O cenário dos investimentos no Brasil está calmo, demais
até. Seja pela incerteza gerada por uma economia em recessão, seja pela
expectativa da troca de governo: sai uma facção política que espantou os
investidores, entra uma que pode, insisto no pode, atraí-los.
São dois os principais componentes para afastar
investidores: a incerteza e a insegurança. Incerteza temos demais,
principalmente com esta indefinição política. Insegurança, também estamos bem
servidos. Seja econômica: qual a política fiscal, cambial e de juros de longo
prazo? Seja jurídica: qual respeitabilidade aos contratos privados?
O Brasil viveu, a partir do governo dilma, como um
pródigo, gastando mais do que arrecadava e com políticas econômicas e sociais
iguais ao do governo Lula, onde havia um superávit fiscal, mas as condições
econômicas não se repetiram com dilma. A consequência dessa política temerária
foi um crescente endividamento público, que geraram as pedaladas fiscais. O
sinal de perigo para os investidores, notadamente os estrangeiros, foi a perda
do tal grau de investimento. Ou seja, quem aqui investir reconhece que o risco
é elevado. Somos terra para especuladores. Recuperar isso levará tempo.
O que acontece com a saída de dilma e sua desastrada
política econômica? O Brasil não amanhecerá com suas contas em dia, num
ambiente favorável aos negócios. Ainda levaremos 107 dias para abrir uma
empresa e 2.600 horas para cumprir as obrigações tributárias. Os juros ainda
serão elevados, contratar funcionários continuará oneroso e ainda seremos junk
para os investidores internacionais. Porém, à semelhança da Argentina, pós
Macri, com origem pior que a brasileira, poderemos mudar as expectativas sobre
o nosso futuro. Vale lembrar, investimentos são decididos com base nas
expectativas de retornos futuros. O Brasil continua sendo uma economia grande
com um enorme mercado consumidor. Um pouco empobrecido, é verdade, mas segue
tendo um PIB superior a todos os demais países da América do Sul somados. O PIB
de São Paulo equivale ao da Argentina. O do RS, a soma da Bolívia, Paraguai e
Uruguai. Ou seja, há mercados e consumidores. Historicamente recebemos mais
investimento estrangeiro, proporcionalmente ao PIB, que os demais países que
formam o BRICS e isso desde 1996.
Conversando com investidores externos e gestores de
fundos de investimento (private equity), suas expectativas estão alinhadas a
esses parâmetros: potencial do Brasil a longo prazo, o tamanho do mercado
brasileiro e as vantagens comparativas frente a outros países e regiões,
especialmente no agronegócio. Ou seja, há uma potencial reversão da situação de
investimento privado no Brasil. Em o próximo governo garantindo os 3 Cs:
coerência, constância e comprometimento, é viável uma retomada do investimento
e do crescimento.
Mas isso é o setor privado, pelo lado do governo uma
retomada dos investimentos deverá demorar muito mais. O endividamento do setor
público (União, estados, municípios e as empresas estatais)1 atingiu, em 2015,
preocupantes 46% do PIB quando era 27%, em 2002 quando o PT iniciou seu
governo. Se o governo pós dilma for minimamente responsável deverá reduzir as
despesas correntes antes de se aventurar novamente a promover investimentos.
Decorre daí um cenário auspicioso: a falta de recursos do governo pode
obrigá-lo a privatização e orientar menos os investimentos através dos bancos
públicos, cabendo ao setor privado com sua lógica de mercado investir. Essas
duas ações levam-nos a investimentos de acordo com o que o mercado busca,
portanto, em caso de prejuízo, o ônus não é dos pagadores de impostos.
Devemos, naturalmente, vigiar atentamente o novo governo.
A tentação de se tornar populista, emitir moeda, criar déficits fiscais é
sempre muito grande. Soma-se a isso que a futura oposição, que se não é
majoritária, sabe armar protestos, fazer barulho e cuspir.
Vimos que o caminho para uma economia estável é demorado
e difícil. Quantos anos levamos para conquistar o tal grau de investimento e
quão rápido foi perdê-lo. Ou ainda, em apenas 15 anos um país rico, a
Venezuela, se torna um dos mais pobres da América Latina. Ou seja, o desvio
para o fracasso é rápido. Imaginar que o governo é a solução, apenas precipita
isso.
Por André Burger, economista.