Artigo, Alon Feuerweker, FSB Inteligência - Modus operandi do governo Bolsonaro no Congresso

O modus operandi congressual do bolsonarismo vai ficando cada vez mais nítido. Não há obsessão por tratorar o Legislativo. No plano parlamentar, aceita-se o jogo. O que os parlamentares perderam em espaço político na Esplanada, ganharam em oportunidades de protagonismo. O governo manda os projetos, o Parlamento faz quase o que bem entende, depois o presidente veta, e o Legislativo também derruba os vetos que deseja.

Não sei se chega a ser uma nova política, mas tem boa dose de novidade, ao menos neste último meio século. Nos governos militares, o Congresso, quando estava aberto, era uma máquina carimbadora do Executivo, graças também ao bipartidarismo, aos atos institucionais e às cassações periódicas de mandatos. Quando nada disso era suficiente vinha o fechamento. Como por exemplo no Pacote de Abril de 1977.

Depois nasceu a Nova República, uma oportunidade do país aos políticos. Mas Tancredo Neves morreu, José Sarney virou um presidente não tão forte, e sofreu a dualidade de poder imposta pela Constituinte e Ulysses Guimarães. E teve de escancarar a máquina aos políticos para sobreviver. Sucedeu-o Fernando Collor, que quis fazer uma nova política e acabou derrubado. Por questiúnculas, como Dilma Rousseff um quarto de século depois.

E surgiu Fernando Henrique Cardoso para derrotar o PT de Luiz Inácio Lula da Silva, que estava forte depois da queda do seu antípoda, Collor. FHC governou à moda tradicional, e teve tranquilidade, também porque a nova política tinha dado errado. E graças à velha e boa política o tucano sobreviveu à debacle do Real na transição do primeiro para o segundo mandato. O país parecia vacinado contra impeachments. Parecia.

Lula governou conforme a cartilha da Nova República. Aprendendo com Sarney, Collor e Fernando Henrique, procurou montar uma base sólida no Congresso para evitar surpresas. Também por isso, escapou na crise do chamado mensalão, reelegeu-se e elegeu a sucessora. Que se sentiu num momento suficientemente forte para deixar os aliados na rua da amargura da Lava Jato. Deu no que deu.

Agora Jair Bolsonaro propõe uma nova oportunidade para um modelo que falhou duas vezes.

Verdade que o atual presidente faz isso numa conjuntura excepcionalmente favorável. Para começar, dois terços do Congresso estão potencialmente alinhados com a agenda do Executivo. O governo acha, e tem uma dose de razão, que mesmo se nada fizer o Legislativo terá de andar na linha do Executivo, pois os deputados e senadores não terão como explicar aos seus eleitores se fizerem diferente.

E o financiamento empresarial de campanhas está vetado, o que diminui a atratividade da ocupação de certos espaços ministeriais e nas estatais. Claro que sempre o olho pode crescer. Mas o mar não está pra peixe. E os partidos estão razoavelmente abastecidos pelos recursos públicos para sobreviver e fazer suas campanhas. Então, se o Planalto executa com competência o orçamento das emendas, tem combustível para navegar.

Para ajudar, o reinado absolutista da Lava Jato parece ter entrado no seu até agora pior inverno. E Bolsonaro tem assim facilitada a tarefa de recolocar o gênio dentro da garrafa, ou pelo menos tentar. Era previsível, e foi previsto, que o Bonaparte saído das urnas precisaria restabelecer o Poder Moderador do Executivo, tradicional desde que D. Pedro I fechou a Constituinte e outorgou a primeira Carta do Brasil independente.

Nisso, no essencial, Planalto, Congresso e Supremo vêm jogando juntos, pois interessa a todos acabar, ou pelo menos reduzir, a disfuncionalidade institucional em que o país foi atirado desde que Executivo e Legislativo ficaram acuados pela Lava Jato. E, enquanto esta permanece uma ameaça letal, seria pouco inteligente os três lugares geométricos da Praça dos Três Poderes ficarem de mimimi uns com os outros.

Sem contar que o PT não está propriamente infeliz com o esforço bolsonarista para controlar a fera. Sempre há a possibilidade, claro, de a Lava Jato voltar a se concentrar só no PT, mas até isso teria um lado útil para o petismo: reforçaria a narrativa de vitimização, já bem nutrida pelas interessantes revelações do The Intercept e parceiros. Depois da VazaJato, a Lava Jato nunca mais será a mesma, apesar das juras de amor do novo PGR.

Então está tudo bem? Não, tem aquele probleminha: quase 13 milhões de desempregados, fora os subempregados e desalentados em geral. Eis a fenda na represa, fenda que se não for fechada embaralha bem esse jogo. Ninguém vai querer ser sócio do fracasso. Mas enquanto não chega o dia do juízo político o bolsonarismo aproveita o mar de almirante para radicalizar na guerra de posição, inclusive no campo cultural. Já que Gramsci está na moda

O juiz que deu voz de prisão ao chefe de Polícia


Na primeira metade dos anos 80, um juiz lotado em Sapucaia do Sul (RS), Luiz Francisco Corrêa Barbosa, passou a se notabilizar por determinar apreensões de bens e valores de grupos criminosos ligados ao tráfico de entorpecentes. Dinheiro, pequenos aviões, embarcações. Tudo estava bloqueado e sob guarda da Justiça, nos chamados depósitos judiciais.
O próprio Barbosinha, como o personagem é conhecido, conta que, paralelamente às ações, a Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) celebrou um convênio com a extinta Caixa Econômica Estadual permitindo que a Justiça "carreasse recursos de depósitos judiciais para a Caixa Estadual, os quais poderiam ser usados na concessão de empréstimos aos magistrados".
— Eu era do conselho deliberativo da Ajuris e fui contra isso. Estavam usando dinheiro das partes para benefício pessoal. Eu me rebelei, votei contra, mas só fui acompanhado por um conselheiro — recorda Barbosinha.
Ele recorreu à Assembleia-Geral da Ajuris, quando foi novamente derrotado. Ele disse, então, que ingressaria com ação popular contra o convênio entre Ajuris e Caixa Estadual.
— De fato, entrei com a ação. E fui expulso da associação. Queriam acesso aos depósitos judiciais que estavam sob meu controle, mas eu tirei tudo da Caixa Estadual e mandei para o Banco do Brasil — diz.
Barbosinha rememora que, depois disso, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça determinou o seu afastamento das funções.
— Um corregedor foi lá me notificar. Eu disse que não aceitaria. Fizeram uma sessão secreta e determinaram a minha prisão por crime de exercício funcional ilegalmente prolongado. Isso porque eu me recusava a cumprir o afastamento — relata.
A partir disso, forças policiais foram mobilizadas para encarcerar o então juiz Barbosinha em Sapucaia do Sul.
— Mandaram a polícia me prender no gabinete. E eu prendi a polícia. Dei voz de prisão e ficamos trancados dentro do gabinete. Quem foi lá era o chefe de Polícia da época, o Antônio Diniz Alves de Oliveira. Tinha batalhão de choque, cavalaria, toda a imprensa e o raio que o parta. Foi um fiasco — recorda.
Tudo isso se arrastou desde o início de uma tarde de trabalho até as 5h do dia seguinte. Barbosinha, alegando estar preocupado com "uma tragédia", encaminhou um acordo: pediu que a população que acompanhava o rebu no local dissipasse e que o batalhão de choque fosse retirado.
— Às cinco da manhã, eu me declarei preso. Fui para o regimento Bento Gonçalves, na Avenida Aparício Borges, e fiquei lá por um dia e meio preso. Aí o tribunal revogou a prisão — conta.
No final, Barbosinha foi colocado em "indisponibilidade remunerada". Recebia o salário de juiz, mas não podia atuar. Se dedicou à política, virou prefeito de Sapucaia do Sul pelo PTB nos anos 90, e depois direcionou o fico à advocacia.

Nota da OAB


A OAB/RS e sua Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas vem a público externar sua preocupação acerca das agressões sofridas pelo advogado Jefferson Cardoso, no interior do Foro Central de Porto Alegre, por seguranças.

Nada justifica a agressão desproporcional, saindo dos limites do dever funcional dos servidores. A OAB/RS repudia veementemente a violência no trato ao advogado, ao ser mantido por seguranças contra parede no Foro e sofrer lesões, além da humilhação, mesmo após ter se identificado como advogado, frente aos colegas. A OAB/RS não vai se calar diante de qualquer situação que tente silenciar ou violar a advocacia.

Repudiamos completamente qualquer ato que atente contra a dignidade dos advogados e advogadas e prestamos solidariedade ao advogado agredido.

O presidente da OAB/RS, Ricardo Breier, ressalta que qualquer tentativa de coação denunciadas contra a advocacia serão imediatamente acompanhadas institucionalmente. A CDAP, de ofício, instaurou imediatamente o procedimento, bem como oficiou o diretor do Foro Central e está acompanhando o caso junto ao advogado para que todas as suas necessidades sejam atendidas.