Dilma leva vida comum em Porto Alegre. Ela vive reclusa na zona Sul.

Em um apartamento sem luxos, típica casa de classe média, diferente dos palácios onde viveu nos últimos cinco anos, a ex-presidente Dilma Rousseff fala à jornalista Natuza Nery, da Folha, sobre diversos assuntos, mas pouco de política; ela se queixa do ódio ao "lulopetismo" e diz que quer escrever um romance policial; ela não faz comentários de Michel Temer, nem esboça raiva de Eduardo Cunha, seu principal algoz, que deu início ao processo de impeachment.

Dona Dilma" abre a porta, ao lado de Vera, sua diarista. O apartamento em Porto Alegre tem uns 70 metros quadrados no primeiro piso, com móveis amontoados, mais uns cerca de 50 metros quadrados no piso superior.

A patroa sobe lentamente uma minúscula escada de madeira já esbranquiçada pelo tempo, em caracol, segurando-se no corrimão para não pisar em falso, e vai até o segundo andar.

Lá, duas estantes de aproximadamente três metros de largura, repletas de livros, tomam conta da pequena sala de estar. Um sofá azul grande disputa o ambiente onde a ex-presidente da República passa a maior parte do tempo desde o impeachment.

"Eu queria escrever um romance policial. Gosto muito. Li muito", diz, contemplando exemplares de sua coleção.

Um biombo corta parte do recinto e aguça a curiosidade dos visitantes. Por trás dele, um espaço de uns dois metros quadrados esconde a pequena área onde faz exercícios.

Há algumas faixas elásticas e um espaldar em madeira onde faz alongamentos. Dilma se exercita diariamente sozinha. Depois, roda de bicicleta pelas ruas do bairro Tristeza, onde mora na capital gaúcha, ao lado de dois seguranças.

Ela mostra os punhos. Desenvolveu LER (Lesão por Esforço Repetitivo) de tanto andar sobre duas rodas, hábito cultivado nos tempos de Presidência. Mas não dá sinais de que pretende parar.

Dilma não parece ter ganhado peso desde que deixou Brasília. Recebe a Folha maquiada, com o cabelo feito, de calça preta de alfaiataria e uma jaqueta laranja. Não tem mais compromissos durante a tarde de sexta-feira, 21 de outubro.

Marcos Nagelstein/Folhapress
PORTO ALEGRE, RS, BRASIL, 28.10.2016 - Edeifício da ex-presidente Dilma Rousseff, na Rua Copacabana, zona sul de Porto Alegre/RS. Foto: MARCOS NAGELSTEIN/Folhapress *** EXCLUSIVO FOLHA - NÃO USAR SEM CONSULTAR A FOTOGRAFIA ***
Edifício da ex-presidente Dilma Rousseff, na Rua Copacabana, zona sul de Porto Alegre
O telefone toca. A dona da casa deixa dar três toques e atende. "Tá ótimo, tá ótimo", responde apressadamente, e devolve o aparelho à base.

É o velho e bom telemarketing. O atendente da operadora quer saber se a cliente aprova o serviço –pela conversa, não parece saber de quem se trata do outro lado da linha.

Dilma desliga e murmura: "Às vezes eu finjo ser outra pessoa. Às vezes eu sou a Janete". E sorri, como quem se diverte com a traquinagem de enganar telefonistas.

Dona Vera sobe com duas xícaras de café. Não há móvel para apará-las.

"Estou pensando em trazer uma mesinha da casa da minha mãe, no Rio. Se tiver 60 centímetros de altura, os Correios transportam por um preço bom", comenta.

Dilma se levanta e puxa uma cadeira de madeira, onde as xícaras são acomodadas.

Em seu quarto, há apenas uma cama e uma grande TV. Há um outro quarto abarrotado de caixas. Dilma diz que, qualquer hora dessas, pretende enfrentá-las. Nem sabe bem o que há ali.

No banheiro, o box de vidro permite ver um par de chinelos escorado na parede, na diagonal, como quem os coloca lá para escorrer a água.

Trata-se de uma típica casa de classe média. Nada parecida com os palácios em que passou a maior parte dos últimos cinco anos.

Não é estranho morar aqui depois de viver no Alvorada?, pergunta a reportagem.

"Não. O Lula até me disse: 'para que você precisa de um lugar grande? Fica num pequeno mesmo'".

Depois diz que se habitua a tudo. E faz planos de cultivar uma horta na ampla –e vazia– área externa do segundo andar. Ali, não há muita privacidade. Há um prédio logo ao lado e outro ainda em construção.

No edifício, não há porteiro nem garagem subterrânea. Os dois seguranças da Polícia Federal a que t­em direito como ex-presidente ficam no pilotis, sentados num banquinho de praça. Não há guarita.

Dias depois da visita da Folha, um amigo da petista contou que a síndica do prédio colocou os seguranças para o lado de fora, na garagem de um estabelecimento que fica de frente para o conjunto habitacional. Mas os moradores pediram para que voltassem, sentiam-se mais seguros com eles lá dentro.

Como está depois de tudo?

"Estou bem. Não aguento a infelicidade", retruca.

Vai ficar em Porto Alegre mesmo? Não fica muito sozinha por aqui?

"Vou ficar, sim", afirma, e conta que, nos fins de semana, visita o ex-marido Carlos Araújo, os dois netos e, vez ou outra, um par de amigos.

Das visitas que recebe, a melhor de todas é a de Gabriel, o neto mais velho, que passa umas duas horas por fim de semana na casa da avó. Ele desenha e vê desenhos na TV.

Dilma não parece ter engrenado na vida social. Não vai ao teatro e ao cinema, programas que sempre se ressentiu de não fazer nos tempos de mandatária. Também não sai para jantar ou almoçar fora.

"Eu tenho 68 anos. E não tem tido nada que eu esteja querendo ver por aqui."

O livro sobre seu anos de Presidência deve ficar para depois. Sabe-se lá quanto depois. Ela não fala muito de projetos futuros. Fala menos ainda de política, como se tomasse relativa distância para colocar as coisas no lugar.

Também não toca muito no assunto impeachment. Mas afirma estar preocupada com uma onda conservadora no país.

Quase não faz comentários sobre Michel Temer. Nem esboça raiva de seu principal algoz, Eduardo Cunha, naquela sexta-feira à tarde já há três dias preso.

Queixa-se do ódio ao "lulopetismo". E trata o antecessor com deferência e carinho.

Dona Vera serve o segundo café, mas só para a reportagem. "Já estou ficando com enjoo", diz Dilma.

Por volta das 18h, quando dona Vera começa a rondar meio sem motivo a sala do andar de cima, a patroa intervém. "A senhora está querendo ir, né, dona Vera?".

A funcionária responde com uma pergunta. "A senhora ainda vai precisar de mim?"

A Folha indaga se a ex-presidente teme pegar avião, ser hostilizada. "Disso? O que eu posso fazer, não ir? Não fico traumatizada."

Alguma vez, nesta crise, chegou a chorar? "Não. [Mas] sou capaz de chorar assistindo a um filme". Ou quando se lembra dos amigos que perdeu para a tortura.

"Eu tenho muita dó dos que morreram, imensa. Porque é gente como eu, mas que morreu aos 30 anos. Me dá uma gastura enorme. Não gosto de pensar", lamenta.

Quase no fim da conversa, Dilma Rousseff pergunta: "Será que eles podem ler livros lá na prisão?".


A ex-presidente não diz o nome Lava Jato, mas claramente se refere aos detidos pela operação.

Artigo, A genética da corrupção, Zero Hora

Gilberto Schwartsmann: a genética da corrupção
Médico e professor

Aprendi com o professor Luiz Fernando Jobim, que sabe tudo sobre DNA, que o cromossoma Y é uma marca fiel da linhagem paterna. O meu Y é igual ao do meu pai, que é igual ao do meu avô e que é idêntico ao do meu filho.
Daí a história que contam do Y do Gengis Khan, que aparece em muitos homens que surgiram em seus domínios. Khan possuía centenas de concubinas, passando o seu Y para boa parte dos meninos que nasceram depois.
Volto depois ao Y. O leitor imagine agora uma cena de filme. Woody Allen, que adora misturar ficção e realidade (lembra "A Rosa Púrpura do Cairo"?) bota o juiz Sérgio Moro a auxiliar o detective belga Hercule Poirot, na busca do culpado pelo "Assassinato no Expresso Oriente".
No caso, o trem é uma metáfora do nosso querido Brasil. E, ao invés das personagens que nele viajam, os passageiros são políticos, empreiteiros e demais envolvidos na Lava-Jato e outros processos.
Como o corpo da vítima no Expresso Oriente apresenta múltiplas facadas, Poirot conclui que todos os passageiros são suspeitos. Ou seja, metaforicamente, todos sangraram o Brasil.
E quando chegam à estação turca, o desejo de Poirot é mandá-los, com os pés mergulhados em piche quente, para a Quinta Bolgia do Oitavo Círculo do Inferno de Dante, destino dos corruptos na Divina Comédia.
É aí que rouba a cena, outra vez, o cromossoma Y. Em nome da prudência, Poirot solicita que o professor Jobim entre também no filme e faça uma análise genética da bandidagem. E o professor examina o sangue dos corruptos vivos e o cabelo e ossos dos falecidos.
Conclui que todos têm o mesmo cromossoma Y. Isto mesmo. Como na história do Gengis Khan, os bandidos que saqueiam o Brasil, década após década, século após século, descendem todos do mesmo pai.
Que parece ter vindo de um destes países europeus ditos civilizados. Lá, ele se fazia de bonzinho na frente de reis e rainhas. Mas aqui, correndo nu, atrás de mulheres bonitas pelas florestas, tornou-se o Macunaíma de Mario de Andrade.

E assim, o anti-herói espalhou o seu cromossoma Y país afora, levando consigo a mensagem genética do jeitinho brasileiro de enganar as pessoas, que o cidadão honesto odeia. Em resumo: nossa sem-vergonhice está no DNA. Para curar, só com transplante. 

Desempenho da produção de bens de capital sugere retração dos investimentos no terceiro trimestre

Desempenho da produção de bens de capital sugere retração dos investimentos no terceiro trimestre
A produção industrial cresceu 0,5% na passagem de agosto para setembro, já descontada a sazonalidade, conforme divulgado hoje pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE. O resultado veio em linha tanto com nossa projeção quanto com a expectativa do mercado, de acordo com coleta da Bloomberg, que apontavam um crescimento de 0,6% em setembro. Na comparação interanual, a produção recuou 4,8%, o que significou uma queda de 8,8% nos últimos doze meses.
Setorialmente, nove dos vinte e quatro setores pesquisados apresentaram crescimento em setembro, com destaque para produtos alimentícios, com variação de de 6,4%, indústrias extrativas, que mostrou expansão de 2,6%, e veículos automotores, reboques e carrocerias, que registrou aumento de 4,8%. Em contrapartida, houve forte recuo do setor de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, com queda de 8,1%.
Dentre as categorias de uso, a produção de bens de consumo duráveis avançou 1,9% em setembro. Também chama a atenção o crescimento da produção de bens intermediários, com expansão de 1,2% na leitura de setembro. Entretanto, é importante destacar que o crescimento registrado pelos dois setores não foi o bastante para compensar as perdas registradas na última leitura, de 6,4% e 3,6%, respectivamente.
A produção de bens de capital recuou 5,1%, marcando a terceira queda consecutiva para o setor. A despeito do que vinha sendo apontado pela confiança do empresariado industrial e do crescimento significativo das importações nos últimos meses, os contínuos resultados negativos da produção de bens de capital e de insumos típicos da construção civil deve levar a uma nova retração da formação bruta de capital fixo no terceiro trimestre.
A melhora da confiança nos últimos meses (apontada tanto pela FGV como pela CNI) deve manter o desempenho morno da atividade industrial no curto prazo.  Deste modo, esperamos alta da produção industrial em outubro, especialmente em função da retomada da produção automotiva. De qualquer modo, acreditamos que a produção industrial encerrará 2016 em queda, em parte refletindo a contração do início do ano e o carregamento estatístico dos fortes recuos do ano anterior.
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Octavio de Barros
Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos - BRADESCO 

Artigo, Denis Rosenfield, Zero Hora - Eleições gaúchas

Eleições gaúchas
Professor de Filosofia

Por: Denis Rosenfield
01/11/2016 - 05h01min | Atualizada em 01/11/2016 - 05h01min
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Os resultados das eleições no Rio Grande do Sul expressam um alto grau de renovação, consolidando, nas urnas, um generalizado anseio por mudanças. Porto Alegre, Santa Maria, Canoas e Caxias mostram outros protagonistas, destacando-se o PSDB como o grande vencedor, tendo a seu lado o PTB, estando o PT, o PMDB e o PDT dentre os perdedores.

Porto Alegre mostrou uma inusitada força do PDSB, com o seu candidato, Nelson Marchezan, encarnando a mudança. Soube colocar-se enquanto alternativa, não caindo nas armadilhas de seu adversário. Contou, ademais, com o apoio do PTB.

Sebastião Melo, do PMDB, erraticamente, procurou captar os votos da esquerda, criticando o próprio governo Temer, em uma clara demonstração de contradição partidária.

A chapa PMDB-PDT expunha, por sua vez, toda a sua incoerência, misturando os partidários do impeachment com os seus detratores. O prefeito Fortunati, além da desaprovação de sua gestão, foi um firme partidário da ex-presidente Dilma.

Comportamentos inconsequentes deste tipo pagam o seu preço. Os votos nulos, brancos e abstenções alcançaram, em nossa Capital, em torno de 44% dos votos, amalgamando os desencantados com a política e os desorientados do PT.

No primeiro turno, o PT foi clamorosamente derrotado, seu candidato, Raul Pont, não conseguindo passar para o segundo turno. Nem o petismo sem PT, o PSOL, com Luciana Genro, conseguiu vingar. Agora, no segundo, em Santa Maria, sua última esperança, foi o seu candidato, Valdeci Oliveira, derrotado pelo deputado Pozzobom, do PSDB. Os tucanos impuseram-se novamente.

Em Canoas, uma boa administração do prefeito Jairo Jorge, uma espécie de petista independente, não conseguiu tampouco se impor, com a sua candidata, Beth Colombo, atual vice-prefeita, sendo derrotada pelo deputado Busato, do PTB. O petismo light foi também tragado pelo onda antipetista.

Em Caxias, o atual prefeito, Alceu Barbosa, bem avaliado, não conseguiu fazer o seu sucessor, sendo o candidato do PDT, Edson Néspolo, derrotado pelo candidato Daniel Guerra, do PRB, ex-PSDB. Os trabalhistas foram, assim, vencidos.

Os anti-impeachment, PT e PDT, não conseguiram impor a sua narrativa. Onde compareceram foram, nas grandes cidades, derrotados. Quem com eles namorou, como o candidato do PMDB em Porto Alegre, sofreu o mesmo destino.

O desejo de renovação e de mudança terminou prevalecendo. O Rio Grande do Sul emerge com uma nova cara nestas eleições. Os diferentes partidos deverão repensar 2018.


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A sociedade não aceita aumento da passagem por estar descontente",

A sociedade não aceita aumento da passagem por estar descontente", diz Nelson Marchezan Júnior
Prefeito eleito de Porto Alegre ainda falou sobre reforma administrativa e transparência nas contas públicas

Por: Paulo Germano, Juliana Bublitz e Juliano Rodrigues
01/11/2016 - 02h00min | Atualizada em 01/11/2016 - 02h11min
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O prefeito eleito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), dedicou o dia seguinte à vitória a uma maratona de entrevistas. No início da tarde, o deputado federal conversou com ZH durante cerca de uma hora. Falou sobre alguns dos seus planos para a cidade, embora tenha mostrado cautela com o prazo para colocar as promessas em prática. Antes, quer promover reforma administrativa, mapear os principais problemas e formar a equipe de governo, que ainda está indefinida. O futuro prefeito da Capital disse ainda que quer ser lembrado como gestor transparente e político confiável.

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Confira os principais trechos da entrevista:

Qual será a primeira medida ao assumir?
Não sei exatamente. A gente tem de construir coisas até lá, temos dois meses para construir normatizações internas que deem mais transparência às contas públicas.

Corte de CCs, por exemplo?
A gente fala em reestruturação da gestão. Hoje, a gestão parece estar muito longe. São várias estruturas com status de secretaria, então o problema se dilui, e a solução nunca chega. A pessoa tem um problema que só pode ser resolvido pelo setor público e fica perdida em uma estrutura gigantesca.

Então a primeira medida é cortar órgãos?
Não é cortar, é reorganizar. Vamos buscar técnicas de gestão que possibilitem contato mais direto entre o topo da pirâmide, o cargo que tem posição de decisão final, o prefeito, e aquele que tem o problema a ser resolvido, o cidadão.

O senhor diz que não vai fazer loteamento de cargos, mas que vai avaliar as indicações dos partidos. Como vai ser o processo de escolha dos secretários?
Vai ser por aquele que atender melhor o interesse público. Não só na escolha, mas também na permanência. Tenho contrato assinado com a sociedade. A sociedade me entregou um contrato, que eu já tinha assinado, que são as minhas propostas. Me deu prazo de quatro anos, me deu as metas, aquilo que tenho de fazer, os princípios da gestão. Tenho de buscar o secretariado que atinja essas grandes metas. Tu não podes levar quatro anos para cumprir uma atividade específica na área da saúde, da segurança, da educação. Se essa pessoa que estiver no cargo, independentemente do partido, do sindicato que indicou, de como essa pessoa veio para cá, não cumprir a meta, precisará pedir para sair, porque se ela não cumprir, não vou cumprir a minha meta em quatro anos. Isso é em qualquer empresa.

Se a pessoa não pedir para sair, será demitida?
Ela vai pedir. Vamos conversar e fazer entender. Não é questão de incompetência, mas de, naquele momento, não conseguir atender a missão. Não é questão pessoal, mas de interesse público.

Quanto tempo os secretários vão ter para atingir as metas?
Não tenho como dizer hoje. Não sabemos como vamos dividir as metas e como vai ser a estrutura.

Os secretários serão técnicos?
Me parece que há uma confusão de que político não pode ser técnico. Acho que político que não busca a qualificação técnica perde grandes oportunidades e não merece prosseguir na política. E o contrário também.

Ser ficha limpa será condição para fazer parte do governo?
É uma condição dos princípios e valores que construímos na campanha. Não desenvolvemos isso na prática, mas a pessoa para ocupar cargos tem de ter certificação, seja para ser cargo em comissão ou função gratificada. E que possa ter curso de formação interna na prefeitura. Há servidores que estão lá há muito tempo, alguns com muita qualificação, mas que não tiveram essa oportunidade.

Seu principal aliado é o PP, e o senhor diz não ter "corrupto de estimação". Vai tirar o PP do DEP, onde houve fraude?
Não devemos ter partidos repetidos em secretarias que ocupam atualmente. A ideia é que pessoas que estão em funções agora não sigam nelas.

A Smov (obras) ficou anos sob comando do PTB e do PDT. Há reclamação, inclusive sua, de que as ruas de Porto Alegre têm muitos buracos. Como resolver?
A gente não sabe se a Smov vai continuar sendo Smov. Não sabemos qual vai ser a estrutura de gestão e vou repetir: não tem uma secretaria que a gente possa dizer que vai existir, ou que vá funcionar como está funcionando. Não ventilamos nenhum nome, nem com partidos, nem com entidades. Não é pela indicação que alguém vai ocupar um cargo. A vida real está ruim, a prefeitura está ruim e precisa melhorar. Se fizer do jeito igual, se fizer a mesma coisa, vamos ter os mesmos resultados.

Por que acha que Vanderlei Cappellari, diretor-presidente da EPTC, é tão ruim se diminuiu o número de mortes em acidentes? Ele vai ser demitido?
Não tenho nada contra ele, não o conheço pessoalmente e ele é servidor de carreira. Vou tirar ele da direção porque o conceito da EPTC está equivocado, virou adversária do Uber. Claro que quem comete infrações precisa ser multado. Isso não vai diminuir, talvez até aumente, mas a gente precisa utilizar a EPTC como parceira da sociedade.

O senhor deve alterar a regulamentação do Uber?
Não sei se o prefeito vai vetar algo. Parto do princípio de que as atividades empresariais têm de ter regulamentação para garantir a segurança dos munícipes. Tudo mais que inventar de regulamentar que não seja proteção ambiental, proteção do interesse público, estarei cometendo equívoco.

O Movimento Brasil Livre (MBL) apoiou o senhor na campanha. Ele vai ocupar espaço?
Eles não querem espaço no governo. É uma relação normal com pessoas que representam uma parte da sociedade.

Uma das suas propostas é modificar os pardais para que flagrem carros roubados. O senhor já tem um planejamento?
Não. Ganhei a eleição domingo.

Mas quando o senhor elaborou a proposta, não sabia?
O prazo não. Tenho ideia de custo, de quanto custa fazer o cercamento da cidade, do software.

Qual é a ideia de custo?
As câmeras custam cerca de R$ 4 mil por mês. Fazem a captação com um link para um banco de dados e para atuar com a Polícia Civil e a Brigada Militar, que têm interesse gigantesco porque facilita a vida deles.

Essas parcerias serão feitas no início do governo?
Já conversamos com delegados, comissários, oficiais, soldados. Agora, vamos conversar com os órgãos oficiais. O governo do Estado pode dizer que não quer, mas seria uma situação inaceitável.

A arrecadação vem em queda desde 2014. O senhor pretende buscar ajuda com Michel Temer e José Ivo Sartori?
Do ponto de vista financeiro, acho difícil que Porto Alegre tenha ajuda de um Estado quebrado e de um país em crise financeira. Talvez consiga auxílio técnico.

O percentual de endividamento da prefeitura está em 16,2% da receita, mas o limite legal é de 120%. O senhor pretende fazer novos empréstimos?
Vamos estudar bastante isso. A ideia é que a gente possa usar essa capacidade de endividamento para questões de interesse público. Mas, se a prefeitura tem capacidade de endividamento e não tem como pagar a folha, provavelmente não tem recursos para a contrapartida.


Prefeito eleito afirmou que partidos não devem ocupar as mesmas secretarias nas quais estão hoje
Foto: André Ávila / Agencia RBS
Contratos serão revistos?
Acho que temos de conversar com as empresas de ônibus. Elas já estão dizendo que não conseguem cumprir o que foi contratado na licitação. É uma ótima oportunidade para que se possa rever isso e colocar itens de segurança. Se o ônibus for mais seguro, mais gente vai usar, e o movimento vai melhorar.

Vai romper o contrato?
Não, não dá para dizer isso.

Em 2017, o senhor terá de lidar com a revisão da tarifa de ônibus. É possível negociar?
O prefeito obrigatoriamente terá de conversar sobre isso. Como vai ser a conversa, a gente não sabe. Provavelmente, vai ser uma conversa difícil. O sistema de gestão precisa vir para a prefeitura. A prefeitura precisa ter dados. Esse é um fator importante a ser renegociado.

O senhor tem alguma convicção sobre o aumento da tarifa?
Tenho convicção de que a sociedade não aceita aumento por estar descontente com o setor público.

O senhor vai se posicionar contra o aumento da tarifa?
Seria precipitado falar isso, mas precisamos encontrar alternativas.

A Carris será privatizada se continuar gerando prejuízo?
O conceito é que não pode gerar prejuízo, porque a dona Maria e o seu João, que não têm dinheiro para comer ou para dar comida ao seu filho, não podem pagar R$ 50 milhões de prejuízo pelo luxo de ter uma empresa pública.

O senhor acha que pode melhorar a qualidade do transporte se a Carris for privatizada?
O critério não é esse. O critério é: se a Carris gera prejuízo, a sociedade não tem de pagar esse prejuízo.

Quanto tempo a nova direção terá para salvar a companhia?
Não sei nem os problemas, como vou dar prazo para solucioná-los?

A sua principal promessa na área da saúde é abrir oito postos até as 22h. No primeiro ano, vamos ver isso na prática?
Acho que sim. Agora, como vou responder isso, se ninguém sabe como estão as contas da prefeitura? Desde janeiro, o prefeito diz que talvez não pague os salários. Se ele não consegue dar o planejamento financeiro do ano, como eu, que não estou na prefeitura, vou dar?

O senhor vai saber lidar com cobranças quando for prefeito?
Vou. Vou responder de forma muito simples.

Como o senhor quer ser lembrado como prefeito?
Como um político em quem é possível acreditar.

E que marca quer deixar?

A marca da transparência e da participação da população.

Financiamentos de campanha

Em números totais, o tucano arrecadou R$ 2.942.855,17 contra R$ 1.558.300,00 do peemedebista. O prazo para a prestação de contas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) termina 30 dias após as eleições. Até a data do pleito, novos valores ainda podem ingressar na prestação.


Confira os 10 principais doadores dos candidatos:

Marchezan

1 – Partido da social democracia brasileira – R$ 450.000,00

2 – Jose Salim Mattar Junior – R$ 150.000,00

3 – Fernando Jose Soares Estima – R$ 120.000,00

4 – Frederico Carlos Gerdau Johannpeter – R$ 100.000,00

5 – Iara Francisca Chagas Johannpeter – R$ 100.000,00

6 – Frederico Carlos Gerdau Johannpeter – R$ 100.000,00

7 – Rafael Taddei Sa – R$ 90.000,00

8 – William Ling – R$ 70.000,00

9 – Wilson Ling – R$ 70.000,00

10 – Claudio Nudelman Goldsztein – R$ 50.000,00

Melo

1 – Direção estadual/distrital – R$ 440.000,00

2 – Direção nacional – R$ 288.000,00

3 – Klaus Gerdau Johannpeter – R$ 100.000,00

4 – Jose Isaac Peres – R$ 50.000,00

5 – William Ling – R$ 30.000,00

6 – Wilson Ling – R$ 30.000,00

7 – Eliseu Cezar Colman – R$ 25.000,00

8 – Direção municipal/comissão provisória – R$ 20.000,00

9 – Alvaro Alves Sobrinho – R$ 20.000,00

10 – Felipe de Andrade Neves Nieckele – R$ 20.000,00

Arrecadações nas cidades com segundo turno:


Opinião do editor - Os cães ferozes foram soltos novamente.

O blog Ceticismo Político, assinado por Luciano Ayan, escreveu um romance para atacar o editor, acusado até de spin doctor do candidato Sebastião Melo. No caso de Sebastião Melo, o que o editor tem a dizer é que deve lealdade aos seus velhos amigos e companheiros, que como ele souberam lutar o bom combate contra a ditadura militar, redemocratizaram juntos a vida brasileira e permanecem fieis aos melhores princípios da liberdade política e econômica.

Luciano, que fez uma corruptela do sobrenome da autora russo-americana Ayn Rand, é alter ego do MBL. O MBL e o próprio autor do romance, apoiaram Marchezan Júnior e queixam-se de que o editor não é "imparcial". O editor nunca escreveu, em local algum, que é ou foi "imparcial", mas que sempre foi e é "independente". Foi por prezar a sua liberdade e a sua independência, que foi para a prisão várias vezes na ditadura e durante os 30 anos de chumbo da predominância do PT, sofreu por parte dele cruéis perseguições, processos judiciais, denúncias seguidas no MPF, na PF e no MPE, além de expurgos de todos os jornais, rádios e TVs onde trabalhou. Há 54 anos atrás o editor era eleito presidente da UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) no RJ e já lutava pela democracia (imagem abaixo retirada do site da UBES).

O apoio do editor ao candidato Sebastião Melo foi claro como um dia ensolarado no deserto subsaariano. Isto está registrado em comentários do Youtube e no Facebook do editor.

E respeitou quem pensou e agiu de outro modo, até mesmo familiares da sua maior intimidade.

O editor foi parceiro do MBL e de Luciano Ayan durante todo o processo de manifestações de rua e que resultou no impeachment de Dilma Roussef.

Acontece que isto acabou e o ciclo político agora é outro. O editor não presta vassalagem a nenhum Partido, não cumpriria o triste papel de protagonista de tragédias como as que vitimou Plínio Zalewski, como também não exerceria a condição de jagunço caçador de estudantes, como acontece no Paraná do governador Beto Richa.

Só o MBL e seus comparsas não entenderam isto, convencidos de que foram os salvadores da pátria e podem patrulhar quem discorda deles, conspurcando com isto os fundamentos do estado democrático de direito, no qual um dos apanágios mais caros é a liberdade de expressão, portanto de imprensa. O MBL meteu-se de pato a ganso e tenta desesperadamente permanecer à tona através de práticas anti-democráticas, inclusive comemorando vitórias que não são suas.

Os cães ferozes estão novamente soltos. Os da extrema esquerda já foram enfiados nos seus canis.

CLIQUE AQUI para examinar a catilinária dos guardiões da única verdade absoluta, a deles.