e que operava na lavagem de dinheiro, a
publicitária Neuci Warken. O triplex 163-B, registrado em nome da offshore
Murray Holdings, acabou ficando com Nelci, com chegou a ser presa na Operação
Triplo X e está colaborando com as autoridades. Como se dizia antigamente, a
emenda saiu pior do que o soneto, a corrupção foi ficando cada mais explícita.
MAIS BENS DO QUE RENDA...
Um dos maiores problemas de Lula é que somente depois de
sair do governo é que ele se tornou milionário e acumulou bens. Em 2010 ele
estava deixando o governo e sua declaração de renda não justificava a compra
simultânea do triplex e do sítio em Atibaia. Ele não ainda começara a fazer as
palestras para os amigos empreiteiros, o Instituto Lula estava iniciando suas
atividades. Por isso, teve de usar os laranjas Fernando Bittar e Jonas Suassuna
para comprar o sítio em Atibaia, pagando R$ 1,5 milhão (valor declarado na
escritura, que geralmente é subfaturado, para reduzir o Imposto de
Transmissão).
Um dos motivos da compra do sítio foi a mudança de Brasília.
O apartamento de São Bernardo e o Instituto Lula (que era chamado de Instituto
Cidadania) não tinham a menor condição de receber os onze caminhões da
mudança, um deles climatizado, para transportar as garrafas de bebidas
finas que ele ganhara nos oito anos de mandato. Livros, documentos, alguns
presentes que surrupiou da Presidência e algumas caixas de bebidas ficaram no
Instituto Lula. Outra parte da mudança, também incluindo caixas de bebidas, foi
direcionada para o apartamento de São Bernardo. Mas foi o sítio em Atibaia que
recebeu a maior parte da mudança, e a OAS já havia construído o galpão/adega
climatizado, para receber o restante do acervo etílico do ex-presidente,
conforme a imprensa noticiou à época e aTribuna da Internet até liderou
uma campanha para que Lula devolvesse os presentes.
O SÍTIO DE DONA MARISA
O sítio sempre foi de dona Marisa, que cuidava dele
enquanto Lula trabalhava para os empreiteiros em suas viagens e palestras
comerciais. A situação familiar era bastante confortável até o final de 2011,
quando surgiu o escândalo de Rosemary Noronha, que mudaria totalmente a vida do
casal Lula da Silva. A briga foi muito feia, Lula não podia se separar, e desde
então dona Marisa assumiu o poder familiar "au grand complet", como
dizem os franceses.
No caso do sítio, sempre foi ela quem cuidou de tudo e
comandou as obras de ampliação e reforma final, feitas pela Odebrecht. Tudo lá
é do jeito dela. O serviço estava a cargo de um amigo íntimo do casal Lula da
Silva, o empresário José Carlos Bumlai, que trouxe do Mato Grosso do Sul o
arquiteto Igenes dos Santos Irigaray Neto, para tocar a obra e atender às
ordens de dona Marisa.
Depois da grande reforma, em que a Odebrecht gastou R$
500 mil só em material de construção, dona Marisa mandou fazer a horta e
plantar árvores frutíferas, além de dirigir pessoalmente a redecoração, que
incluiu os dois bonecos de crianças em tamanho natural, fabricados em
porcelana, que ela colocou sentados no banco em frente à piscina, para divertir
os netos.
LULA NÃO TEM PALAVRAS
Todas essas informações são rigorosamente verdadeiras e
demonstram por que Lula ainda não conseguiu nem conseguirá explicar a situação
do triplex e do sítio? Para fazê-lo, o ex-presidente teria de começar falando
sobre o longo e tórrido romance com Rosemary Noronha, que conduziu a vida dele
para a encruzilhada em que hoje se encontra.