“Startup é a maior democratização da inovação a que já assistimos”, afirma especialista Cristiano Kruel

Cristiano Kruel, líder de inteligência e inovação da StartSe diz que os produtores, embora se achem conservadores, são excepcionais tomadores de risco pela atividade que exercem

Gisele Loeblein, jornal Zero Hora.

Tem um toque gaúcho no cenário da tecnologia disruptiva brasileira. Nascido em Horizontina e formado em Informática pela PUCRS, com especializações no Exterior, Cristiano Kruel está à frente do departamento de inteligência e inovação da StartSe, empresa com foco na educação para a realidade das startups, com filiais espalhadas pelo mundo — Brasil, China e EUA.

— Nossa proposta é continuar reaprendendo e redesenhando habilidades. Porque todos nós fomos impactados com essa coisa de Vale do Silício — afirma Kruel.

Neste mês, comandou a AgroTech Conference, voltada às startups do agro, trazendo cases de sucesso e apostas de novidades que vêm sendo desenvolvidas mundo afora. Em entrevista, ele avalia que o maior beneficiado com o cenário atual será o consumidor final. Confira trechos.

Startup era vista como coisa de gente maluca ou com muito dinheiro. E hoje?

Startup é a maior democratização da inovação a que já assistimos. Nunca foi tão barato “startupar”. O que é uma startup? É um experimento. Se toparmos com uma quantidade de dinheiro, para o sprint (a arrancada) e, ao final, tivermos aprendizado, isso não é falha, é um ciclo. A quantidade de experimentos no mundo explodiu e, quando isso ocorre, o que acontece com o pace (ritmo) de inovação? Explode junto. Ouvir falar de startup e achar que o mundo está mais rápido, faz todo o sentido. É um movimento econômico sustentável. Tem fundamentos sólidos, e é uma nova lógica de empreender e de inovar.

É a chamada nova economia?

Sim, e é muito mais acelerada, muda o poder de mãos, cria novo tabuleiro de competição. O “Nubankinho” briga com o “Itauzão”. O problema da Ford era a GM. Essa ruptura nos modelos de negócios está pegando muita empresa bacana desavisada. Tem empresa de sucesso que não consegue se transformar. Se olhar quanta empresa linda e bacana está ruindo...

Os caras que desbravaram esse Brasil são uns loucos de empreendedores. Embora se achem conservadores, são excepcionais tomadores de risco.

Se a democratização da informação barateia o acesso às tecnologias, por que o agronegócio é dominado por gigantes?

Existem dois tipos de gigantes. O tipo dinossauro, que vai morrer. E o fênix, que vai morrer e renascer das cinzas. Há, além das startups unicórnio, as quimeras (figura com aparência híbrida de dois ou mais animais). Empresas como Amazon, Alphabet, Alibaba e Tencent são quimeras. Nasceram como startups, viraram meconglomerados, mas não perderam o espírito de continuar “startupando”. E isso parece ser o DNA de uma organização moderna.

Quando será barato utilizar produtos criados por startups?

Antigamente, qual a opção para ir para casa? Ou pegava táxi, ou ônibus, ou metrô. Hoje, quantas opções tenho? Só de aplicativos, devo ter uns 30. Nessa oferta de transformação, O benefício garantido de uma startup é o do consumidor. Porque passamos a ter opções mais amplas.

E isso inclui o produtor? Há quem o considere conservador...

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Os caras que desbravaram esse Brasil são uns loucos de empreendedores. Enterram um caminhão de dinheiro e ficam olhando para o céu. Embora se achem conservadores, são excepcionais tomadores de risco. Talvez é porque tem muita coisa nova e diferente, e os ciclos no agro são longos.

Há quem considere o produtor conservador...

Ouço muito que o agro é tradicional, conservador. Mas acho estranho, porque os caras que desbravaram esse Brasil são uns loucos de empreendedores. Enterram um caminhão de dinheiro na terra e ficam olhando para o céu. Embora se achem conservadores, são excepcionais tomadores de risco. Talvez é porque tem muita coisa nova e diferente, e os ciclos no agro são longos.



Outros setores têm respostas mais rápidas?

No mundo digital, é teste AB. Boto agora e vejo quem clicou e quem não. O agro é fantástico, temos de celebrar demais as conquistas dos últimos anos. Mas a gente usa muito uma vantagem que Deus nos deu: terra, água e sol. E acho que temos de usar, é lindo isso. Só que é muito perigoso. Se alguém em algum lugar do mundo, em um pote de flor, com um litro de água, produzir  mais proteína do que em um hectare, vai morrer esse negócio. Então, essa coisa de ter vantagem, temos de cuidar muito para não inibir nossa capacidade de questionar se o jeito que a gente está fazendo é, de fato, o jeito do futuro.

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Artigo, Márcio Rachkorsky, Folha - Participação de moradores pode fazer milagre nos condomínios


Projetos ficam melhores e mais baratos quando os condôminos se envolvem

O ditado "santo de casa não faz milagre" não se aplica aos condomínios. O engajamento dos vizinhos tem se mostrado crucial para o sucesso de qualquer iniciativa, e felizmente, aos pouquinhos, a participação dos moradores está aumentando.

É incrível notar como os projetos ficam melhores e mais baratos quando os condôminos se envolvem e dedicam um pouco de tempo para melhorar o lugar onde vivem.

A gestão de condomínios está mais profissional e se tornou uma atividade bastante complexa, que requer a atuação de uma equipe multidisciplinar, composta por advogado, contador, administrador, engenheiro, gestor predial, entre outros profissionais. Mas a engrenagem só funciona direito com a participação dos moradores --citando mais um dito, "o olho do dono é que engorda o porco".

O segredo de sucesso é a criação de comissões temáticas de trabalho, órgãos de apoio e auxílio ao síndico formados por moradores voluntários, com intuito de buscar melhores soluções, práticas e preços.

Temas como finanças, segurança e manutenção são os campeões de demanda nas comissões, mas atividades que buscam integração entre os moradores estão ganhando força, tais como comissão social, de eventos e esporte.

Ademais, a participação dos moradores tende a trazer mais lisura e transparência a qualquer processo, eliminando aquela péssima impressão de que há esquemas nas contratações, propinas e favorecimentos.

Recentemente, num condomínio com mais de 300 apartamentos, o sistema de aquecimento de água entrou em colapso. Síndica e conselheiros buscaram orçamentos para a solução do problema, e as propostas beiravam os R$ 2 milhões.

Em assembleia, foi criada uma comissão da água quente, cujos membros estudaram a fundo o tema, ouviram especialistas e, após reuniões e assembleias, conseguiram uma solução alternativa, que custou menos de R$ 400 mil --um quinto do valor inicialmente estimado. Um case de sucesso, que gerou uma economia milionária.

Em outro condomínio, com problemas de relacionamento entre os vizinhos, criou-se uma comissão social, com a árdua tarefa de aproximar os moradores e acabar com os conflitos. Em menos de um ano, festa junina, dia das crianças, campeonato de futebol e um ciclo de palestras com conscientização sobre direitos e deveres foi o suficiente para quase zerar as ocorrências disciplinares.

Se há algo a melhorar no condomínio, não adianta apenas reclamar, mas sim comparecer à próxima assembleia, se voluntariar para cooperar, angariar o apoio dos vizinhos e fazer a diferença.

Márcio Rachkorsky
Advogado, é membro da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP.

Artigo, Eliane Cantanhêde, Estadão - Hora e vez de Bolsonaro


Não há exagero nem do governo, nem da agricultura, nem da indústria quando todos classificam o acordo do Mercosul com a União Europeia como o mais importante já fechado em toda a história do Brasil e do Mercosul. Afinal, envolve um mercado de 750 milhões de consumidores e um PIB de US$ 19 trilhões, com capacidade de alavancar, aos poucos, a retomada do crescimento econômico e os empregos, abrindo novos tempos para o Brasil.

Então, por que demorou tanto, longuíssimos 20 anos? Primeiro, porque as negociações são setor a setor e em três camadas: com a União Europeia, que reúne 28 países, com o Mercosul, com quatro sócios desiguais, e com os vários setores exportadores do próprio Brasil. O interesse dos produtores de etanol, por exemplo, é diferente do das montadoras de automóveis.

Mas não foi só isso. Além das dificuldades inerentes a negociações internacionais de grande porte, houve percalços políticos, com a danada da ideologia no meio. O processo começou em 1999, no segundo governo Fernando Henrique, mas perdeu força com Lula e Dilma Rousseff, que apostaram tudo no mercado interno e nas negociações multilaterais, relevando as bilaterais ou entre blocos – além de terem empurrado a Venezuela para o Mercosul, o que afugentou os líderes europeus.

As trocas de Dilma por Michel Temer e de Cristina Kirchner por Maurício Macri, na Argentina, imprimiram a guinada liberal no Cone Sul e abriram espaço para o acordo com a Europa. O Paraguai também aderiu à onda liberal e o Uruguai manteve-se à esquerda, mas eles contam menos. E, para alívio de todos e felicidade geral das nações, a Venezuela está suspensa do Mercosul.

Foi com Temer e Macri que o acordo avançou, consolidou-se, ganhou forma. Assim como Bolsonaro já encontrou o plano de privatizações e concessões pronto, com o cronograma e a lista de setores e empresas definidos, ele já tomou posse com o acordo Mercosul-UE bastante amadurecido, na cara do gol.

Talvez até – e isso só os europeus podem confirmar – só não tenha sido fechado no ano passado porque a UE achou mais prudente aguardar as eleições brasileiras e o desempenho do presidente eleito, que, aliás, não parecia tão simpático ao Mercosul na campanha. Detalhe: o craque das negociações na gestão Aloysio Nunes Ferreira, embaixador Otávio Brandelli, é o atual secretário-geral do Itamaraty com o chanceler Ernesto Araújo. Ele tinha toda a memória das negociações e foi personagem importante na reta final.

Nas avaliações tanto do governo quanto da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil vai aproveitar os ventos favoráveis e o céu é o limite. A isenção de tarifas e o aumento de cotas não começam amanhã, às 8 da manhã, elas demoram e têm uma transição que pode chegar a até 15 anos. Mas é, sim, um marco importantíssimo, que pode impulsionar as exportações brasileiras em US$ 100 bilhões e os investimentos em US$ 113 bilhões. Um alívio, no rastro de recessão e de anos de estagnação.

Depois de tantas palavras fora de hora, derrotas no STF e no Congresso, medidas provisórias e decretos grosseiramente errados e um chocante “show de besteiras” que mina sua popularidade, Bolsonaro agora tem o que comemorar, até mais do que as licitações de portos e aeroportos.

Bolsonaro, aliás, sai vitorioso também do G-20. A seu jeito, um tanto estabanado, ele ganhou elogios de Trump, respondeu à altura a Merkel, surpreendeu Macron, foi malcriado com Xi Ji Ping com boas razões, comprometeu-se com o Acordo de Paris e abriu mais a porta da OCDE para o Brasil. Tomara que aproveite o acordo com a UE e o bom momento para parar de fazer e falar “besteiras”, controlar os excessos do seu entorno e passar a governar, ou seja, a focar as prioridades do País.

G-20 e acordo com a UE abrem nova fase, mas presidente tem de acabar com o ‘show de besteiras’