- Publicado pelo Instituto Liberal
Em 2014, quando tive a honra de iniciar minhas
contribuições para esta tradicional casa chamada Instituto Liberal, redigi,
findo o primeiro turno, texto sobre o cenário em que Aécio Neves e Dilma Rousseff
se enfrentariam. De lá para cá, parece que se passou uma eternidade, tamanha a
convulsão política em que o Brasil mergulhou. Eis, no entanto, o que disse
então:
“Sua candidatura (a de Aécio) representa (…) uma
conciliação da esperança: a esperança de todos que querem um Brasil
democraticamente sadio. Um Brasil que não se submeta às agendas bolivarianas.
Um Brasil em que haja uma competição saudável de ideias. Todos os democratas,
sejam eles conservadores, liberais, sociais democratas moderados, libertários,
ou o que mais se enquadrar, precisam se unir neste momento no projeto de
derrotar o petismo. Podemos ser adversários naturais, mas o que existe diante
de nós é mais que um adversário. É um inimigo, que teria prazer em nos negar a
existência. Vencê-lo é um primeiro passo, importante, em direção a um país
diferente e mais desenvolvido.”
Disse, no mesmo artigo, que Aécio, apesar de precisar
aglutinar todos os segmentos de opinião sinceramente interessados em derrotar o
inimigo maior e verdadeiro, o petismo, precisaria ser combativo e assertivo
para obter a vitória que todos desejávamos. Hoje, sabemos muito bem quem é
Aécio Neves, sabemos das acusações graves que pesam sobre ele e a real dimensão
de sua expressão política. Sabemos que Aécio Neves nunca poderia ser o
estadista que se esperava que ele fosse
Arrependo-me do que escrevi? Não, nem um pouco. Escrevi o
que precisava ser escrito. Ás vésperas do segundo turno, no artigo
sugestivamente intitulado Domingo 26, repeti o recado, em tom de otimismo com
os sucessos conquistados pelo crescimento de ideias liberais e conservadoras no
Brasil, mas ciente de que a vitória do petismo seria desastrosa. Frisei que
“inúmeros partidos e correntes diversificadas, dentro da própria esquerda
(sobretudo a moderada), se aglomeram em apoio de sua candidatura. Dizemos
francamente: isso não é um problema. O que está em jogo é exatamente lutar pela
reconquista do país, pela sua consolidação como uma nação livre. O que está em
jogo é retomar diretrizes saudáveis e fazer subir o patamar da civilização
brasileira. Nessa direção, todas essas correntes democráticas, para que
subsistam e façam seu papel da melhor maneira possível, no ritual da sã
política – como adversárias, sim, mais do que natural e nada contraditório -,
entendem que devem se unir contra o projeto petista. Lançamos, então, nosso
último “manifesto” aos amigos de convicções políticas similares, nesta
derradeira coluna antes do segundo turno das eleições: não deixem que suas
diferenças com o candidato que nos oferece os ares mais saudáveis os impeça de
tomarem a melhor decisão. Entendamos as prioridades, entendamos o que está em
jogo. O depois é o depois. Pensemos nele quando pudermos garanti-lo”.
De lá para cá, muita coisa mudou. O PT, infelizmente, venceu.
O país mergulhou em dramática recessão, porém, para nossa sorte, parcela
significativa de nossos compatriotas percebeu suas imundas intenções e o
impeachment de Dilma aconteceu. O vice Michel Temer assumiu a presidência. Seu
governo obteve realizações, mas enfrentou ocasiões desafiadoras, como a
confusão criada pelo áudio de Joesley Batista, as denúncias e investigações que
pesam sobre a cabeça do emedebista e a greve dos caminhoneiros. Conseguiu êxito
histórico em conter a recessão, mas não teve capacidade de se comunicar e
implementar reformas imprescindíveis. Hoje, a poucos meses de se despedir do
cargo, já praticamente não mais governa.
Mesmo com tantas reviravoltas, algumas coisas permanecem
as mesmas. Uma delas, o inimigo. O PT continua competitivo, continua
lamentavelmente com muitos seguidores, continua provavelmente figurando entre
os “classificados” para o segundo turno nas eleições do próximo domingo, dia 7.
Podemos ter outras forças políticas de que discordamos e que nos causam
problemas, mas nada se compara a essa quadrilha totalitária e corrupta,
mancomunada com o que há de pior na humanidade, parceira declarada do
bolivarianismo abjeto de Maduro, e que, se retomar o poder que perdeu,
implantará o governo indireto de um presidiário, de um criminoso condenado,
mergulhando o Brasil no abismo mais profundo de lama moral em que jamais
esteve.
O que também não mudou: a minha orientação pessoal, meus
motivos, meus valores.
Aprendi muito de 2014 para cá, cometi erros, procurei
acertar. Um detalhe nunca me escapou, de um detalhe nunca me desgarrei: a
identificação do oponente mortal, aquele que precisa ser derrotado como
prioridade número um, condição sine qua non da própria existência, à revelia
das nossas preferências e opiniões. Aécio Neves hoje, para mim, representa a
mesma coisa que nada; é uma figura sem qualquer importância, que deve acertar
suas contas com a Justiça. Àquela época, porém, mesmo carecendo de informações
mais precisas sobre sua índole, ele já estava distante do meu ideal; já não
era, nem de longe, um defensor das teses e do horizonte político que eu mais
desejaria ver representado. No entanto, era ele a esperança de derrotar o PT;
defendi a união de forças para obter essa vitória e faria tudo de novo, porque
naquele momento era o certo a fazer.
Permanece sendo o certo a fazer. As críticas que você
tiver aos candidatos não tornam a omissão a atitude mais correta diante do
perigo do PT. A responsabilidade está mais uma vez, como sempre, em nossas
mãos.
Porém, a “nova direita”, o movimento liberal e
conservador que emerge no país, é ainda algo invertebrado e imaturo. Se
considerarmos que em 2014 ainda tínhamos polarização PT x PSDB na eleição
presidencial, estamos engatinhando em ter organização, impacto ou presença em
campanhas eleitorais. Talvez certas dificuldades advenham disso, em parte, ou
talvez também do fato de que, em alguma medida, à esquerda ou à direita, a
política seja assim mesmo… Refiro-me a certo tom de “coação”, de
“constrangimento”, com que as pessoas estão defendendo seus votos.
Eu prefiro dizer: reflita e decida de acordo com a sua
consciência; julgue o que acha melhor. Há apenas uma coisa que, para todos nós,
é imperativa: desenvolver a capacidade de discernir o que é um divergente em
questões menore