Artigo, Marcelo Aiquel - E o fio do bigode voou


         Nasci, e fui criado, em uma época que a “confiança” era representada pela palavra; em que honrar um compromisso assumido, mesmo apenas de boca, valia mais do que qualquer coisa.
         Há muito tempo criou-se a figura do “fio do bigode”. Dizia-se que um Homem de verdade (aqueles com H maiúsculo) honrava até um fio do seu bigode; ou seja, que a palavra dada era sagrada. Assim, aprendi que a palavra era mais importante do que mil assinaturas.
         Hoje, escrevo ao constatar que promessa nenhuma tem valor.
         Reuniões, acordos, e assinaturas, pra que? Se depois nada vale!
         O país está assistindo, entre assustado e incrédulo, a um movimento dos caminhoneiros que começou bem, mas logo se desvirtuou. A ideia era boa; a causa, justa. O que houve de errado então?
         A inexistência do “fio de bigode”. Só isso? Só!
         Porque, os representantes foram convocados para discutir o assunto e concordaram com as condições ao assinarem o acordo. Caso contrário, bastava negar-se a validar os termos.
         Não estou aqui para debater as condições do contrato. Dizer se era bom ou não.
         O que realmente me interessa é a honra, ou a palavra, dos representantes.
         Sim, dos representantes!
          Pela simples razão de que os caminhoneiros – com absoluta certeza – não organizaram todo este enorme movimento nacional num encontro na bodega de beira de estrada. Foram seguramente comandados pelos chefes (patrões; sindicalistas, ou presidentes das Confederações de classe) e insuflados por oportunistas.
         E quem sinceramente não acredita nisto é – no mínimo – um ingênuo.
         Enfim, estamos diante de mais uma oportunidade onde um grande número de brasileiros mostrou que não somos um povo ético.
         Novamente o “fio do bigode” voou!