Periodicamente volta à discussão a privatização do Banrisul, mas, como sempre, argumentações simplistas reduzem a qualidade do debate.
A justificativa para a privatização deveria começar por sua utilidade econômica e social para a sociedade e verificando se o investimento feito no Banco é compensado.
Trocar o Banco por R$ 3 ou 4 bilhões para o caixa do Estado, sem analisar as consequências de se desfazer do Banco é pobre e não resolve as necessidades dos insaciáveis cofres estaduais.
O Banrisul possui ativos na ordem de R$ 110 bilhões, o que corresponde a próximo de 20% do PIB gaúcho e que estão espalhados pelos mais diversos setores da sociedade gaúcha, exceto quando a administração prefere aplicar em títulos federais.
O desempenho recente do Banco do Brasil e da CEF, com foco e competência, demonstra que o potencial dos bancos estatais, quando bem utilizado, é instrumento essencial para a aplicação de políticas públicas.
Nos últimos anos, se assistiu no Estado ao avanço dos grandes bancos brasileiros e dos cooperativos, em um espaço deixado pelo antes protagonista Banrisul que, apesar da sua excelente condição, não soube enfrentar a concorrência, perdendo mercado.
Com baixo desempenho e falta de perspectivas indicadas pela conformada administração, o valor do Banco em mercado despencou 59,6% entre dezembro de 2018 e junho de 2022, conforme informado em seus balanços. São alguns bilhões de perda.
Cabe ainda lembrar que o Banrisul, para operar, contrata centenas de empresas do Estado, dos mais diversos portes e com milhares de funcionários, injetando mais recursos na economia gaúcha.
A privatização, com os estudos em andamento pelo atual governo, não extinguiria apenas os empregos diretos dos quase nove mil funcionários atuais, mas também dos indiretos gerados por sua atividade.
Falando sério, a discussão não é sobre privatização, mas sobre extinção.
Falácia da discussão é dizer que o Estado tem três bancos públicos, ao incluir o BRDE/RS e o Badesul, ambos importantes, mas com funções distintas. Suas potências são diferentes, pois juntos representam, em termos de ativos, aproximadamente 10% dos R$ 110 bilhões do Banrisul.
Com quase cem anos integrando a história econômica gaúcha, um choque de gestão e de visão estratégica para os novos e desafiadores tempos é que poderá recuperar seu valor, o protagonismo e a competitividade passada, fatores inexistentes hoje.
RICARDO R. HINGEL
ECONOMISTA E EX-DIRETOR DO BANRISUL