No debate atual sobre o déficit de contas púbicas, projeta-se, para este ano, um decréscimo na arrecadação tributária, só no âmbito federal, de R$ 100 bilhões. Ao mesmo tempo, potencialmente, poder-se-ia estar caminhando para um desemprego superior a 11%. O que está faltando nesse debate, contudo, são as medidas necessárias para preservar empresas. O bom senso indica que é por meio da preservação de empresas que são criados empregos e que se aumenta a arrecadação tributária, ao mesmo tempo em que se permite uma melhor recuperação de créditos e o combate à recessão.
Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, onde o futuro candidato à presidência faliu quatro vezes, a lei brasileira não permite uma segunda chance ao empresário falido. Essa característica, além de punir o investimento, traz o grave inconveniente de retardar o reconhecimento da insolvência, uma doença que tem cura se detectada a tempo.
Ocorre que o marco institucional brasileiro é extremamente perverso para a reorganização empresarial e sua adequação é, na conjuntura atual, necessária e premente, e poderia justificar até, pela sua urgência, uma medida provisória. São inúmeros os aspectos legais que precisam ser revistos, tendo em vista a existência de soluções legislativas somente encontradas no Brasil, as tais jabuticabas.
segurança necessária para viabilizar o financiamento das É preciso conferir, por exemplo, endividadasempresas
A aquisição de ativos ou atividades de grupo empresarial insolvente se inviabiliza em razão de orientação jurisprudencial, que acarreta para o comprador e empresas relacionadas não só a sucessão da empresa adquirida, mas dívidas trabalhistas, tributárias, ambientais e outras do vendedor insolvente. O resultado é que há poucas aquisições de empresas e ativos de insolventes, dificultando as reorganizações empresarias.
A compra de unidades produtivas isoladas, livre de sucessão no âmbito de uma recuperação judicial, apesar de mitigar, não resolve devido às incertezas em casos de aquisição de participação acionária, por exemplo.
Página 1 de 2A insolvência pode ter cura
25/05/2016http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/4576531/legislacao/4576531/insolvencia -pode-...
Além disso, o desconto concedido em qualquer restruturação de dívidas, mesmo em benefício de uma empresa em recuperação judicial, é tributado em 34%, não sendo possível sequer compensar a tempo o "lucro" assim obtido com os prejuízos do passado. O parcelamento tributário concedido às empresas em recuperação judicial é substancialmente inferior aos Refis, Paex e planos similares, e não atende às suas necessidades.
Embora a lei de insolvência em vigor seja moderna e pautada nos princípios aprovados pelo Banco Mundial, vários de seus aspectos têm sido mal aplicados ou não estão ajustados. A maior parte dos países que adota uma lei de insolvência moderna, decorridos em média quatro anos de sua vigência, institui alterações que corrigem suas falhas e distorções, para ajustá-la às demandas. Aqui no Brasil, decorridos 11 anos desde a introdução da lei, essa é uma medida que se impõe.
Várias empresas, tais como as concessionárias de energia elétrica, as cooperativas e as sociedades de economia mista, estão impedidas de ajuizar recuperação judicial. A exclusão das sociedades de economia mista, por exemplo, implica que o ônus de sua insolvência pode recair sobre os contribuintes, em vez de afetar os acionistas e os credores, que nela efetuaram investimentos de risco.
Outros ajustes são imprescindíveis para o êxito das recuperações judiciais no país. É preciso conferir, por exemplo, a segurança necessária para viabilizar o financiamento das empresas endividadas, que deve ter garantias eficazes. Além disso, as regras aplicáveis à liquidação de empresas devem ser alteradas, de modo a permitir a rápida venda de seus ativos para que sejam alocados em outra atividade produtiva, gerando valor para os credores e para a sociedade. Regras para tratar da insolvência internacional também devem ser introduzidas, com a incorporação da lei-modelo da Uncitral; o Brasil é uma das poucas economias relevantes que não trata da matéria, o que contribui para o aumento da insegurança jurídica no país.
A própria regulamentação bancária atual é inapropriada para os casos de insolvência. As regras de provisionamento vigentes devem ser revisadas e aprofundadas, para viabilizar a adequada classificação de riscos e permitir, em alguns casos, a concessão de recursos a empresas endividadas viáveis.
Há, enfim, diversas questões que devem ser analisadas e estudadas no âmbito da atual conjuntura brasileira, e contempladas em uma alteração legislativa. É preciso que alguns preconceitos sejam deixados de lado, e valores tidos como imutáveis tenham sua importância relativizada para que o Brasil possa abraçar uma reforma da lei que satisfaça as necessidades prementes de empregos e de aumento da capacidade contributiva.
Preservar a atividade empresarial é ainda mais essencial num contexto brasileiro que clama pela retomada da economia. E a insolvência das empresas tem cura, mas é preciso mudar o remédio com rapidez para salvá -las.
Thomas Benes Felsberg é membro do Comitê Executivo do International Insolvency Institute e sócio-fundador do Felsberg Advogados
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas inform
Artigo, Luís Milman - Sobre golpes e conspirações
Saída da presidência há treze dias, Dilma Roussef comanda
do Palácio da Alvorada, que ela transformou em bunker, a resistência
democrática contra o golpe que a teria apeado do poder, ainda que
provisoriamente. Como personalidade, Dilma sempre foi uma comunista
confessional. Ela e seus asseclas petistas de fato creem que deixaram o poder
por foça de uma conspiração das elites, de uma súcia da traidores, que tiveram
seus interesses atingidos pelas políticas anticíclicas adotadas por ela na área
da economia. O problema é que tais políticas custaram a Dilma, especialmente
nos dois últimos anos, déficits gigantescos. recessão alta, desaquecimento da
área produtivas e desemprego na ordem superior a 11 milhões de pessoas. Para
salvar as contas públicas, ele passou a criar contabilidade artificiosa e
fraudulenta, isto é, a mentir sobre as contas públicas, fato que já havia sido
detectado por economistas e pelo assustado empresariado paulista em 2013. As
farsas fiscais continuadas do governo Dilma desorientaram a economia, a
inflação passou a tornar-se preocupante, os investimentos sumiram, o
endividamento das pessoas cresceu e o governo perdeu o senso de realidade. Ou
seja, Dilma passou a comandar uma caricatura de governo, sem perspectiva alguma
para os problemas que se acumulavam no pais.
Mas Dilma é Dilma. Ela minimizou a força de milhões de
pessoas que foram às ruas para pedirem seu impeachment, e esqueceu
seletivamente que foi, em seu governo e no governo de seu antecessor e líder
político Lula, que a roubalheira com empreiteiras na Petrobrás se alastrou e
foi escancarada pela Operação Lava-Jato.
Povo na rua, ladroagem bilionária em empresas públicas,
recessão e desemprego formam os ingredientes do impeachment de Dilma, que o
Congresso fez tomar forma, sob a supervisão do Supremo Tribunal Federal. Tudo
conforme o caderninho. Nada de golpe. Tudo conforme a lei.
Mesmo assim, os petistas continuam a puxar a ladainha do
golpismo, revelando para quem não sabia que jamais foram um partido responsável
de governo. Aliás, quando se lê seus últimos documentos, como este mais
recente, do Diretório Nacional do Partido sobre a Conjuntura, volta ao cenário
nacional a confissão da real natureza política do petismo: é um partido
totalitário e revolucionário, de pensamento alinhado à esquerda clássica
comunista. Para sintetizar, o documento afirma, em autocrítica reveladora, que
fracassou em não ter conseguido colocar as forças armadas, a PF, o MPF e o
Judiciário a serviço do partido, deixando estas instituições livres para se
associarem a quem eles chama de “forças conservadoras”. O discurso petista do
golpe se coaduna com esta visão hegemonista do estado, na medida que só por
meio de uma quebra institucional, segundo esta ótica, poderia a burguesia
nacional, as elites ou a classe dominante, apear do poder a força
democrática-popular representada por Dilma e Lula. Os petistas casca grossa
acreditam nisso e aqueles que fanaticamente os seguem, nas universidades, nos
grupos de pressão, na intelectualidade orgânica, que propagam esta ilusão,
porque ela os mantém ativos. como militância, na tentativa desesperada de subverter
a administração Temer. A esquerda radical consagra o conspiracionismo desde
Marx e Engels, que já na Ideologia Alemã (1846), denunciavam a falsa
consciência dos hegelianos de esquerda revolucionários que apenas legitimavam,
no pensamento, a realidade da dominação burguesa. Era necessário, já então,
colocar a prática revolucionária à frente do pensamento e mobilizar as massas
para que atingissem sua verdadeira consciência proletária e revolucionária,
apesar da carga ideológica que impunha a elas a burguesia. Este, segundo o PT,
é o grande problema brasileiro que o partido não soube enfrentar: organizar as
massas por meio do partido e liberarar a consciência revolucionária para fazer
frente as forças do mal.
Marx escreveu muito sobre conspirações, mas a maior delas
era a conspiração permanente da própria burguesia destinada a solapar de modo
sistemático o modo de pensar do proletariado e, assim, manter sua condição de
classe explorada. Para ele, a libertação revolucionária viria quando a
ideologia dominante se tornasse a ideologia da classe operária.
Conspirações e golpes foram pretextos constantes em toda
a história do comunismo, para seus expurgos, assassinatos e genocídios. Lênin e
Trotski, que conduziram o comunismo de guerra, estavam sempre preocupados com a
reação dos socialistas revolucionários e dos camponeses populistas e, com mão
de ferro, extinguiram a oposição aos bolcheviques, ainda na primeira fase da
Revolução de 1917. Stalin era obcecado por conspirações e complôs, a ponto de
expurgar do partido milhares de representantes da esquerda do partido, em
julgamentos humilhantes com o posterior desterro para a Sibéria. Além disso,
via no próprio povo simples potenciais conspiradores e, por isso, criou uma
estrutura policial-política só equiparada a de Hitler. Para ele, todos eram
golpistas em potencial: trsotskistas, sionistas, imperialistas e até médicos
judeus, estes últimos acusados de tramarem a sua morte, pouco antes dela
acontecer, em 1953.
Mao Tse Tung, via sabotagem à sua Revolução onde houvesse
intelectuais, professores e camponeses não reeducados e, assim lançou mão de
chacinas, coletivização forçada e da Revolução Cultural, que, em número de
mortes chegaram a 50 milhões de pessoas. Fidel e Raul Castro, mais Che Guevara,
tinham o mesmo perfil paranoico e por isso destruíram as instituições burguesas
e as pessoas que eles consideravam inabilitadas e possíveis conspiradores
contra a Revolução. O saldo da Revolução foi um país atrasado em todos os
níveis, com mais de mais de 100 mil assassinatos políticos. O mesmo ocorreu no
Caboja, no Vietnam e agora está ocorrendo na Coreia do Norte e na Venezuela,
onde complôs imperialistas e golpes das elites imaginários são usados a todo
momento para justificar a penúria destes países e manter suas populações
sobressaltadas pela quantidade de propaganda massiva do governo.
Para o PT, que representa esta mentalidade do Brasil, é
natural falar em golpe, conspirações e traições. Os petistas não entendem a
linguagem da institucionalidade, porque não são um partido constitucional,
afeito à convivência democrática e à legalidade, Na verdade, quando no poder,
quem conspira, como atestaram o Mensalão e o Petrolão, são os petistas. Sua
natureza é totalitária, exclusivista e hegemonista, Pelos padrões cognitivos dos
petistas, toda a oposição reflete a sua maneira de fazer política e que pode
ser sintetizada pela palavra golpismo, toda a crítica é contaminada pelo
interesse das elites, dos brancos ou dos heterossexuais. Temer é um conspirador
porque assumiu não a cadeira de uma mulher incompetente que estava na
presidência, que arruinou a economia e governou com farsas e roubalheira. Para
os petistas, ela é uma revolucionária que estava transformando o país com
políticas inclusivas, seguindo os passos de Lula. Não nos enganemos. O projeto
petista não está morto, Suas lideranças e militantes usarão de todo o cinismo
para pintar Temer como um reacionário vendilhão do país. Isto não tem a menor
relação com a verdade, mas o PT não opera com a verdade, opera com a sua transgressão,
porque continua alinhado à sua mitologia, incapaz de livrar-se da prepotência
cega do marxismo que encontra em cada opositor um inimigo a ser destruído.
Artigo, Vinicius Torres Freire, Folha - Querida, encolhi o Estado
O Plano Temer é uma mudança dramática na maneira de fazer
acertos nas contas do governo. Muito mais que isso. Em vez de fazer ajustes de
curto prazo e provisórios, promete uma redução imensa do tamanho do Estado. Tal
coisa não será possível sem o cancelamento dos aumentos automáticos de despesa
em saúde, educação, assistência social e trabalhista e Previdência.
No caso improvável de passar pelo Congresso e pelas
"ruas", o plano seria a maior reviravolta fiscal desde a Constituição
de 1988.
O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) anunciou só o
grosso da ideia: as despesas seriam congeladas nos valores deste ano. A alta de
gastos acompanharia só a inflação do ano anterior. Em termos reais, pois, a
despesa não cresce. Ponto.
Assim, caso a economia crescesse em média 2% ao ano na
próxima década, a despesa do governo federal cairia de pouco mais de 19% do PIB
para pouco menos de 16% do PIB. Mais ou menos ao que se gastava entre 2002 e
2005.
Ainda que aprove o plano, o Congresso aceitaria esse
plano por uma década?
Tudo mais constante, a dívida pública continuaria a
crescer até depois de findo este governo. A receita federal é por ora 10,5%
menor que a despesa. Mesmo congelados os gastos, levaria anos de crescimento
econômico para fechar o buraco. Logo, haveria anos de déficits, que se acumulam
na dívida.
Mas o governo pretende abater dívida de outro modo.
Primeiro, Meirelles vai tentar conter o aumento da dívida
com receitas extras. Ainda nesta terça (24), disse que pretende antecipar o
pagamento de dívidas do BNDES com o governo, R$ 100 bilhões em até dois anos.
Trata-se de empréstimos que os governos Lula 2 e Dilma 1 concederam ao banco
estatal de desenvolvimento, cerca de meio trilhão de reais. O BNDES reemprestou
essa dinheirama a empresas, a juros camaradas, a fim de incentivar o aumento do
investimento, que não ocorreu.
Segundo, Temer pretende vender ativos do governo e
conceder obras e serviços de infraestrutura à iniciativa privada.
Terceiro, depois de prometer essa redução histórica do
tamanho do Estado e privatizações, provavelmente o governo vai propor um
aumento de tributação. Parece que quer matar a cobra primeiro e aparecer com o
pau dos impostos depois.
Assinar:
Postagens (Atom)