Artigo, Alon Feuerwerker, FSB Inteligência - Se o duelo Bolsonaro-Macron é um jogo de ganha-ganha, quem são os perdedores ?
À medida que a fumaça (sem ironia) da batalha se dissipa,
fica claro: a disputa entre Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron leva jeito de
ganha-ganha. O francês afagou seus agricultores e lustrou o figurino de líder
mundial na luta pela salvação do planeta. Já o brasileiro reagrupou as tropas.
O ambientalismo é a corrente política ascendente na Europa. E o apoio das
Forças Armadas é um passaporte para a estabilidade do governante no Brasil.
Bolsonaro terminou bem a semana. Além de varrer do
noticiário os resmungos internos, sempre em off, pelo tratamento sem deferência
dispensado aos militares graduados palacianos, parece ter fechado um acordo de
procedimentos com Sergio Moro. E este leva jeito de ter percebido que não lhe
convém sair do governo. Deixaria sua tropa exposta a retaliações. E, após as
manchetes lácrimo-laudatórias, ou iria para o ostracismo ou viraria coadjuvante
de João Doria.
Coadjuvante por coadjuvante, melhor ser do presidente da
República.
Do lado de Macron, o protagonismo ambientalista ajuda-o
também a receber um olhar mais condescendente nos problemas internos. O chefe
do Eliseu foi neste episódio um mestre no manejo do “jornalismo de causas”.
Funciona assim: Se você defende uma causa pré-definida como certa, você está
certo a priori em qualquer debate relacionado à causa em questão. E não só. Aos
amigos, tudo; aos inimigos, nem o manual da redação.
No campo bolsonarista, ganharam muitos pontos os
militares, cujos líderes foram os únicos a repudiar expressamente a proposta
macroniana de abrir o debate sobre a internacionalização da Amazônia. Já
registrei aqui mas não custa repetir. A bandeira “A Amazônia é nossa”, que
enfeitou por décadas os ambientes da esquerda, hoje está pendurada como troféu
de guerra nas paredes da direita. A raiva é uma péssima conselheira, sempre
costuma lembrar o ex-presidente Lula.
Mas, e o risco de isolamento global? No momento é baixo.
A força da agropecuária nacional leva França e Irlanda a resistir à invasão do
agronegócio brasileiro. Mas para a Alemanha a abertura aqui do mercado de
compras públicas e para importar manufaturados é um negócio irresistível. Cada
um com seus problemas, deve ter pensado Frau Merkel diante da belicosidade
verbal de Monsieur Macron. Ainda que ela também esteja sob pressão dos Verdes.
Bolsonaro move-se em circunstâncias geopolíticas
favoráveis. Interessa aos Estados Unidos manter o Brasil sob seu guarda-chuva,
pois a alternativa é o deslocamento brasileiro para mais perto da órbita da
China. E se Trump perder a eleição? Aí teríamos um replay das tensões entre
Jimmy Carter e Ernesto Geisel. Bem, nesse caso sempre restará a carta chinesa
para colocar na mesa. Como Geisel manejou a carta alemã. E, afinal, cada dia
com sua agonia.
Por falar em carta chinesa, veio da embaixada da China em
Brasília o apoio verbal mais musculoso ao Brasil no caso dos incêndios
amazônicos. Fica a dica.
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O presidente disse que vai vetar coisas na Lei de Abuso
de Autoridade. Aí caberá a Moro lutar no Congresso Nacional para evitar a
derrubada. Vetos são derrubáveis pela maioria absoluta dos deputados (257) e
senadores (41). Quanto Bolsonaro vai se meter nisso? Mais provável é que se
meta pouco, muito pouco. Já está claro que ele dá um boi para não entrar numa
briga com o Legislativo, e dá uma boiada para sair.
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A economia dá sinais de retomada lenta. Mas os empregos
gerados são por enquanto poucos e de baixa qualidade. O que vai pesar mais no
povão na hora de avaliar o governo? As coisas estarem melhorando? Ou elas
melhorarem pouco e devagar? Façam suas apostas.