Para um certo público meio obnubilado, Lula iria
desmontar o juiz Sérgio Moro no interrogatório de Curitiba. O senador Lindbergh
Cury (PT-RJ) previu que Lula ira "arrebentar".
Toda vez que o ex-presidente está em apuros ele tira da
manga a carta infalível: perora sobre as realizações gloriosas do seu governo,
os milhões de brasileiros que ele tirou da miséria, e coisa e tal. Mas desta
vez não funcionou. A grande imprensa insiste em dizer que não houve vencido nem
vencedor no embate. Se embate houve - um interrogatório criminal não é um
embate - então o vencedor foi o juiz Moro.
E venceu fazendo o simples: leu o processo, se preparou,
alinhou perguntas, explorou contradições do réu, tudo em tom calmo, civilizado
e respeitoso. Lula foi surpreendido com a frieza e a contundência do
magistrado. E ao menos nos primeiros momentos, sentiu os golpes e cambaleou.
Se recompôs um pouco, mas no conjunto da obra, se não por
nocaute, perdeu por larga margem de pontos. Essa a verdade: Lula se saiu muito
mal, pela razão singela de que, na circunstância, é preciso ter algum resquício
de razão. Esperteza não basta. Lula se enrolou no próprio mito. Pareceu-lhe que
não cairia bem para o "pai dos pobres" ter um apartamento de frente
para o mar. E, claro, fez o diabo para esconder que se tratava de um regalo da
empreiteira OAS, do empreiteiro amigo Léo Pinheiro, em pagamento de favores
recebidos e a receber.
No interrogatório, Lula afirmou que Marisa Letícia, a
falecida esposa, não gostava de praia, porém quis comprar o apartamento “talvez
para investimento". Só veio a saber bem depois que a mulher tinha ido a
Guarujá encontrar Léo Pinheiro, e desta vez apenas para avisar que estava fora
do negócio. Na versão mambembe do depoente, o principal executivo da OAS, se
travestiu momentaneamente de corretor de imóveis - daqueles chatos - e insistiu
na venda do triplex. Lula desconhecia as tratativas de Marisa com Pinheiro para
uma reforma e obras no apartamento.
Nos assuntos de governo, pressionado, Lula nunca sabe de
nada. Descobrimos agora que ele também não sabia de nada do que ocorria em sua
própria casa. Se houve algum problema no governo, a culpa era dos
"aloprados", dos outros. Em casa, a culpa era de Marisa Letícia. No
primeiro caso, bem, é assim com os políticos: a culpa é sempre dos outros. No
segundo caso Lula não se constrange de incriminar a própria mulher, já
falecida. No estilo do jornalista Ancelmo Gois, de O Globo: parece falta de
caráter. E é.
Para Lula, os assaltos praticados na Petrobras nos
governos do PT não lhe diziam respeito: "eram assunto interno da
companhia". E para tirar o dele da reta, aparentando falsa modéstia - logo
ele um gabola de carteirinha -, revelou que "não tinha nenhuma influência
no PT".
Este foi um só depoimento. Lula tem uma leva de
interrogatórios pela frente, mais de dez. Agora, o ministro Edson Fachin, do
STF, abriu o sigilo das delações dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura.
É arrasador. Não sobra pedra sobre pedra para Lula e Dilma.
Eles - da turma de Lula e Dilma - costumam desafiar os
adversários: "não passarão". E eles passarão?
titoguarniere@terra.com.br